Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC8.12 - Experiencias para a Formação Tecnica para o SUS

50012 - PROJETO MISTÉRIO NO CASTELO: LITERATURA E SUBJETIVIDADES NO ENSINO TÉCNICO EM SAÚDE
GABRIELLE PAULANTI DE MELO TEIXEIRA - EPSJV - FIOCRUZ


Contextualização
Um lugar que abriga a ciência, a pesquisa e a construção do conhecimento, também pode guardar o oculto, o desconhecido e desencadear o mistério. Assim é o Castelo da Fiocruz e seu entorno, o campus Manguinhos. São inúmeros os relatos sobre aparições misteriosas e eventos inexplicáveis que aguçam a curiosidade e a imaginação de trabalhadores, estudantes e moradores da região. Nesse sentido, o projeto “Mistério no Castelo”, implementado com estudantes do Ensino Médio Técnico em Saúde da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, voltou-se para aquilo que instiga as percepções da realidade e aguça a imaginação, dialogando com a história e as narrativas curiosas que envolvem o Castelo da Fiocruz. A EPSJV tem como compromisso a formação de técnicos em saúde com uma visão ampliada de sociedade, capazes de atuar no trabalho e na vida de forma qualificada e crítica. Portanto, é imprescindível o alargamento das percepções da realidade, bem como o questionamento constante dos limites da Ciência e da objetividade cartesiana, apontando para uma construção arrojada do conhecimento, cuja dinâmica foi a tônica desse projeto.

Descrição da Experiência
Realizado em 2024 em parceria com o Museu da Vida, o projeto “Mistério no Castelo: concurso de contos de susto e assombro no Campus Manguinhos” envolveu estudantes do 1º ao 4º ano do Ensino Médio Técnico em Saúde e estudantes da Educação de Jovens e Adultos da EPSJV-Fiocruz. O projeto teve como proposta um concurso de contos inspirados nas narrativas misteriosas que envolvem o Castelo Mourisco, como portas e janelas que abrem e fecham sozinhas, livros que caem das estantes e ruídos escutados na calada da noite. Como mobilização e inspiração, os estudantes fizeram visitas guiadas ao Castelo, incluindo visitas noturnas, em que conheceram não apenas a história do Castelo e da Ciência brasileira, mas os relatos de experiência dos trabalhadores e as lendas de várias épocas nos 106 anos de existência da edificação. Os contos inscritos ficaram disponíveis no site da EPSJV e a votação foi aberta a toda comunidade escolar. Como resultado, os mais votados irão compor uma publicação prevista pela Editora Fiocruz.

Objetivo e período de Realização
O projeto “Mistério no Castelo” realizou-se entre fevereiro e maio de 2024. Visando gerar complexidades construtivas, o projeto propôs um concurso de contos com objetivo de instigar a criação de narrativas inspiradas no “disse me disse” popular em contraste com o ambiente científico e o imponente e histórico Castelo da Fiocruz. O instrumento pedagógico do concurso tem potencial de estimular a participação proativa dos jovens e motivar reflexões autônomas.

Resultados
Ao todo, foram 37 contos inscritos e 14 contos selecionados para integrar uma publicação prevista para 2025. O concurso estimulou a participação criativa dos jovens e motivou reflexões livres que puderam aliar o ambiente científico com as várias dimensões de suas subjetividades. Aproveitou-se o interesse frequente dos estudantes por narrativas de mistério e horror para aproximar os estudantes do universo da Ciência pela via da criatividade. Muito da força da literatura de mistério e espanto reside justamente em sua violação programática dos parâmetros realistas tradicionais, ao apresentar eventos, enredos e personagens que estendem ou desafiam o conhecimento de mundo do leitor ou ouvinte. Tomar uma narrativa como antinatural permitiu um desvio consciente da moldura do mundo real e, assim, tornando possível trazer à tona e criticar aquilo que o discurso realista muitas vezes reprime, como a expressão da tensão existente entre as normas sociais e os medos e desejos inconscientes.

Aprendizado e Análise Crítica
A ficção de terrou ou mistério dá continuidade a uma prática primordial do ser humano: usar a faculdade da imaginação para produzir narrativas que nos ajudem a lidar com o assombro diante do mundo que nos cerca. O mundo contemporâneo lida com horrores palpáveis e potencialmente mortais, não apenas para um indivíduo ou grupo, mas para toda uma coletividade, toda a espécie humana. Guerra nuclear, pandemia de super vírus ou bactéria, terrorismo em larga escala, desastres naturais motivados, em parte, pela ação humana, como o aquecimento global, ou totalmente alheio ao nosso controle, como terremotos ou mesmo a colisão de um corpo celeste com o nosso planeta. Nesse sentido, esse projeto potencializou reflexões e aprofundou compromissos com o desejo de transformação da realidade, sobretudo por meio da ciência.

Referências
DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente, 1300-1800: uma cidade sitiada. Companhia de Bolso, 2024.
SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. Autores associados, 2018.
BATALHA, Maria Cristina; FRANÇA, Júlio; SILVA, Daniel Augusto P. Páginas perversas: narrativas brasileiras esquecidas. Appris Editora e Livraria Eireli-ME, 2017.
DE OLIVEIRA BONATTO, Maria Paula et al. MUSEU DA VIDA FIOCRUZ E COVID19: EDUCACÃO, CIÊNCIA E CULTURA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE. Revista Docência e Cibercultura, v. 6, n. 4, p. 93-119, 2022.
MARTINS, Carla Macedo et al. Educação e saúde. 2007.
GOMES, Romeu. Saúde do homem em debate. Editora Fiocruz, 2011.


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