49515 - OFICINAS DE GESTÃO DAS PRÁTICAS DE ENSINO NA SAÚDE NO SUS CEARÁ: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA BRUNA RODRIGUES NUNES - ESP/CE, JOSÉ LUIS PAIVA DE MENDONÇA FERREIRA - SESA/CE, DAYSE LORRANE GONÇALVES ALVES - UECE, DANIELLY CUSTÓDIO CAVALCANTE DINIZ - UECE
Contextualização É fundamental que as necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS) e as experiências vivenciadas em suas redes de atenção sejam consideradas na reorientação das práticas e maneiras de cuidar, tratar e acompanhar a saúde individual e coletiva dos usuários, bem como nas estratégias de formação inicial e permanente dos profissionais de saúde. Na saúde coletiva, há quatro principais focos de tomada de decisão: a política, as práticas, as técnicas e os instrumentos (CECCIM; FEUERWERKER, 2004). Partindo dessa perspectiva, a formação profissional em saúde precisa englobar a integralidade e a superação do biologicismo e difundir práticas de responsabilidade com a coletividade, a democracia e a cidadania, ou seja, é preciso que os diversos espaços formativos se apropriem da capacidade criativa e humanística que a saúde pode ofertar (L’ ABBATE, 2018). Considerando os pontos elencados acima e visando ao fortalecimento da tríade ensino-serviço-comunidade nas unidades da Rede SESA (Secretaria da Saúde do Estado do Ceará), foram desenvolvidas duas oficinas de gestão das práticas de ensino na saúde com os representantes dos centros de estudos das unidades da SESA, juntamente com os membros da Câmara Técnica de Gestão das Práticas de Ensino na Saúde - CTGPES. Esta Câmara é responsável pela execução das práticas de ensino na saúde nas unidades.
Descrição da Experiência As oficinas foram realizadas com 42 representantes de 17 unidades de diferentes níveis de atenção à saúde que compõem a rede SESA, dentre hospitais e unidades ambulatoriais. Para facilitar esse processo, utilizou-se um instrumento para a sistematização dos problemas e/ou necessidades de cada estabelecimento de saúde e outro para elaboração das propostas e priorização de ações para o processo de integração ensino-serviço-comunidade nas unidades da rede SESA. Esse instrumento divide-se em quatro dimensões: regulação das práticas de ensino na saúde (dimensão 1); investimento e modernização dos cenários de práticas (dimensão 2); preceptoria (dimensão 3); avaliação e dimensionamento (dimensão 4). No primeiro dia de oficina, foi realizada uma exposição dialogada e o preenchimento da matriz de seleção de necessidades/problemas. No segundo dia, houve a discussão dos problemas/necessidades relatados e, depois, o preenchimento da matriz de elaboração das propostas e priorização de ações das unidades da Rede SESA. Os participantes foram divididos em grupos e puderam discutir a realidade de cada cenário vivenciado, assim como compartilhar desafios e estratégias de enfrentamento.
Objetivo e período de Realização Este trabalho tem como objetivo relatar a experiência de desenvolvimento e implementação de oficinas de gestão das práticas de ensino na saúde. A intenção dessas oficinas era promover a articulação entre os saberes e fazeres no planejamento, monitoramento e avaliação do processo de integração ensino-serviço-comunidade nas unidades da Rede SESA. Foram realizadas em dois dias, 01/12/23 e 06/12/23.
Resultados As principais necessidades evidenciadas foram: dimensão 1 - falta de regulação da residência médica e multiprofissional e de envolvimento das Instituições de Ensino Superior no acolhimento dos estagiários, limitação de conhecimento sobre o SUS dos estudantes e ausência de atualização do Sistema de Regulação das Práticas de Ensino na Saúde no Estado do Ceará; dimensão 2 - infraestrutura inadequada para realização das práticas de ensino, burocratização para execução do recurso destinado para os cenários de práticas e demanda de vagas maior do que a capacidade instalada; dimensão 3 - falta de identidade e reconhecimento da função do preceptor; dimensão 4 - ausência de instrumentos de avaliação em todas as dimensões dos cenários de prática. Para cada um desses problemas, foram elaboradas possíveis soluções e designados os responsáveis pela execução. Assim, firmou-se o comprometimento junto às unidades de saúde para garantir o cumprimento dessas ações. Ao final, houve um questionário de avaliação da oficina, a qual foi elogiada e considerada muito satisfatória de um modo geral, principalmente, no que se refere à metodologia utilizada.
Aprendizado e Análise Crítica A experiência relatada foi resultado da vivência da autora na Residência Multiprofissional de Saúde Coletiva e envolveu a construção de estratégias para o engajamento de trabalhadores e gestores na promoção e implementação de processos educativos em saúde. As oficinas estimularam reflexões significativas, visando a promover uma reorientação de conhecimentos e práticas. O aperfeiçoamento do processo de trabalho no ensino em saúde impacta toda a comunidade, pois, a partir do olhar crítico sobre a realidade vivenciada, é possível avaliar e melhorar a assistência ofertada. No contexto da Educação Permanente em Saúde (EPS), as pessoas atuam como agentes reflexivos da prática e construtores de conhecimento e de alternativas de ação, em vez de serem apenas receptores passivos. Nessa experiência, profissionais também sugeriram maneiras de aprimorar o processo de EPS no qual estão envolvidos, incluindo a definição de periodicidade para os encontros e a reserva de tempo específico para atividades de EPS. A compreensão das matrizes utilizadas nas oficinas permite uma abordagem mais sistemática e eficaz, com potencial para promover mudanças positivas no serviço de saúde. O compromisso com as estratégias delineadas facilitará a transição da realidade atual para a realidade desejada.
Referências BRASIL. Portaria nº 198 GM/MS, de 13 de fevereiro de 2004. Institui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como estratégia do Sistema Único de Saúde para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 fev. 2004.
CARVALHO, Yara Maria de; CECCIM, Ricardo Burg. Formação e educação em saúde: aprendizados com a saúde coletiva. In: CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa Campos, et al. (Orgs.). Tratado de saúde coletiva. São Paulo: Hucitec, 2012.
CECCIM B; FEUERWERKER L. O Quadrilátero da Formação para a Área da
Saúde: Ensino, Gestão, Atenção e Controle Social. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 14, n. 1, p. 41- 65, 2004.
L’ ABBATE, S. A trajetória da Saúde Coletiva no Brasil: análise das suas dimensões
políticas e educativas em articulação com a Análise Institucional. Mnemosine, v. 14, n. 2, p. 236-262, 2018.
|