Roda de Conversa

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
RC8.10 - Perspectivas e desafios para uma Graduação mais Inclusiva, Empática e Democrática

53352 - CONHECIMENTO DOS ESTUDANTES DE ODONTOLOGIA DE UMA UNIVERSIDADE FEDERAL DO NORDESTE SOBRE LIBRAS E A ATENÇÃO À SAÚDE DAS PESSOAS SURDAS
JAMERSON DA SILVA SANTOS - ICEPI, IZABEL MAIA NOVAES - UFAL, ANTÔNIO CARLOS DE SOUZA NETO - UNIFESP, SILVIA GIRLANE NUNES DA SILVA - UFAL, CRISTIANE RIBEIRO DA SILVA CASTRO - UFBA, MYRIAN GIOVANNA VIANA LOURENÇO - UFAL, RAFAELA COUTINHO NAGIBO - ICEPI, KARLA CALOTE - ICEPI, GUSTAVO VITAL DE MENDONÇA - ICEPI


Apresentação/Introdução
Desde as sociedades primitivas, as pessoas com deficiência (PCD) eram banidas da sociedade ou sofriam discriminações. Ademais, as pessoas surdas (PS) não tinham direito à vida e quando o tinham, eram tratadas em condições desumanas (Santos; Jaccomo, 2020). Porém, ao longo dos anos, as PS conquistaram direitos significativos, como a Lei 13.146 de 2015, que culminou no Estatuto da Pessoa com Deficiência e reafirmou a garantia do acesso aos espaços que prestam serviços de saúde, removendo a barreira da comunicação para acolher os surdos. Outrossim, foi a criação do Decreto 5.626 de 2005, que tornou a LIBRAS disciplina curricular obrigatória em alguns cursos do ensino superior (Brasil, 2005; Brasil, 2015). E, embora o ensino da disciplina de LIBRAS seja eletivo para a Odontologia, às Diretrizes Curriculares Nacionais do curso determinam que os conteúdos lecionados devem assegurar a compreensão e domínio teórico e prático do atendimento clínico ambulatorial de indivíduos com deficiências, conhecimento das políticas de acessibilidade às PCD e as línguas oficiais brasileiras, o que inclui a LIBRAS. Assim, é necessário que durante a graduação os estudantes tenham contato com a LIBRAS e a cultura da comunidade surda, a fim de proporcionar, através da formação, um atendimento mais humanizado aos pacientes surdos (Souza; Porrozzi, 2009; Rodrigues, 2016; Brasil, 2021).

Objetivos
Desta forma, este estudo teve como objetivo avaliar a compreensão e conhecimento dos graduandos de Odontologia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) a respeito da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e da atenção à saúde das pessoas surdas.

Metodologia
O presente estudo tratou-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, com uma abordagem descritivo-exploratória, em que se aplicou um questionário semiestruturado para discentes do último período letivo da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Alagoas (FOUFAL), uma vez que os mesmos estavam próximo a conclusão da graduação e, consequentemente, tiveram maior vivência clínica e contato com o projeto pedagógico do curso. Previamente à realização, a pesquisa foi analisada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal de Alagoas, sendo aprovada, como consta no Parecer 5.515.494. Os graduandos receberam um e-mail contendo o link que os direcionou para a leitura e preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), e em seguida tiveram acesso ao questionário online criado pela plataforma Google Forms, contendo 7 perguntas a serem respondidas. As respostas foram analisadas e discutidas através da técnica de análise do conteúdo de Laurence Bardin (Bardin, 2011). Além disso, para manter o sigilo dos dados coletados, cada estudante pesquisado recebeu um codinome correspondente a um bairro da cidade de Maceió.

Resultados e Discussão
A amostra foi composta por uma turma de 25 alunos, dos quais 17 estudantes optaram por participar da pesquisa. Constatou-se que 11 graduandos nunca tiveram contato com nenhuma pessoa surda, ao passo que 6 já o tiveram. Averiguou-se que, embora dez graduandos nunca tenham tido contato com a Língua Brasileira de Sinais, todos os pesquisados afirmaram conhecer o que era LIBRAS. Porém, alguns utilizaram a denominação surdo-mudo para se referir aos surdos, e a palavra linguagem para tratar a LIBRAS, sendo que ambos os termos são inadequados atualmente. Além disso, os sentimentos de impotência, insegurança, receio e preocupação foram os mais citados quando questionados sobre como eles se sentiriam ao perceber um surdo precisando de atendimento odontológico, o que é consequência do pouco ou nenhum contato com a cultura surda no decorrer da formação acadêmica. Os estudantes citaram, majoritariamente, a linguagem escrita e/ou digitada como estratégia de comunicação caso precisassem acolher/atender uma pessoa surda durante a graduação. Contudo, o uso de gestos, mímicas, aplicativos de tradução, leitura labial ou a presença de um acompanhante como interlocutor das mensagens, também foram citados como métodos alternativos de comunicação com os surdos, destacando apenas dois graduandos que citaram o uso de sinais aprendidos em LIBRAS para se comunicarem. Todos os pesquisados declararam que a instituição de ensino que fazem parte nunca os incentivou a aprenderem sobre a LIBRAS, ou a atenção à saúde das pessoas surdas. Desta forma, os estudantes propuseram que a unidade acadêmica inserisse a disciplina de LIBRAS para a grade curricular do curso de forma obrigatória, ou facilitasse o acesso a disciplina eletiva.

Conclusões/Considerações finais
Conclui-se, desta forma, que os formandos da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Alagoas do período letivo de 2022.1 não se sentem preparados para acolher e atender os pacientes surdos. Além do mais, os estudantes nunca se sentiram incentivados pela própria unidade acadêmica a aprenderem sobre a atenção integral à saúde da comunidade surda, colocando como proposta para suprir este vazio a inserção da disciplina de LIBRAS como obrigatória no projeto pedagógico. Assim, torna-se urgente, mediante a contribuição de professores e alunos, a inclusão de um componente social em saúde durante a formação de futuros odontólogos, para que desta forma seja possível desconstruir o modelo mecanicista pautado em técnicas biomédicas ainda vigentes na graduação em Odontologia. Pois, desse modo, o paciente será visto como um ser humano, seja ele uma pessoa com deficiência ou não, podendo ter seus direitos à saúde garantidos de forma integral, humanizada e equânime.


Referências
Bardin, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011, 229 p.
Brasil. Decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 22 de dezembro de 2005.
Brasil. Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em Odontologia. Ministério da Educação, Brasília, DF, 05 de dezembro de 2021.
Santos VG, Jaccomo DF. Inclusão e acessibilidade no atendimento odontológico para pessoas com deficiência auditiva: revisão de literatura. Revista Cathedral. 2020
Souza MT, Porrozzi R. Ensino de Libras para os Profissionais de Saúde: Uma Necessidade Premente. Revista Práxis. 2009.
Rodrigues Júnior AF. O preparo ao atendimento odontológico à população surda. Brasília, Distrito Federal, Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília, 2016

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