Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC8.14 - Agentes Comunitários: formação e prática

53918 - INTERFACES ENTRE O TRABALHO INTERPROFISSIONAL E OS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.
SARAH GADELHA RIBEIRO - ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ


Contextualização
A literatura internacional aponta o Trabalho Interprofissional como estratégia fundamental para qualificar os serviços da Atenção Primária à Saúde (APS) diante da complexidade das necessidades dos usuários (OMS, 2010). Ademais, o trabalho em equipe é considerado uma estratégia para superar a fragmentação do processo de trabalho em saúde e para garantir melhor qualidade de atendimento aos usuários, visto que as pesquisas indicam que a colaboração interprofissional pode contribuir para ampliar a resolutividade da assistência (PEDUZZI; AGRELI, 2018). Ressalta-se que para desenvolver um cuidado colaborativo é necessário que os profissionais e trabalhadores de saúde desenvolvam competências que possibilitem as práticas colaborativas, orientadas pelo compartilhamento de responsabilidades, na interdependência das ações e pela atenção centrada nas necessidades dos usuários. Nessa perspectiva, destaca-se que a atuação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) é eixo essencial às equipes de Estratégia de Saúde da Família (eSF). Diante disso, buscou-se discutir através de uma palestra expositiva e dialogada, com os ACS de um município, sobre Práticas Interprofissionais Colaborativas (PIC) e o desenvolvimento de competências colaborativas, como a atenção centrada no paciente, a resolução de conflitos e a comunicação interprofissional.

Descrição da Experiência
As palestras, ministradas por uma profissional residente em Saúde Coletiva, foram realizadas para ACS de 03 distritos sanitários de um município do estado do Ceará. Nesta experiência, foi elaborada uma apresentação em slide a fim de facilitar a exposição do conteúdo. Na apresentação, inicialmente foi perguntado aos ACS o que eles conheciam acerca da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS). Em seguida, foi apresentado os pormenores da PNEPS e, também, as interfaces desta política com os princípios e as diretrizes do SUS. Posteriormente, iniciou-se a discussão sobre os desafios nos sistemas de saúde, a fragmentação do processo de trabalho e o avanço dos estudos relacionados às PIC. Além disso, foi explicado o conceito de Colaboração Interprofissional e também as principais características do trabalho em equipe. Nesse sentido, buscou-se fomentar a reflexão de como os ACS são parte fundamental na composição das equipes que atuam na APS. Por fim, foi elucidada a necessidade do desenvolvimento das competências colaborativas, evidenciando a importância de estabelecer a atenção centrada no usuário, a comunicação interprofissional e a resolução de conflitos. Ressalta-se que, ao longo da apresentação, alguns questionamentos foram levantados aos ACS a fim de provocar uma reflexão crítica acerca do processo de trabalho

Objetivo e período de Realização
O objetivo destas palestras foi incentivar a discussão sobre PIC e fornecer subsídios para qualificar o processo de trabalho do ACS a fim de possibilitar melhorias na assistência à saúde dos usuários. Ademais, foram ministradas 03 palestras nos dias 16, 17 e 23 de agosto de 2023, sendo realizada 01 apresentação por dia com duração de 45 minutos. Estiveram presentes, respectivamente, 65, 57 e 63 ACS ao longo das 03 datas.

Resultados
Como resultado, pontua-se o desenvolvimento de ações de Educação Permanente por meio das palestras realizadas pela residente de Saúde Coletiva. Ademais, foi possível fomentar a reflexão acerca do processo de trabalho do ACS no contexto do trabalho em equipe. Além disso, foi possível estimular a análise de como o trabalho interprofissional pode impactar positivamente na qualidade da assistência à saúde. É imprescindível destacar que os ACS apontaram desconhecimento acerca da PNEPS e das temáticas sobre as PIC. Dessa forma, os ACS expressaram a importância da palestra e ressaltaram a necessidade de que os demais trabalhadores e profissionais de suas respectivas unidades também tivessem acesso ao conteúdo apresentado. É importante pontuar, também, que as turmas sinalizaram que a gestão municipal e a gerência das unidades não oferecem condições de trabalho favoráveis às práticas colaborativas, o que desencadeia dificuldades na comunicação e conflitos interpessoais. Por fim, é importante salientar que foram compartilhadas estratégias relacionadas à comunicação no intuito de desenvolver uma comunicação mais efetiva, que gere menos ruídos e conflitos, no processo de trabalho.

Aprendizado e Análise Crítica
Esta experiência foi de extrema relevância, visto que, apesar da ascensão dos estudos acerca do trabalho interprofissional, ainda há a necessidade de ampliar as discussões e de produzir mais estudos sobre as PIC no contexto da APS. Além disso, como salientado anteriormente, foi possível observar a necessidade de que essa discussão seja inserida no cenário de trabalho dos ACS, visto que estes são força de trabalho fundamental para garantir a interprofissionalidade, todavia, pouco conheciam sobre o assunto. Deste modo, percebe-se a importância de que a gestão municipal garanta ações de Educação Permanente a fim de qualificar os profissionais e trabalhadores de saúde e, consequentemente, oferecer serviços eficientes e garantir a integralidade do cuidado. Ademais, identificou-se, por meio do diálogo com os ACS, que a fragilidade da comunicação entre os profissionais e a fragmentação dos processos de trabalho são desafios latentes que precisam ser superados. Diante disso, é imprescindível mencionar que a APS no Brasil preconiza o trabalho em equipe por meio da clínica ampliada, do cuidado integral, humanizado e longitudinal. Logo, pode-se afirmar que as PIC podem fortalecer a APS através da integração entre os saberes e as práticas de saúde, desencadeando a redução de práticas com ênfase uniprofissional e da forte divisão do trabalho em saúde.

Referências
D’AMOUR, D. et al. The conceptual basis for interprofessional collaboration: core concepts and theoretical frameworks. Journal of interprofessional care, v. 19, suppl 1, p. 116-131, 2005. GIOVANELLA, L.; MENDONÇA, M. H. M. de. Atenção Primária à Saúde. In: GIOVANELLA, L. et al. (org.). Políticas e sistemas de saúde no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2012. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Marco para Ação em Educação Interprofissional e Prática Colaborativa. Genebra: OMS, 2010. PEDUZZI, M.; AGRELI, H. F. Trabalho em equipe e prática colaborativa na atenção primária à saúde. Interface: Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 2, supl. 22, p. 1.525-1.534, 2018. REEVES, S.; XYRICHIS, A.; ZWARENSTEIN, M. Teamwork, collaboration, coordination, and networking: Why we need to distinguish between different types of interprofessional practice. Journal of Interprofessional Care, v. 32, n. 1, p. 1-3, 2018.


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