53327 - A VIOLÊNCIA E O PROCESSO DE TRABALHO DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE EM UMA CAPITAL DO NORDESTE DO BRASIL FRANKLIN DELANO SOARES FORTE - UFPB, ARDIGLEUSA ALVES COÊLHO - UEPB, JEANN MATEUS GONZAGA DOS SANTOS - UFPB, ANYA PIMENTEL GOMES FERNANDES VIEIRA-MEYER - FIOCRUZ/CEARÁ
Apresentação/Introdução A violência comunitária se caracteriza como um fenômeno que envolve uma dimensão interpessoal entre duas ou mais pessoas que se conhecem ou não, fora do ambiente doméstico (Krug et al., 2002), apresentada como um fator de risco para os profissionais de saúde, principalmente aqueles que exercem atividades em meio aberto junto à comunidade (Bussing e Hoge, 2004; Lancman et al., 2009). Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) têm sido apontados, nesse sentido, como uma categoria particularmente exposta à violência, principalmente pela característica do seu trabalho, uma vez que atuam na ponta dos serviços, estabelecendo uma relação direta com a população, através da mediação da linguagem técnica própria do campo da saúde com os saberes e experiências locais, na conciliação de diferentes demandas e conflitos apresentados (Alonso et al., 2018, Vieira-Meyer et al., 2021, Almeida et al., 2019), como a violência.
As violências referidas pelos ACS têm comprometido a organização de seu trabalho e as ações de prevenção e promoção da saúde da população assistida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) (Vieira-Meyer et al., 2021).
Portanto, torna-se estratégico e necessário investigar a violência e o processo de trabalho do ACS.
Objetivos Identificar a exposição de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) à violência comunitária no processo de trabalho.
Metodologia Estudo de natureza quantitativa, desenho transversal, descritivo-analítico. É um recorte da pesquisa multicêntrica “Resiliência dos Sistemas de Saúde Frente à Covid-19 e à Violência Urbana na perspectiva do Agente Comunitário de Saúde”.
O atual estudo teve como cenário município de João Pessoa-PB. Os participantes foram Agentes Comunitários de Saúde do quadro funcional e com seis meses ou mais de atuação nas unidades de atenção primária à Saúde no município, recrutados em reunião, para convidá-los a participar do estudo e esclarecer sobre a pesquisa, nas Unidades de Saúde da Família (USF) de sua atuação. E aqueles, que aceitaram voluntariamente responderem ao questionário, foi solicitado a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no momento da coleta dados.
A coleta de dados foi realizada com Aplicação de Questionário sobre violência aos ACS nas próprias USF. Os dados foram tabulados, considerando para variáveis contínuas foi calculado média aritmética ± “desvio padrão” da média; mediana e frequência relativas para as variáveis categóricas. O protocolo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário UniChristus.
Resultados e Discussão Os participantes do estudo foram 305 ACS, com idade entre 34 e 69 anos (média = 46,92; DP=8,1); mediana= 46 anos), a maioria na faixa etária 34 a 49 anos (64,6%), sexo feminino (75,3%) e raça/cor autorreferida parda (64,0%).
Quanto a exposição do ACS a violência, observa-se que para 37,3% dos entrevistados a violência está presente ou muito presente na sua comunidade de atuação, expressa sob a forma de violência urbana/comunitária (87,2%), violência doméstica (32,5%) e violência institucional (14,1%). Os ACS referiram que violência infere na execução de trabalho (33,4%) e afirmaram ter presenciado (65,9%) ou sofrido (51,8%) algum tipo de violência durante a execução do trabalho na USF, respectivamente. Notou-se que 26,9% dos ACS referiram a violência como motivo para deixar de acompanhar famílias, de ir sozinho(a) a uma visitação, ou transferiu esse acompanhamento por outro(a) ACS, 37,7% dos ACS relataram que a exposição a violência em seu trabalho afeta o afeta muito a saúde mental e 27,9% reportaram o uso de medicação para controle emocional.
A exposição à violência no trabalho do ACS não é uma situação vivenciada apenas no município de João Pessoa-PB. Estudo realizado em três municípios paulistas, envolvendo trabalhadores da Estratégia Saúde da Família mostrou que a exposição à violência atingiu de forma prioritária os ACS (Lancman et al., 2009), em função da presença de violência urbana no território de atuação relacionadas a grupos, facções e outros determinantes sociais e econômicos (Almeida et al, 2019). Importante fortalecer o trabalho em equipe e implementação de estratégias de educação permanente e de saude do trabalhador .
Conclusões/Considerações finais A violência é uma realidade no processo de trabalho dos ACS no contexto estudado, que pode ser visualizada, principalmente, pela violência urbana, expondo a vulnerabilidade do território da atuação do ACS a situações de violência, que de certa forma, interferi na execução das atividades de trabalho e acarreta danos na saúde mental.
A violência ser um fenômeno complexo e o seu enfretamento requer intervenções intersetoriais no âmbito das políticas públicas, além disso, é importante pensar estratégias para minimizar os danos que a exposição à violência no território acarreta à saúde física e mental do ACS.
Nesse sentido, a educação permanente em saúde, com foco na interprofissionalidade, poderia ser uma ferramenta para pensar processos de qualificação para empoderamento não somente do ACS, mas dos demais trabalhadores da APS para se protegerem da violência no cotidiano do trabalho e de suas consequências para saúde do trabalhador (Vieira-Meyer et al., 2023).
Referências Almeida JF et al. O território e as implicações da violência urbana no processo de trabalho dos agentes comunitários de saúde em uma unidade básica. Saude soc. 2019; 28: 207–21
Alonso CMC et al. Trabalho dos agentes comunitários de saúde na Estratégia Saúde da Família: metassíntese. Rev Saúde Pública. 2018; 52:14
Bussing A, Hoge, T. Aggression and Violence against home care workers. J. occup. health psychol 2004; 9: 206-209
Lancman S et al. Repercussões da violência na saúde mental de trabalhadores do Programa Saúde da Família. Rev Saúde Pública. 2009;43: 682-8
Vieira-Meyer APGF et al. Violence and vulnerability of the Community Health Worker in the territory: implications for tackling COVID-19. Ciênc Saúde Colet 2021; 26:657-68
Vieira-Meyer APGF et al. Saúde mental de agentes comunitários de saúde no contexto da COVID-19. Ciênc Saúde Colet 2023; 28: 2363-2376
Fonte(s) de financiamento: Edital Programa Inova Fiocruz Inova COVID-19 longa e recuperação pós-pandemia No 10/2022. Programa PMA FIOCRUZ. Programa de Iniciação Científica da Universidade Federal da Paraíba/CNPq
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