Roda de Conversa

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
RC8.9 - Integrações Ensino-Serviço: conexões potentes no SUS

51247 - SAÚDE COLETIVA E FORMAÇÃO PROFISSIONAL: REFLEXÕES E INTERCONEXÕES.
MARIA CLÁUDIA DE FREITAS LIMA - UECE, FRANCISCO ELENILTON RODRIGUES DO NASCIMENTO - UECE, ALANE NOGUEIRA BEZERRA - UECE, THIAGO SOUSA FÉLIX - UECE, KAMYLA DE ARRUDA PEDROSA - UECE, GEANNE MARIA COSTA TORRES - UECE, JOSÉ MARIA XIMENES GUIMARÃES - UECE


Contextualização
A Saúde Coletiva é um campo de conhecimento interdisciplinar, constituído no cenário brasileiro, e vem contribuindo para o entendimento das determinações do processo saúde-doença-cuidado e sua correlação de modo ampliado sobre o indivíduo e suas necessidades sociais.
Como ator importante na Reforma Sanitária Brasileira, a Saúde Coletiva defende a democratização da saúde, a socialização do conhecimento, a formação profissional qualificada na área da saúde e a participação popular na defesa dos direitos sociais a todos os indivíduos, inclusive o da saúde (Osmo; Scharaiber, 2015).
Com base no referencial teórico marxista, a Saúde Coletiva dimensiona a discussão social como ponto primordial para compreender as mazelas sociais e o adoecimento das pessoas. Para tanto, a dialética entre a singularidade e o comum, o particular e a realidade concreta, evidencia a necessidade de associação dos objetos de estudos com o todo social, considerando as categorias sociais que perpassam o pensar e o agir desse campo. Desse modo, o “concreto da vida” passa a ser o ponto de partida e de chegada do entendimento sobre o processo de adoecimento (Silva; Schraiber; Mota, 2019).
Ante as distintas profissões da saúde e seus respectivos núcleos de práticas e objetos de investigação, vale refletir como a Saúde Coletiva tem contribuído nas formações profissionais e, também, o movimento inverso de contribuição.



Descrição da Experiência
A pós-graduação stricto sensu em Saúde Coletiva da Universidade Estadual do Ceará tem suscitado reflexões aos seus discentes sobre a concepção ampliada de saúde, valorizando as dimensões sociais, históricas, culturais e políticas que estão em interação no agir em saúde.
Imergindo os discentes nos eixos de Epidemiologia, Ciências Humanas e Sociais e Planejamento e Gestão em Saúde, a formação acadêmica referida fortalece a interdisciplinaridade e a produção do conhecimento no Sistema Único de Saúde (SUS) com pesquisa de inovação para a área da Saúde Coletiva. Evidencia-se, nesse processo, a pluralidade dos debates em sala de aula pelas múltiplas formações profissionais dos discentes.
Como proposta avaliativa de uma das disciplinas iniciais e em prol de situar os discentes de formações diversas, um grupo de discentes foi direcionado a apresentação de um seminário, no qual se desenvolveram reflexões a partir do tema interdisciplinaridade na Saúde Coletiva, a suas contribuições as formações específicas, considerando as particularidades de cada disciplina, e também, as contribuições dessas para com a Saúde Coletiva num movimento coletivo e transversal do saber saúde.
De modo particular, essa elaboração teórico-conceitual e prática teve a contribuição de discentes das áreas da Nutrição, da Odontologia, do Serviço Social e da Psicologia, que compuseram a equipe responsável pelo seminário.


Objetivo e período de Realização
Realizar uma análise crítica da relação entre a Saúde Coletiva e a formação profissional, a partir dos seguintes questionamentos: 1) Como as profissões na área da saúde contribuem com o campo da Saúde Coletiva? e 2) Como a Saúde Coletiva contribui com as profissões na área da saúde?
Período de realização: fevereiro a abril de 2024.


Resultados
Em relação ao primeiro questionamento, as disciplinas citadas contribuem com o campo da Saúde Coletiva a partir de recortes específicos, a saber: a Nutrição, pelos estudos individuais e coletivos no campo da alimentação e nutricional; a Odontologia, pela instrumentalidade de procedimentos preventivos e curativos e de promoção da saúde naquilo que corresponde "à boca"; a Psicologia, no atendimento as necessidades subjetivas e técnicas de intervenção sobre essas demandas indivíduo/mundo; e, o Serviço Social, na intervenção nas desigualdades sociais, na informação sobre serviços, programas e benefícios a indivíduos e populações visando melhores condições de vida. Apesar das aproximações, as profissões também vivenciam afastamentos pela complexidade dos projetos profissionais em disputa pela hegemonia.
Quanto à Saúde Coletiva, essa imprime nas profissões a concepção ampliada do indivíduo, do processo de adoecimento e da saúde. Apesar das especificidades, a principal contribuição é superar o entendimento do sujeito de modo fragmentado e descontextualizado de determinações mais amplas. Ou seja, considerar o fazer saúde também correlato às decisões políticas (individual e coletiva).


Aprendizado e Análise Crítica
Para os doutorandos das profissões em comento, há nitidez do quão desafiador se constitui o campo da Saúde Coletiva, face aos cenários político-econômico-institucional e brasileiros, as especificidades loco-regionais e o processo de formação profissional em saúde. Vislumbra-se, assim, que a reinvenção na Saúde Coletiva é ponto relevante para a materialização dos princípios doutrinários do SUS, dadas as suas características inclusivas, ampliadas e comprometidas com a ética numa composição de justiça social, sanitária, ambiental e cognitiva (Porto, 2019).
Acredita-se e reconhece-se o quanto a Saúde Coletiva tem influenciado na formação profissional de várias áreas do campo da saúde, recolocando em pauta a necessidade do social como elemento primordial de análise no desenvolvimento de adoecimento da população, dos indicadores para elencar as prioridades e a elaboração de planejamento que realmente toque as demandas dos grupos, seja a grande população e os segmentos específicos. Todavia, ainda é possível identificar que o avanço na formação do ensino de graduação na área da saúde não é homogêneo sobre o assunto da Saúde Coletiva - fato esse que expressa as contradições e os projetos que estão em disputa constante, seja ao nível de organização social, seja em relação à saúde como direito de todos.


Referências
OSMO, A.; SCHRAIBER, L. B. O campo da Saúde Coletiva no Brasil: definições e debates em sua constituição. Saúde e Sociedade, v. 24, p. 205–218, abr. 2015. Disponível em . Acesso em: 04 mai. 2024.

PORTO, M. F. de S. Crise das utopias e as quatro justiças: ecologias, epistemologias e emancipação social para reinventar a saúde coletiva. Ciência & Saúde Coletiva, v. 24, p. 4449-4458, 2019. Disponível em . Acesso em> 06 mai. 2024.

SILVA, M. J. DE S. E.; SCHRAIBER, L. B.; MOTA, A. O conceito de saúde na Saúde Coletiva: contribuições a partir da crítica social e histórica da produção científica. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 29, n. 1, p. e290102, 2019. Disponível em . Acesso em: 04 mai. 2024.


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