51106 - TECENDO CUIDADO: UM RELATO DE PROMOÇÃO DE SAÚDE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA JÚLIA REGINALDO DE OLIVEIRA - UNESP, RAPHAEL MENDONÇA FRANCISCO - UNESP, GUILHERME CORREA BARBOSA - UNESP, JULIANE ANDRADE - UNESP
Contextualização O Grupo TECER é um projeto de extensão universitária que une graduação e pós-graduação da Faculdade de Medicina da UNESP Botucatu, com o objetivo de realizar práticas e aproximações teórico-metodológicas entre o acompanhamento terapêutico e a produção de vida por meio de atividades do cotidiano. Desta forma, pretende-se ampliar as redes relacionais dos participantes, bem como potencializar suas habilidades sociais. O grupo conta com a participação de dois docentes do curso de enfermagem, uma aluna de doutorado em enfermagem, cinco residentes de saúde mental e oito graduandos bolsistas, dos cursos de enfermagem e medicina. A residência multiprofissional em saúde mental se insere neste contexto com intuito de fornecer suporte técnico, visto que os residentes trazem experiências adquiridas ao longo de sua formação, incluindo o manejo de grupos. Além disso, as diversas formações desempenham papel essencial na educação interprofissional, viabilizando trocas entre graduandos e pós-graduandos, capazes de fortificar o processo de aprendizagem de ambos.
Descrição da Experiência O grupo realizou seis encontros com os usuários. No primeiro encontro, propôs-se uma dinâmica para integração dos usuários, através da sua apresentação e exposição das expectativas sobre a participação no grupo, enquanto passavam um rolo de barbante entre si à medida em que transmitiam a palavra uns para os outros. No encontro seguinte, foi realizada uma dinâmica de troca de experiências em que os participantes deveriam levar objetos significativos para eles e dividir as vivências relembradas com os demais usuários. No terceiro encontro, foi realizada uma atividade sobre o contato entre as diferentes gerações, unida à uma proposta de educação em saúde sobre a dengue. No quarto encontro, a proposta foi de construir um painel coletivo registrando ações promotoras de bem-estar na infância e no presente. No quinto e sexto encontros, começou a se registrar as atividades levantadas anteriormente em um jornal, para socializar as memórias com a comunidade. De modo geral, diversas são as falas que mencionam situações de desvalorização, solidão, de desinteresse e conflitos intergeracionais. Por outro lado, o resgate de memórias vívidas de situações prazerosas também esteve muito presente.
Objetivo e período de Realização Relatar a experiência dos residentes em saúde mental com o projeto de extensão (grupo TECER), que busca fomentar a produção de vida em atividades cotidianas e o acompanhamento terapêutico. Os encontros relatados estão localizados no período de outubro de 23 a maio de 2024.
Resultados Ao longo dos encontros, busca-se observar e escutar as manifestações dos usuários, de modo ativo e curioso, para que se construa a percepção dos fenômenos grupais. Além disso, estimula-se que os participantes deem retornos sobre suas vivências no grupo, em alguns momentos de modo concreto, por escrito, para guiar as próximas intervenções. Se pode notar um desejo dos participantes por uma frequência maior de encontros, o que demonstra que o grupo tem ocupado um lugar significativo em suas redes relacionais, por vezes sendo o principal ambiente de socialização, ou o único em alguns casos. Similarmente, demandam pela inclusão de música nas atividades, expressando a potência da arte enquanto mediadora de relações sociais. Outro processo bastante expressivo ao longo das ações realizadas é o de identificação. Se pode notar que os participantes fazem diversas referências a “se ver” na história do outro, em um papel parecido com o usuário-narrador, ou com outra pessoa da história narrada. Em relação à identidade, ao ser idoso, é possível compreender que, embora tragam vivências singulares, alguns fenômenos, como a desvalorização do idoso, se compartilham no coletivo.
Aprendizado e Análise Crítica Ao longo dos encontros com os usuários, foram trazidas diversas falas sobre as mudanças percebidas ao longo da vida, algumas perdas de mobilidade e funcionalidade e transformações nos ritmos das atividades. Tem-se compreendido que, dentro de uma sociedade extremamente voltada aos ideais capitalistas de produção e consumo, o trabalho alienado e expropriado se coloca como a única atividade digna de valorização, identificando-se com o papel principal das pessoas. Desta forma, todo aquele que se desvia do trabalho formal, seja por desemprego ou aposentadoria, tem seu papel social diminuído ou invisibilizado. Durante esta fase da vida, os idosos estão em um momento crítico, de muitas mudanças, em que pode ocorrer sofrimento psíquico, como aquele vinculado a perdas e lutos concretos e/ou simbólicos. Isto posto, ações como a do grupo TECER são indispensáveis no âmbito da promoção de saúde e prevenção primária, ainda mais quando se compreende que estas são as atribuições principais da atenção primária à saúde. A partir do resgate de vivências, memórias e saberes, se tem visto e celebrado tudo aquilo que há de vida dentro de cada um, ressignificando o papel do idoso e viabilizando a reconstrução da identidade dos sujeitos.
Referências SILVA, A. C. M. et al. Imagens, vínculo e saúde: experiência com oficinas terapêuticas para idosos. Rev. Ciênc. Ext. v.17, p.325-340, 2021.
ZIMERMAN, G. I. Grupos com idosos. In: ZIMERMAN, D. E.; OSÓRIO, L. C. (Orgs.). Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995, Cap. 30, p. 331-342.
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