Roda de Conversa

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
RC8.10 - Perspectivas e desafios para uma Graduação mais Inclusiva, Empática e Democrática

51114 - RELATO DE EXPERIÊNCIA DO PROJETO DE EXTENSÃO EM CULTURA E RELAÇÃO HUMANA  
LUÍSA GOULART MENDONÇA - UFSC, WALTER FERREIRA DE OLIVEIRA - UFSC


Contextualização
A ideia do projeto de extensão surgiu de uma estudante de medicina no intento de entender melhor o ser humano para uma formação profissional pautada em empatia e solidariedade. A graduação em medicina geralmente oferece uma visão de mundo tecnicista, centrada no ensino das principais patologias, mas ignora o diálogo e a comunicação com a pessoa atendida, além de negligenciá-la como um ser completo, além de sua morbidade. Um professor, atendendo a esta demanda, criou então este curso, aberto ao público intra e extra campus universitário, visando esta troca, visto que o mundo acadêmico  tende a distanciar-se da população em geral e raramente há discussões que permitam compartilhar conhecimentos sobre a cultura, a mente e as relações.  O curso estruturou-se em encontros semanais de três horas de duração, abordando o “Estudo da História, das ações artísticas e culturais e suas relações com a promoção de saúde e cidadania”.O objetivo principal era compartilhar e construir conhecimentos e práticas contributivas à  melhor compreensão do ser humano, para a excelência da formação profissional e para o bem estar dos próprios participantes. O curso ofereceu atividades socioeducativas realizadas presencialmente, em formatos de aulas expositivas, oficinas, rodas de conversa, encontros dialógicos, observação de materiais artísticos e atividades em grupo, com utilização de pedagogias ativas.

Descrição da Experiência

O curso permitiu, a partir de uma cronologia da arte e história, analisar correntes de pensamento, contextos e tomadas históricas de decisões. Foram exploradas obras  literárias que permitiram colocar-se no lugar do outro e entender perspectivas. 
Discutiu-se a ideia de sociedade e estilos de vida a partir de obras da Idade Antiga. A leitura do Livro dos Mortos, do Egito Antigo fomentou discussões sobre a angústia da morte, que diversas narrativas ao longo do tempo buscaram solucionar. 
A discussão sobre o Período Pós Romano apontou que a partir desta época certas narrativas foram simplesmente eliminadas com o tempo. Compreendemos então a ascensão da igreja e de uma nova ordem econômica que se estende, de certa forma, até os dias atuais.  O existencialismo nos mostrou como foram respondidas muitas angústias trazidas pela necessidade de respostas frente a morte, amor e ambição. As  narrativas são fortes e vêm regendo a sociedade e com isso,a mentalidade vigente. Além disso, temos interesse no que sobrou das narrativas reprimidas nas diferentes épocas, e como a sociedade atual estaria se algumas delas tivessem vingado. 
Baseando-se, principalmente nos questionamentos do essencialismo e o que é inerente à existência humana, atravessamos diversas épocas, como as obras de Shakespeare,  as revoluções francesa e americana, a revolução Industrial e alguns temas da época Pós-Moderna. 

Objetivo e período de Realização
Objetivou-se disseminar a importância da arte e cultura como estruturantes do comportamento social e, através delas, aprofundar reflexões feitas entre 8/3 e 24/5/2024.Compartilharam-se conhecimentos sobre práticas artísticas e culturais, conscientizando participantes sobre a relevância da Arte e Cultura para a compreensão humana e promoção do bem-estar através da interação interdisciplinar, difusão de conhecimentos na comunidade acadêmica e geral e relação entre promoção da saúde e cidadania.

Resultados
Sete participantes eram do sexo feminino e um do sexo masculino; duas eram estudantes de pós-graduação, três estudantes de graduação em medicina e serviço social, e duas da comunidade extra-universitária, sendo uma psicóloga e uma estudante de psicologia. A idade variava de 22 a 60 anos, com média de 32 anos. Foram realizados 12 encontros abordando temas como: função social e importância cultural da promoção da saúde e da cidadania, a importância da arte e da cultura para a saúde e o bem-estar. As discussões incluíam dramatização, teatro, cinema, música, dança, artes visuais, poesia, literatura, arquitetura e design, e as artes no mundo virtual. Além disso, foram debatidos aspectos políticos, econômicos e sociais, com foco em atravessamentos interseccionais, decoloniais, e a relação com sistemas institucionais como religião e modos de produção, estruturas educacionais, desigualdades e classes sociais. Foi disponibilizado um formulário para avaliação do curso, no qual 100% dos participantes se sentiram estimulados a buscar mais conhecimento, 71,4% consideraram o curso ótimo e 28,6% bom. 86% se sentiram completamente respeitados e 100% recomendariam o curso a outra pessoa.

Aprendizado e Análise Crítica
O número reduzido de participantes criou um ambiente acolhedor e produtivo, facilitando a sociabilidade e a criação de vínculos. A heterogeneidade do grupo em idades e ocupações enriqueceu as discussões sobre Saúde Coletiva e questões sociais. Arte e Cultura foram exploradas sob diferentes perspectivas, como saúde, direito, medicina, psicologia e história, permitindo um aprofundamento não comum na formação profissional tradicional.
Os participantes consideraram o curso uma grata surpresa e um marco em sua formação, preenchendo um vácuo em discussões raramente presentes na educação em Saúde. A compreensão do ser humano é limitada quando baseada apenas em livros técnicos e artigos científicos. Fica claro, a partir de um olhar sensível, a relação dos temas estudados com a construção da cidadania, o empoderamento social e a saúde mental e coletiva.
As relações estabelecidas e a sensibilidade adotada nos temas também foram altamente valorizadas. Reflexões revelaram uma demanda por sociabilidade não atendida adequadamente nos contextos de formação.
Em suma, o projeto mostrou-se positivo tanto para a formação profissional quanto para o crescimento pessoal. Focando na relação entre arte, cultura, saúde e cidadania, aponta caminhos promissores para futuras experiências similares.

Referências
ADAMS,, P. et al.  Patch Adams. R. Janeiro: Sextante, 1999
BERTHERAT, T; BERNSTEIN, C. O corpo tem suas razões. S. Paulo: Martins Fontes, 1983
BOAL, A. Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. S. Paulo: Cosac Naify, 2014
CATAPAN, SC; OLIVEIRA, WF; UVINHA, RR. Clown Therapy: Recovering Health, Social Identities, and Citizenship. Am J of Psych Rehab, 22(12): 82 – 100, 2019
FERNANDES, ALNS. et. al. Vivencias para La desinstitucionalización: desmecanización de los cuerpos y de los sentidos. Anais. IX Congreso Internacional de Salud Mental y Derechos Humanos, Buenos Aires, 2010
FERREIRA, C. Ciência e arte: investigações sobre identidades, diferenças e diálogos. Ed Pesq, 36(1): 261-80, 2010
HECKERT, G; PASSOS, R; BARROS, S. A humanização do SUS em debate. Interface, Comunic, Saú & Ed, 13(2):493- 502, 2009
OLIVEIRA, WF. Nuhas: uma experiência coletiva de produção social de saúde. CBSM, , 8(18): 214-30,2016


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