52109 - CAMINHOS PARA EQUIDADE: IMPLEMENTAÇÃO DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL PARA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE DE POPULAÇÕES VULNERABILIZADAS DO DISTRITO FEDERAL CARMEN LUCIA ALBUQUERQUE DE SANTANA - OPAS, JULIANA OLIVEIRA SOARES - SES - DF
Contextualização A formação de profissionais de saúde no Distrito Federal (DF) enfrenta desafios significativos, especialmente no contexto pós-pandêmico, que ampliou iniquidades em saúde. Com uma população de aproximadamente 2,8 milhões de habitantes em 2022, o DF é marcado por diversidade socioeconômica e profundas desigualdades. As condições de vida impostas pela vulnerabilidade social impactam negativamente a saúde física e mental de populações vulnerabilizadas. Pessoas com dificuldades de acesso a benefícios como educação e moradia adequada, apresentam piores condições de vida e maior carga de doenças. Essas populações, como pessoas em situação de rua, moradores de ocupação, população negra, do campo, imigrantes, refugiados, e LGBTQIAP+, enfrentam múltiplas vulnerabilidades que estruturam barreiras e impactos na saúde
Alterações na oferta de serviços e as condições de saúde desses grupos trouxeram desafios adicionais relacionados à crise da COVID-19 e à epidemia da Dengue, sobrecarregando profissionais da atenção primária à saúde (APS). O cenário atual exige intervenções sensíveis às novas realidades para melhorar o acesso e o cuidado na atenção à saúde dessas populações. A Educação Permanente em Saúde (EPS), focada nos problemas e necessidades decorrentes do trabalho em saúde, é estratégica para apoiar profissionais de saúde para o enfrentamento das demandas específicas desses grupos.
Descrição da Experiência O relato descreve a experiência de elaboração e implementação de um Plano de Ação de Educação Permanente voltado para o acesso e cuidado na APS de populações em situações vulneráveis no DF. A abordagem Participatory Learning and Action (PLA) e a Educação Popular fundamentaram a metodologia, promovendo aprendizagens participativas e colaborativas.
O projeto foi estruturado em seis fases:
1ª Diagnóstico Situacional (análise da força de trabalho em saúde e identificação das necessidades de educação permanente)
2ª Seleção dos Problemas Prioritários: definição participativa de objetivos e metas.
3ª Elaboração do Plano de Ação: construção participativa.
4ª Estabelecimento de métodos para monitorar e avaliar processo e resultados.
5ª Implementação do curso piloto na modalidade semipresencial, estruturado em 4 eixos: ações regionalizadas, turmas reduzidas, atividades em concentração e dispersão, e elaboração de projetos de intervenção para cada região de saúde.
6ª Apresentação dos Resultados em seminário para divulgação dos projetos de intervenção regionais.
Foram identificadas insuficiências em conhecimentos, habilidades e atitudes para o cuidado de populações vulneráveis, além da ausência de um processo sistemático de identificação desses grupos nos territórios. A formação, realizada de forma semipresencial, incluiu um curso de formação de multiplicadores com uso da Plataforma Moodle.
Objetivo e período de Realização Objetivo: Desenvolver e implementar um plano de ação para a educação permanente que aprimorasse o acesso e o cuidado na atenção primária à saúde para populações em situação de vulnerabilidade no DF, fortalecendo a atuação das equipes multiprofissionais.
Período: de janeiro de 2022 a novembro de 2023.
Realização: Parceria GASPVP (Gerência de Atenção à Saúde de Populações em Situação Vulnerável e Programas Especiais) e OPAS (Organização Pan Americana da Saúde
Resultados A) Prioridades da educação permanente:
Enfrentamento aos problemas diagnosticados: baixa percepção sobre as especificidades do atendimento a populações vulneráveis; ausência de foco nas vulnerabilidades na territorialização; preconceitos e falta de empatia no atendimento; fragilidades no modelo de atenção primária e na formação dos profissionais.
B) O curso: duração 12 semanas, carga horária de 40 horas.
Objetivos das unidades de aprendizagem: explicar o conceito de vulnerabilidade social e suas implicações para o cuidado na APS; reconhecer particularidades no atendimento a grupos vulneráveis, descrevendo dispositivos de integração na UBS; caracterizar ferramentas de educação usadas no planejamento de saúde para vulneráveis e aplicá-las; estimular a aplicação prática dos conhecimentos, relacionando a vulnerabilidade à conduta na APS.
Dos 30 convidados, 21 inscreveram-se e 80% finalizaram, concluindo 70% das atividades. Os resultados mostraram mudanças significativas na percepção e nas práticas dos profissionais. O curso foi avaliado entre bom e ótimo por 100% dos participantes. Ambiente pedagógico acolhedor e pertinência do tema foram considerados facilitadores do processo.
Aprendizado e Análise Crítica Fatores que desafiaram a participação incluíram dificuldade com tecnologia, gestão de tempo e trabalho em grupo. “Ser informado antecipadamente sobre o agendamento do horário do programa” foi identificado como uma forma de aumentar a participação. Esses fatores descritos pelos participantes são confirmados por dados de literatura.
A criação de um ambiente virtual de aprendizagem (AVA) tornou o curso mais acessível e contribuiu para atender as necessidades dos profissionais, constituindo uma ferramenta valiosa para disponibilizar o material do curso. O AVA proporcionou flexibilidade aos participantes, permitindo que eles acessassem o conteúdo a qualquer momento e em qualquer lugar, desde que tivessem uma conexão à internet.
O projeto destacou a importância de uma abordagem interprofissional e de uma educação permanente focada nas realidades locais e nas necessidades específicas das populações vulnerabilizadas. As estratégias implementadas promoveram uma mudança significativa na atitude e nas práticas dos profissionais de saúde participantes.
A continuidade dessas iniciativas é essencial para fortalecer a integralidade do cuidado e enfrentar as iniquidades em saúde e está prevista para acontecer em 2025, escalonando a experiência piloto para 300 vagas oferecidas aos profissionais da APS no DF.
Referências Brun, T., Brun, M. O; O’Donnell, C.A; Macfarlane, A. Learning from doing: the case for combining normalisation process theory and participatory learning and action research methodology for primary healthcare implementation research BMC Health Services Research, 2016.
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Farrell B, Ward N, Jennings B, Jones C, Jorgenson D, et al .Participation in online continuing education. Int J Pharm Pract. 2016.
O‘Doherty D, Dromey M, Lougheed J, Hannigan A, Last J, McGrath D. Barriers and solutions to online learning in medical education - an integrative review. BMC Med Educ. 2018
Santana, C. Manfrinato P, Souza, A, CondeV, Stefeltd, et al Psychological distress, low-income, and socio-economic vulnerability in the COVID-19 pandemic, Public Health, Vol 199, 2021
Fonte(s) de financiamento: Organização Pan Americana de Saúde (OPAS)Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES DF)
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