50366 - A VIOLÊNCIA NO COTIDIANO DO PROFISSIONAL DA ENFERMAGEM EM TEMPOS DE PANDEMIA DA COVID-19 STEPHANIA MENDES DEMARCHI - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, JEREMIAS CAMPOS SIMÕES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, ERIKA MARIA SAMPAIO ROCHA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, RITA DE CÁSSIA DUARTE LIMA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, JEANINE PACHECO MOREIRA BARBOSA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, DHERIK FRAGA SANTOS - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, FABIANA TURINO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, ARIANE SILVA CARVALHO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, MANUELLA RIBEIRO LIRA RIQUIERI - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, MARIA ANGÉLICA CARVALHO ANDRADE - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
Apresentação/Introdução O trabalhador de enfermagem encontra-se em situação peculiar decorrente do enfrentamento à pandemia de Covid-19, tendo como destaque as ações da enfermagem de vigilância, prevenção, controle da transmissão do vírus, assistência direta aos enfermos, produção de pesquisas e orientações à comunidade. Essas ações geram sobrecarga de trabalho, e há outras demandas provocadas pela alta taxa de contaminação do vírus (MIRANDA et al., 2020).
Além disso, o Brasil foi o país que mais deixou morrer profissionais de enfermagem devido a contaminação pelo coronavírus, no ano de 2020, 20,2% dos óbitos dos profissionais dessa categoria trabalhavam no país, 13,4% trabalhavam no Estados Unidos, 7,4 % na Espanha e 5,8% na Itália (BENITO et al, 2020). Assim, este estudo tem como objetivo discutir a experiência e desafios dos profissionais de enfermagem em tempo de pandemia na perspectiva teórica de Marie-France Hirigoyen sobre a violência perversa (2011) e o abuso de fraqueza e outras manipulações (2014).
Objetivos Discutir a experiência e desafios dos profissionais de enfermagem em tempo de pandemia na perspectiva teórica de Marie-France Hirigoyen sobre a violência perversa e o abuso de fraqueza e outras manipulações
Metodologia Esta pesquisa, baseia-se em uma abordagem qualitativa e descritiva utilizando a análise de conteúdo (Bardin, 1977) para análise dos dados.
A obtenção de dados se deu utilizando-se esse método, e isso foi realizado após a aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética do Centro de Ciências da Saúde da UFES. Número do parecer 5.469.019. Os critérios de inclusão foram ser profissionais da enfermagem, do sexo feminino, serem funcionárias efetivas da instituição e estiveram trabalhando no período da pandemia. Seguiram-se os seguintes critérios de exclusão: Profissionais afastadas antes da pandemia (licença sem vencimento, licença por motivo de saúde) e profissionais de outras categorias que não aquelas incluídas na população elegível. As entrevistas foram realizadas entre dia 20 de julho de 2022 a 12 de outubro de 2022. Foram entrevistadas 40 mulheres profissionais de enfermagem. Optou-se por utilizar entrevistas com roteiro semiestruturado e diário de campo.
Resultados e Discussão Inúmeros foram os desafios ocasionados pela pandemia mencionados pelas trabalhadoras de enfermagem como: lidar com uma doença desconhecida, problemas com o uso de equipamentos de proteção individual (seja uso excessivo ou a faltas deles), os óbitos, a falta de profissional e estrutura, gestão ineficaz ou desumanizada, mudanças de rotina, afastamento familiar e social e assédio e preconceitos. Com base no referencial teórico de Marie-France Hirigoyen, nos livros “Abuso de Fraqueza e outras manipulações” (HIRIGOYEN, 2014), “Assédio Moral: a violência perversa no cotidiano” (HIRIGOYEN, 2011) e “Mal-Estar no trabalho: redefinindo o assédio moral” (HIRIGOYEN, 2002). Os resultados são apresentados em duas categorias: a) A violência perversa no cotidiano do trabalho, e b) As relações perversas no cotidiano social.
Os discursos mostram a violência perversa no cotidiano do trabalho. O abuso de poder e a manipulação perversa que se instala de forma mais insidiosa e causa graves consequências para as trabalhadoras de enfermagem. Diante de todas as agressões, as trabalhadoras voltam para casa exaustas, humilhadas e deprimidas, com dificuldade de se recuperarem (HIRIGOYEN, 2011)
As pesquisas sobre a enfermagem na pandemia demonstram que já existiam diversos desafios que a esta profissão enfrentava em sua prática, somados ainda os novos provocados pela pandemia, o que gera problemas de saúde nos trabalhadores. O que fica evidente é que pandemia desmascarou a desvalorização da categoria, a inadequação de infraestrutura e condições de trabalho que estes profissionais são cotidianamente submetidos (PAIXÃO et al., 2021).
Conclusões/Considerações finais Nesse contexto, devemos repensar a humanização da gestão local e nacional em relação a essa categoria, a falta de direitos que estão sendo regidas pelo estado brasileiro, e qual a responsabilidade com a saúde dessas trabalhadoras, tornando-se um compromisso social de cuidar de quem cuida. Além disso, devemos como sociedade repensar a qualidade de vida do grupo, que é composto principalmente por mulheres.
Dessa forma, falar de melhorias nas condições de trabalho e garantir direito da enfermagem é também garantir direito e melhora na qualidade de vida desse gênero, já tão sobrecarregado. Nessa perspectiva, as pesquisas e trabalhos científicos futuros devem explorar ainda mais a temática das consequências dos desafios que a Covid-19 provocou nesses trabalhadores, quais foram as implicações em suas rotinas, na saúde emocional e física, na forma como enxergam a sua profissão.
Referências MIRANDA, F. M. D’A. et al. Condições de trabalho e o impacto na saúde dos profissionais de enfermagem frente a Covid-19. Cogitare Enfermagem, v. 25, 2020.
BENITO, L.A.O. et al. Mortalidade de profissionais de enfermagem pelo Covid-19 no Brasil no primeiro semestre de 2020. Revista de Divulgação Científica Sena Aires, v. 9, 2020, p. 656-668.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70,1977.
HIRIGOYEN, M.F. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano. 13° ed.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011
HIRIGOYEN, M.F. Mal-estar no trabalho: Redefinindo o assédio moral. 5ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
HIRIGOYEN, M.F. Abuso de fraqueza e outras manipulações. 1° ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014.
PAIXÃO, Gabriel Levi de Souza et al. Estratégias e desafios do cuidado de enfermagem diante da pandemia da covid-19. Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 2, p. 19125-19139, 2021.
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