53468 - METODOLOGIA ATIVA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE: RISCOS E VULNERABILIDADES A SAÚDE E AO MEIO AMBIENTE ANA BEATRIZ PINHEIRO FERREIRA - UFF, MARILEI DE MELO TAVARES - UFF, THIAGO NOGUEIRA SILVA - UFF, RODRIGO MONTEIRO DOS SANTOS BANDEIRA - UFF
Contextualização São José de Ubá, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, é o segundo menor município do estado do Rio de Janeiro, tendo uma população de 7.070 habitantes, uma área territorial de 249,688 km², com mais de 60% de seu território em zona rural, sendo um dos maiores produtores de tomate salada do Brasil e o segundo maior produtor do Estado do Rio de Janeiro, com mais de 285 produtores rurais atuando diretamente na agricultura, elevando significativamente esse número ao considerar a agricultura familiar. A plantação de tomate requer muitos esforços, devido a fragilidade dessa fruta às condições do solo, clima e uma extrema sensibilidade as pragas, o que torna esse trabalho muito exaustivo e arriscado, somando ao fato do Município não ter uma cooperativa ou uma organização que cuide dos interesses dos produtores e dos valores justo de mercado para a safra do tomate e principalmente pelo uso desordenado de agrotóxicos. O Brasil é um dos países que mais utiliza agrotóxicos no mundo. Através de visitas domiciliares os Agentes Comunitários de Saúde - ACS conseguem chegar a um nível de vínculo forte e estabelecido com os usuários, portanto conhecer e saber identificar fatores de risco, vulnerabilidades e danos a saúde se torna crucial para a efetividade do cuidado.
Descrição da Experiência : A concepção deste relato surgiu a partir de uma constatação crítica de uma necessidade local, trazida durante o Curso do Programa Saúde com Agente. Metodologicamente, este curso veio de uma parceria entre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Conasems e o Ministério da Saúde. No contexto de um dos encontros presenciais, discutimos sobre os Determinantes Sociais de Saúde e Fatores de Risco. Por conseguinte, questões sobre os agricultores e as contaminações de solo, ar e água pelo uso indevido de agrotóxico, foram lançadas a mesa. Os conteúdos teóricos demonstraram possibilidades de inserção e atuação do ACE no campo da prevenção e recuperação de situações de riscos de degradação ambiental. Foi então apresentado aos ACS a Ficha de Notificação Compulsória para levantamento dos seguintes questionamentos: Existe atividade de risco ambiental em seu território tais como: uso de agrotóxicos, queimadas, desmatamentos, falta de acesso a saneamento básico, morros com risco de desabamento, casas construídas em locais de risco ou outro? Identifique se existem pessoas em situação de vulnerabilidade ambiental; Explique por que você entende que há uma situação de vulnerabilidade ambiental ao que a pessoa está vulnerável e por quê? Qual seria uma atividade que você ACS poderia planejar e executar para auxiliar as pessoas em vulnerabilidade?
Objetivo e período de Realização Desenvolver habilidade nos ACS em reconhecer o conceito de risco e vulnerabilidade, bem como discutir os principais determinantes à saúde da população e as diversas formas de avaliar e priorizar as ações por meio das vigilâncias. Essa atividade foi realizada no ano 2023.
Resultados Com a explanação do assunto, respostas foram avaliadas por grupos de ACS que fazem divisa entre seus territórios e planejada uma ação a partir dos fatores de risco e vulnerabilidades encontrados em comum entre os grupos formados. Com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde, os ACS que trabalham na zona rural realizaram uma tarde de visita nas lavouras durante o período da safra, contando com a presença da equipe do Núcleo de Assistência a Saúde da Família - NASF. Realizaram a distribuição de folhetos informativos sobre Intoxicação por Agrotóxico, alertando sobre os sinais e sintomas mais comuns, entrega de alguns materiais de Proteção Individual, palestra com a Psicóloga sobre o descarte ambientalmente adequado das embalagens dos agrotóxicos usados e um café com roda de conversa dentro dos “barracos” construídos pelos próprios produtores. Os ACS que não possuíam território em zona rural, a ação foi realizada nas escolas, abordando o mesmo tema, porém com cuidados na higienização de alimentos, para atingir as famílias através das crianças.
Aprendizado e Análise Crítica : Atuar na atenção básica é essencial para notificação de doenças e agravos decorrentes da exposição aos agrotóxicos e dar a oportunidade de ACS adquirirem formação teórica adequada e espaço de fala oportunizou agora profissionais empoderados, realizando uma ação em saúde desde a identificação do risco, planejamento até a promoção das atividades, atuando como protagonista do cuidado, culminou numa experiência exitosa. Nisso, os ACS que antes tinham apenas metas de visitas a serem alcançadas, agendamentos de consultas, acompanhamento de equipe, distribuição de folder nos eventos, hoje participam do processo de territorialização e mapeamento da área de atuação da equipe, identificando grupos, famílias e indivíduos expostos a riscos de intoxicação por agrotóxicos, inclusive aqueles relativos ao trabalho, a exemplo de agricultores(as) familiares; realizam busca ativa de casos e alertam a equipe da Unidade Básica de Saúde da necessidade de notificação dos casos suspeitos de intoxicação no Sinan; alertam aos aplicadores de agrotóxicos sobre a importância do uso de equipamentos de proteção individual (EPI), conforme recomendações do rótulo e bula do produto; conversam com as comunidades sobre os riscos da presença de populações vulneráveis nos locais de aplicação de agrotóxicos, especialmente durante a aplicação. Transformadores de realidade, agregando excelência no cuidado.
Referências ALMEIDA, R. F., Santos, M. A., Lima, R. L., & Oliveira, T. F. (2017). Educação permanente e empoderamento dos agentes comunitários de saúde: reflexões sobre identidade e transformação social. Revista Brasileira de Educação Médica, 41(1), 79-85.
SILVA, A. B., Souza, L. F., Rodrigues, M. J., & Oliveira, D. S. (2019). A importância da educação permanente na atuação dos agentes comunitários de saúde. Revista Brasileira de Educação em Saúde, 5(1), 63-70.
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Editora Paz e Terra, São Paulo, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Paz e Terra, São Paulo,1996.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Brasileiro de 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2023.
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