Roda de Conversa

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
RC8.8 - Experiências e Relatos em Extensão Universitária

54216 - EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NO NASF/EMULTI: APRENDIZADOS E DESAFIOS VIVENCIADOS POR UMA ESTUDANTE NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
THALIA CRISTINE NOVAES DE VASCONCELOS - UFBA, IVANA FERREIRA DE SANTANA - UFBA, VLADIMIR ANDREI RODRIGUES ARCE - UFBA


Contextualização
O PRONASF, Projeto de apoio ao trabalho em saúde no âmbito dos Núcleos Ampliados de Saúde da Família/equipes Multiprofissionais (eMulti) na Atenção Primária à Saúde (APS), é um projeto de pesquisa e extensão permanente vinculado à Universidade Federal da Bahia (UFBA) que teve início em 2016. Este projeto foi idealizado para apoiar o fortalecimento do NASF, agora eMulti, por meio da inserção de estudantes da área da saúde no contexto do trabalho interprofissional no território. Nos últimos anos, teve suas atividades estruturadas em três eixos principais: educação em saúde e promoção da saúde, planejamento em saúde, e práticas de reabilitação numa perspectiva ampliada. A partir dessas ações, buscou-se ampliar e fortalecer a formação dos estudantes por meio da integração teoria-prática na APS, bem como promover mudanças no processo de trabalho dessas equipes, à medida que incentiva e desenvolve atividades inovadoras orientadas por uma perspectiva ampliada de saúde, fomentando a criação e implementação de novas tecnologias de cuidado. Apesar do processo recente de fragilização da manutenção do NASF na política de saúde no país, em Salvador as equipes permanecem integradas à Estratégia Saúde da Família (ESF), o que torna a continuidade deste projeto importante para o contexto atual de implantação das eMulti no município.

Descrição da Experiência
Este relato apresenta a experiência de uma estudante bolsista do PRONASF em uma Unidade de Saúde da Família (USF) situada numa comunidade periférica de Salvador, Bahia. A vivência em questão foi realizada semanalmente e possibilitou a inclusão da extensionista em atribuições que compõem a agenda típica das equipes de saúde da Família (eSF’s) e da equipe NASF. Assim, houve participação em reuniões de equipes, sobretudo nas discussões de casos clínicos, visitas domiciliares, planejamento e execução de ações de educação em saúde em sala de espera e no Programa Saúde na Escola (PSE), matriciamento e participação em grupos terapêuticos. Foram feitas também propostas de atividades em resposta às necessidades percebidas no território, como a criação de um grupo de convivência para usuários que sofreram Acidente Vascular Cerebral (AVC) e outro voltado para o desenvolvimento da linguagem infantil com pais e crianças com diagnóstico ou suspeita de Transtorno do Espectro Autista (TEA). A bolsista também apoiou a integração do projeto com atividades de estágios curriculares de graduação e de programas de residência multiprofissional que atuavam na unidade.

Objetivo e período de Realização
O objetivo é discutir a vivência de uma estudante bolsista do PRONASF junto a uma equipe NASF/eMulti de uma USF localizada em Salvador, Bahia, entre agosto de 2022 e dezembro de 2023. Este relato destaca as práticas de saúde desenvolvidas por este projeto no âmbito da APS, ressaltando as atividades realizadas e os impactos observados sob a ótica de uma discente da área da saúde.

Resultados
A inserção da estudante bolsista em atividades práticas, como discussões de casos clínicos, visitas domiciliares, planejamento e ações de educação em saúde, proporcionou compreensão mais ampla das necessidades dos usuários atendidos por esta USF. Todavia, ações, como a criação de grupos, foi prejudicada por diversos fatores ligados à dinâmica do território, como a articulação reduzida entre equipamentos sociais e serviços de saúde, barreiras arquitetônicas que dificultam o acesso à USF e a vulnerabilidade socioeconômica dos participantes. A violência no território também dificultou a realização de atividades como as visitas domiciliares. Nessas visitas, observou-se dificuldade de adesão de algumas famílias aos exercícios terapêuticos propostos pela equipe, agravada pela falta de acessibilidade nas casas dos usuários e no território, que possui um terreno acidentado com muitas escadarias e ladeiras, impossibilitando a mobilidade dos usuários, em sua maioria idosos, domiciliados e/ou acamados. Apesar dos desafios, essa vivência proporcionou capacitação para o cuidado integral na APS e intensificou o uso de tecnologias coletivas de cuidado no NASF, como o atendimento compartilhado.

Aprendizado e Análise Crítica
Essa experiência representou uma imersão profunda na realidade da APS ao revelar características do trabalho e dificuldades enfrentadas pelos profissionais e usuários. As eSF e equipe NASF/eMulti atuaram em conjunto com o PRONASF, estagiários e residentes a fim de fortalecer o atendimento integral às necessidades sociais em saúde observadas, potencializando o propósito de reorientação do modelo de atenção à saúde a partir do trabalho interdisciplinar e multiprofissional na Estratégia Saúde da Família. Todavia, a impossibilidade de implementar as propostas de atividades planejadas devido a diversos obstáculos expressa a complexidade do território e do próprio processo de trabalho na Estratégia Saúde da Família, e que não pode ser ignorada, tanto por trabalhadores quanto por gestores. Portanto, é preciso enfrentar a determinação social dos problemas de saúde para que experiências contra-hegemônicas avancem. Certamente, este é um dos principais desafios a serem enfrentados no processo de consolidação das eMulti no Brasil.

Referências
ARCE, Vladimir Andrei Rodrigues. Núcleos de Apoio a Saúde da Família: uma análise das práticas de saúde e do processo de construção da identidade profissional no contexto de Salvador, BA. 2017.

GIOVANELLA, Ligia et al. Saúde da família: limites e possibilidades para uma abordagem integral de atenção primária à saúde no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 14, p. 783-794, 2009.

ALVES, Vânia Sampaio. Um modelo de educação em saúde para o Programa Saúde da Família: pela integralidade da atenção e reorientação do modelo assistencial. Interface-Comunicação, saúde, educação, v. 9, p. 39-52, 2005.

Fonte(s) de financiamento: PERMANECER UFBA


Realização:



Patrocínio:



Apoio: