Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC8.15 - E como fica a saúde do trabalhador?

49311 - A COVID 19 FRENTE A SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NA CAPITAL DO AMAZONAS.
ELLEN CRISTINE DE OLIVEIRA SILVEIRA - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS, VIVIANNE BRANDT PEREIRA BRASIL - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS, REBECA ARCE GUILHERME - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS, ISABELA CRISTINA DE MIRANDA GONÇALVES - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS


Apresentação/Introdução
Em dezembro de 2019 começou-se a noticiar uma certa pneumonia com agravamento rápido, o país onde houve o início e aumento de casos foi a China. Em fevereiro de 2020 a Organização Mundial de Saúde nomeia essa nova patologia como Covid-191. No Brasil foi considerada como emergência de saúde pública em 3 de fevereiro de 2020, prejudicando condições sociais e de trabalho2. Os mais afetados diretamente no início da pandemia foram os profissionais de saúde, devido ao aumento da carga horária de trabalho, tanto pela situação pandêmica, como o contato direto com o vírus e o adoecimento de colegas de profissão, o que fazia com que profissionais dobrassem plantões e aumentassem a carga horária de atendimentos, além da escassez de equipamentos de proteção individual e falta de ambiente adequado para trabalhar2. No final de 2020, mais de 3,5 milhões de trabalhadores de saúde se dirigiam a hospitais e unidades de saúde para atendimento à população, o que traz a reflexão “quem cuida de quem está cuidando?”2. O estado do Amazonas sofreu um colapso nos meses de fevereiro a maio de 2021, com escassez de insumo e esgotamento físico e mental de profissionais de saúde2. Devido a agilidade do vírus foram realizadas inúmeras ações para enfrentamento da patologia, porém a saúde mental dos profissionais que estavam na linha de frente foi sendo deixada de lado3.

Objetivos
Avaliar a saúde mental de profissionais de saúde no contexto da pandemia pela Covid-19; analisar de acordo com os problemas levantados o impacto na saúde mental dos profissionais de saúde.

Metodologia
Trata-se de um estudo que teve como lócus de investigação a capital Manaus. Sendo caracterizado como um estudo descritivo e explanatório, transversal e de abordagem quantitativa. Realizado a partir de dados primários, onde foi possível uma investigação sobre a saúde mental de profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS) atuantes no período pandêmico em Manaus entre os anos de 2020 e 2021. Os sujeitos do estudo foram médicos, enfermeiros e dentistas de unidades de saúde que foram referência no atendimento a COVID-19 no período supracitado. A coleta de dados teve início em maio de 2023 de forma presencial durante o intervalo entre as consultas dos profissionais que consentiram participar do estudo. O instrumento para a coleta de dados utilizado foi um questionário estruturado específico com questões direcionadas à saúde mental de profissionais de saúde da APS durante a pandemia. Os dados foram analisados em duas etapas: descritiva e analítica. O nível de significância estatística adotado foi de 5% para a associação entre as variáveis no teste do χ2. O projeto encontra-se aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade do Estado do Amazonas (parecer nº 5.006.513).

Resultados e Discussão
Foram realizadas 16 perguntas que abordavam o tema da saúde mental com 104 profissionais das unidades da APS de Manaus. Quando se perguntou “Em decorrência do contexto de adoecimento epidêmico da COVID-19 e de sua atuação nessa unidade você buscou atendimento de psicólogo ou psiquiatra de modo presencial ou on line durante a pandemia?”, 78,6% dos participantes responderam que nunca houve a busca, porém os outros profissionais buscaram ajuda psicológica. Isso demonstra que existe uma “resiliência psicológica” por parte dos profissionais de saúde considerada como uma inclinação presente quando se enfrentam situações desafiadoras ou arriscadas, permitindo uma adaptação, apesar dos fatores ao redor serem preocupantes4. Os participantes que buscaram ajudam por meio de apoio profissional corroboram com outros estudos que afirmam a importância da saúde mental no cotidiano dos serviços de saúde2,3,4. Ao ser questionado sobre problemas de produtividade no trabalho, dificuldades para dormir, dificuldade de concentração, sentir falta de esperança sobre o futuro, em sua maioria os participantes informaram que não sentir ou ter nenhuma dessas características. Quanto ao cansaço, 55,4% dos participantes informaram que se sentiam assim. A dinâmica acelerada da pandemia demandou uma reestruturação na base dos serviços de saúde e, sobretudo, um aumento na quantidade de profissionais para atender às necessidades em todos os níveis de atenção à saúde culminando em estresse, estafa e fadiga física5. Sobre a sensação de bem-estar, 60,2% dos profissionais responderam que se sentiam bem, porém esse dado se torna diferente de outros estudos que no decorrer da sua escrita informam o desgaste mental dos profissionais de saúde no período pandêmico2,3,4,5.

Conclusões/Considerações finais
A presente pesquisa corrobora com achados em outros três estudos transversais realizados na China, em que foram identificados resiliência e bom preparo psicológico das equipes no enfrentamento de tamanha crise mundial. Tal resiliência pode ser compreendida como uma estratégia para superação de situações e momentos complexos ou de risco. Os profissionais participantes do estudo, em sua maioria, indicaram o cansaço como tópico de desgaste emocional. O cansaço, a insônia e a privação do sono se relacionam com as jornadas de trabalho aliadas à sobrecarga e estes podem ser considerados preditores para o surgimento de ansiedade e estresse no ambiente de trabalho3. A abordagem da saúde mental voltada para os profissionais da saúde se mostra vital no enfrentamento da invisibilização do tema e de estigmas que ainda permanecem, sobretudo para que sejam formuladas estratégias eficazes diante do surgimento de pandemias como a Covid-19.

Referências
1- Marque R, Silveira A, Pimenta D. A pandemia de covid-19: interseções e desafios para a história da saúde e do tempo presente. Coleção História do Tempo Presente: VOLUME III. ISBN: 978-65-86062-31-1
2- Freitas CM de, et al. Observatório Covid-19 Fiocruz - uma análise da evolução da pandemia de fevereiro de 2020 a abril de 2022. Ciência & Saúde Coletiva. 2023 Oct 23;28:2845–55.
3- Silva MAX da, et al. Fatores de risco à saúde mental dos profissionais da saúde durante a pandemia de COVID-19: revisão sistemática. Ciência & Saúde Coletiva. 2023 Oct;28(10):3033–44.
4- Dantas ESO. Saúde mental dos profissionais de saúde no Brasil no contexto da pandemia por Covid-19. Interface - Comunicação, Saúde, Educação. 2021 Jan 8;25:e200203.
5- Machado, M.H, et al. Condições de trabalho e biossegurança dos profissionais de saúde e trabalhadores invisíveis da saúde no contexto da Covid-19 no brasil. Cien Saude Colet. 2023 Jul.


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