51233 - FISIOTERAPEUTAS NA LINHA DE FRENTE AO DESCONHECIDO: CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE NO ENFRENTAMENTO À PANDEMIA DE COVID-19 JOSE HENRIQUE DE LACERDA FURTADO - ENSP-FIOCRUZ/SOBRAPIS, FRANCISCA PAULA DE LACERDA FURTADO - IFRJ, CAIO RAMON QUEIROZ - UNIFOA, LUCIANO SANTOS DA SILVA FILHO - GPVT-UECE/SOBRAPIS, JOSÉ MATEUS BEZERRA DA GRAÇA - UFRN, ITALO MARQUES MAGALHÃES RODRIGUES VIDAL - UFC, ANTONIO DIEGO COSTA BEZERRA - UECE/SOBRAPIS, ARIELA TORRES CRUZ - USP/UBM, ANDREA DA NÓBREGA CIRINO NOGUEIRA - EBSERH/UFC, LUCIA ROTENBERG - IOC/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução A pandemia de COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus, tem sido caracterizada por diversos autores como um desafio sem precedentes para a ciência e para a sociedade, cujo enfrentamento exigiu um esforço prioritário de reorganização dos sistemas de saúde, em todos os seus componentes (Medina et al., 2020).
Nesse contexto, a atuação dos fisioterapeutas no enfrentamento à doença foi adquirindo destaque, enquanto membros da força de trabalho em saúde, diante de um cenário catastrófico de acentuação das desigualdades sociais. Além do elevado número de profissionais atuando em unidades hospitalares, foi expressivo o número de fisioterapeutas que também trabalharam em diversas frentes de atuação, chamando a atenção para a sua imprescindibilidade nos diversos níveis de atenção à saúde (FURTADO et al., 2023).
No entanto, apesar da importância reconhecida dos profissionais de saúde neste cenário, faz-se oportuno salientar, ainda, que eles estão entre os que mais vêm sofrendo os efeitos advindos da piora nas condições de trabalho na pandemia. Além do risco elevado para adoecimento, a pandemia trouxe à tona outros problemas como a precarização das condições e dos vínculos de trabalho que, embora já estivessem presentes em grande parte dos sistemas e serviços de saúde, passaram a se revelar de forma mais intensa e naturalizada em função da crise sanitária (CARBAJAL et al., 2020).
Objetivos Diante disso, o presente relato de pesquisa tem como objetivo descrever os efeitos da pandemia de COVID-19 nas condições de trabalho e na autopercepção de saúde dos fisioterapeutas no período de enfrentamento à doença.
Metodologia Trata-se de um estudo transversal, com abordagem quantitativa. Foram incluídos 500 fisioterapeutas, de todos os gêneros, que estivessem atuando no território brasileiro no período de enfrentamento à pandemia de COVID-19, independente do vínculo de trabalho. A seleção da amostra foi realizada por conveniência, utilizando amostragem não probabilística.
A coleta de dados ocorreu no período entre abril e dezembro de 2021, a partir da aplicação de um questionário digital, autoaplicável, abordando questões sobre o perfil sociodemográfico, condições de trabalho e de saúde. O questionário foi oferecido aos participantes por meio de um link de acesso, divulgado em publicações nas redes sociais, mensagens em aplicativos e envio de e-mail.
Os dados obtidos foram organizados para a análise por meio de estatística descritiva, sendo as variáveis quantitativas apresentadas por meio de média e desvio padrão e as variáveis qualitativas apresentadas por meio de frequências absoluta e relativa.
Destaca-se que a coleta de dados somente teve início após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário de Barra Mansa, sob o parecer nº 4.426.836 (CAAE: 40012620.8.0000.5236).
Resultados e Discussão Participaram 500 fisioterapeutas, com média de idade de 31,9 (±7,8) anos, oriundos das cinco regiões brasileiras, sendo as regiões nordeste (38,2%) e sudeste (34%) as mais prevalentes. A maioria eram mulheres (73,6%), de raça branca (54%) e solteiras (48,4%), dados semelhantes a estudos que apontam para a predominância feminina não só na fisioterapia, mas nas profissões relacionadas ao cuidado (Andrade et al., 2021).
Em relação aos vínculos de trabalho, 40,4% relataram o trabalho de forma autônoma, sem vínculo formal, condição considerada a pior forma de contratação, diante da ausência de garantia dos direitos trabalhistas. Além disso, observou-se uma intensificação da jornada de trabalho semanal, antes majoritariamente até 30h (44,8%), chegando a superar as 60h durante a pandemia, em 22,4% dos casos.
No que se refere às condições de trabalho, 51,2% relataram-na como péssimas (13,8%) ou regulares (37,4%) durante a pandemia. Ao compararem o nível de sobrecarga antes e durante o período, em uma escala de 0 a 10, embora 7,8% já relatassem o nível máximo de sobrecarga (10) antes mesmo da pandemia, esse índice aumentou expressivamente para 39%.
Acredita-se que essa intensa sobrecarga experienciada, aliada às condições precarizadas de trabalho, possam estar associadas a altos níveis de ansiedade, estresse e sofrimento mental, os tornando ainda mais vulneráveis ao adoecimento físico e/ou mental, para além do já elevado risco de infecção e morte por COVID-19 (Rotenberg et al., 2022). Não por acaso, notou-se um expressivo aumento entre os participantes que passaram a perceber suas condições de saúde como regulares, passando de 1% para 34,8%, concomitante à queda percentual entre os que percebiam sua saúde como ótimas (de 32% para 15,2%) ou excelentes (de 12% para 6,2%).
Conclusões/Considerações finais Diante do exposto, a pandemia de COVID-19 trouxe à tona inúmeros desafios que embora já presentes no cotidiano de trabalho dos fisioterapeutas participantes, se acentuaram significativamente durante o período pandêmico. Dentre eles, destaca-se o aumento do trabalho informal, sem vínculo empregatício e sem garantia de direitos trabalhistas, a intensificação da sobrecarga de trabalho, bem como a precarização das condições de trabalho em saúde.
Além disso, acredita-se que as vivências experenciadas por esses trabalhadores tendam a deixá-los ainda mais vulneráveis ao adoecimento e morte, evidenciando a ainda insuficiência das medidas de proteção à saúde no trabalho, que precisam ser aprimoradas, sobretudo, diante de emergências sanitárias como a pandemia recente.
Diante disso, espera-se que os achados obtidos possam suscitar reflexões mais aprofundadas sobre a temática, fornecendo subsídios para o planejamento de estratégias de superação das dificuldades enfrentadas nesse contexto.
Referências ANDRADE, C. B. et al. Heroínas e heróis da pandemia? Violências (in) visíveis no trabalho de profissionais de saúde na pandemia da Covid-19. International Journal on Working Conditions, n. 21, 2021.
CARBAJAL, A. B. et al. Working conditions and emotional impact in healthcare workers during COVID-19 pandemic. J. healthc. qual. Res., 2020.
FURTADO, J. H. L. et al. Fisioterapeutas no enfrentamento à pandemia de covid-19: perfil sociodemográfico e profissional. Revista Laborativa, v. 12, n. 1, 2023.
MEDINA, M.G. et al. Atenção primária à saúde em tempos de COVID-19: o que fazer? Cad. Saúde Pública, v. 36, n. 8, 2020.
ROTENBERG, L. et al. Sofrimento mental e trabalho na pandemia de covid-19: com a palavra, profissionais da saúde de UTIs e emergências no Rio de Janeiro. In: PORTELA, M. C.; REIS, L. G. C.; LIMA, S. M. L. eds. Covid-19: desafios para a organização e repercussões nos sistemas e serviços de saúde. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2022.
Fonte(s) de financiamento: Financiamento próprio.
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