Roda de Conversa

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
RC8.10 - Perspectivas e desafios para uma Graduação mais Inclusiva, Empática e Democrática

51549 - DEDO DE PROSA: DIÁLOGOS SOBRE FORMAÇÃO E CUIDADO EM SAÚDE A PARTIR DE CARTAS PARA A AVÓ
GLEICIELLY ZOPELARO BRAGA - COORDENAÇÃO DE EXTENSÃO - UNIFASE, MÔNICA DE REZENDE - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA / UFF


Apresentação/Introdução
Neste estudo foi utilizada uma escrita enraizada na subjetividade, identidade cultural, tradições e valores preservados na oralidade e transmitidos de geração em geração por mulheres, guardiãs e curandeiras, que inspiram afeto, força e coragem. Na contramão da escrita científica, caracterizada por sua objetividade, precisão e uso de linguagem técnica, foram utilizadas cartas para viabilizar a prosa com a avó de uma das autoras, que experimenta um tempo cronológico diferente do nosso.
A formação em saúde, em suas diversas dimensões, precisa ser revisitada e pensada para além da perspectiva colonizada e eurocentrada. Isso implica valorizar e incorporar os saberes e práticas dos diferentes povos e etnias, ancestrais e culturais, reconhecendo a riqueza dessas experiências como fundamentais para a construção de um sistema de saúde mais justo e equitativo. Ampliar a perspectiva formativa, nesse sentido, desafia as hierarquias de conhecimento impostas pelo patriarcado capitalista, propondo uma educação que respeite e valorize a diversidade de perspectivas e práticas de cuidado.


Objetivos
Este trabalho tem por objetivo dialogar sobre uma escrita acadêmica implicada e exposta frente às experiências, vivências e afetos, bem como destacar a possibilidade efetiva de uma perspectiva decolonial na formação em saúde como potencializadora de práticas mais inclusivas e equitativas, que enriquecem o cuidado com maior sensibilidade e respeito às diversas realidades e contextos sociais.

Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, na qual manifestações, vivências, ideias e sentimentos ganham significados a partir da observação e aproximação com o campo, sendo a pesquisadora parte do próprio campo de pesquisa. A construção da narrativa foi sendo feita a partir da escrita de cartas da pesquisadora contando seu cotidiano, incluindo os desafios da vida profissional como membro da equipe de Consultório na Rua, para sua avó, dialogando com um tempo passado e com sua experiência de curandeira. Por intermédio de uma metodologia criada, a qual denominamos “Dedo de Prosa”, carregada de afeto e afetações mineiras, entre um cafezinho e uma broa de milho, emergiram conversas sobre os conteúdos das cartas com autores principalmente da literatura decolonial.

Resultados e Discussão
Resultado de uma dissertação de mestrado em saúde coletiva, este trabalho desempenha a responsabilidade de subversão da produção de conhecimento, incorporando em sua extensão, não linear, elementos ancestrais, culturais, sociais, de forma subjetiva. Na voz de um coletivo, representado por uma figura materna, a avó, cujos encantamentos resistiram através da oralidade do povo indígena Puri, do território da Zona da Mata/MG, foi tecida no artigo feminino, com tons de poesia: ora de indignação, sabor de comida no fogão a lenha, ora de irritação, cheiro de terra molhada, ora supressão. O caminho, a via para a realização e viabilização dessas trançadas, consolidou-se ao longo das passadas, em que não só, e fazendo a curva bem aberta, foram trazidas as vozes daquelas que guiam.
Ao utilizar cartas para dialogar com a avó, foi resgatada uma temporalidade diferente, permitindo que a oralidade e as tradições ancestrais emergissem como fontes legítimas de conhecimento. Esse formato de "Dedo de Prosa" revelou-se uma metodologia potente para traduzir em palavras as nuances e profundidades das experiências humanas, além de valorizar as vozes frequentemente marginalizadas pela ciência convencional.
Os resultados mostraram que a formação em saúde, que prepara trabalhadoras e trabalhadores do SUS para lidarem com a população brasileira, composta por muitos e diferentes povos, precisa incorporar a diversidade de saberes. Ao reconhecer e valorizar os saberes e práticas locais, ancestrais e culturais, construímos uma educação mais inclusiva e sensível às diversas realidades. Esse enfoque não apenas desafia as hierarquias de conhecimento impostas pelo colonialismo, mas também propõe uma prática de cuidado que respeita e valoriza a diversidade de experiências e perspectivas.


Conclusões/Considerações finais
O princípio da integralidade, uma das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), é capaz de apreender as necessidades de ações de saúde no contexto de cada encontro. Este princípio deve ser revisitado à luz das lutas insurgentes. Essa compreensão confere potência para práticas sintonizadas com o corpo-território, oferecendo suporte para abordar as complexidades da saúde de maneira abrangente e inclusiva, reconhecendo a importância de dialogar com as dimensões culturais, sociais, emocionais e físicas de cada sujeito.
O conhecimento flui a partir de várias fontes, compreensões e entendimentos amplos, desembocando no rio, que está sempre em constante movimento e alimentando-se de outros afluentes em um processo dinâmico. A pluralidade das experiências, tradições, saberes e encantarias enriquece o cuidado, fortalece a formação em saúde e flui para novos horizontes.


Referências
REZENDE, M. Integralidade e confluência de saberes: como ampliar a formação dos profissionais de saúde para fazer sentido nos dias atuais? In: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Superintendência Estadual do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro. Olhares sobre educação. 1. ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2021.


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