53275 - EXTENSÃO CURRICULARIZADA COMO ESTRATÉGIA POTENCIALIZADORA DO PAPEL SOCIAL DAS UNIVERSIDADES E EMANCIPAÇÃO DE SUJEITOS: COMPARTILHANDO UM CAMINHAR LAVINIA BOAVENTURA SILVA MARTINS - BAHIANA, ROBERTA LUCIANA RODRIGUES BRASILEIRO DE CARVALHO - BAHIANA, EDNEIA CARLA PASSOS DOS SANTOS - BAHIANA, LUCIANA OLIVEIRA RANGEL PINHEIRO - BAHIANA, CAROLINA PEDROZA DE CARVALHO GARCIA - BAHIANA, JULI FERREIRA DE OLIVEIRA - BAHIANA, PATRÍCIA GABRIELE CHAVES DOS SANTOS - BAHIANA
Contextualização A extensão universitária consiste em um processo educativo, ético e político, que proporciona uma interação dialógica entre atores sociais da academia e da comunidade, tendo potencial de promover transformações sociais (Brasil, 2012). Na discussão da curricularização da extensão é preciso a reflexão constante de como podemos pensar em políticas de formação sem dissociar de que tipo de educação queremos para nós enquanto sociedade, com o principal ensejo de tornar real a formação em saúde dialógica e socialmente contextualizada e referenciada. Desta forma, a curricularização da extensão nas Universidades, quando adota o referencial teórico e metodológico da educação popular, favorece o diálogo democrático, a problematização da realidade e a construção compartilhada de conhecimentos, para o alcance da emancipação de sujeitos. O processo de implementação da extensão curricularizada na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (Bahiana), em Salvador-BA, tem sido delineada por uma comissão formada por docentes, coordenação de Núcleo Comum e pró reitoria de Extensão, tendo como referencial a Educação Popular em Saúde.
Descrição da Experiência As atividades de extensão do eixo da Saúde Coletiva foram planejadas e realizadas nos componentes curriculares Processos Psicossociais e Saúde, Processos Psicossociais e Direitos Humanos, Técnicas e Práticas de Investigação em Psicologia – no curso de Psicologia; Saúde Coletiva I e II nos cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Medicina, Odontologia, Educação Física e Biomedicina. Os componentes reúnem estudantes do primeiro e segundo semestres dos cursos supracitados, distribuídas/os em grupos multiprofissionais, de modo a promover a atuação interprofissional, havendo uma/um docente responsável pela condução das atividades pelos grupos nos territórios/campos (escolas públicas, equipamentos de cuidados e/ou organização política para grupos vulnerabilizados). Cada grupo de estudantes participou de cinco encontros, os quais contemplavam as seguintes etapas: 1. apresentação geral das atividades de extensão; 2. acolhimento e diálogo sobre o referencial teórico e metodológico e contexto sociocultural de cada população nos territórios/campos; 3. visita aos territórios, nos quais foram desenvolvidas as atividades para escuta inicial das lideranças locais, pessoas interessadas em participar das ações para levantamento de demandas a serem discutidas em encontros de educação em saúde 4. planejamento de atividades educativas; 5. realização e avaliação das atividades planejadas.
Objetivo e período de Realização Curricularizar a extensão universitária na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, contribuindo com a indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão, o papel social da universidade na construção de uma sociedade mais justa, solidária e equitativa e uma formação interprofissional em saúde, mais ética, humana e resolutiva. A implementação desse processo teve início no ano de 2023 e segue até o presente momento.
Resultados A escolha ética e política pelo referencial da Educação Popular em Saúde (EPS) proporcionou uma experiência de extensão curricularizada, que teve como base a realidade de vida das pessoas e suas necessidades de saúde, o diálogo, a reflexão crítica sobre os determinantes sociais do processo saúde-doença-cuidado, compreendendo a saúde de modo mais ampliado. As ações desenvolvidas possibilitaram a aproximação e interação de pessoas de contextos sociais, saberes e experiências bastante diversos, proporcionando a construção coletiva de conhecimentos e aprendizados significativos, os quais podem auxiliar a comunidade na elaboração de estratégias para o enfrentamento de questões de saúde. O contato precoce dos estudantes da universidade com o território e as populações agregou sentido e responsabilidade social à formação de futuras e futuros profissionais de saúde. Além disso, a atuação interprofissional favoreceu o florescer de sentimentos de colaboração e integração, que são fundamentais para o desenvolvimento do trabalho em saúde com foco nas pessoas/usuários.
Aprendizado e Análise Crítica A escolha do referencial da EPS como norteadora é uma aposta no trabalho formativo social, que se configura e é orientado pelas vivências dos cotidianos reais, diálogos, trocas de conhecimentos, pensamento crítico e compromisso com as transformações sociais, principalmente no que tange os grupos marginalizados e vulnerabilizados. As experiências têm possibilitado o desenvolvimento de uma formação em saúde ética, cidadã, com atuação direcionada por um processo coletivo de socialização e construção de conhecimentos, habilidades e competências, a partir de reflexões críticas das realidades – principalmente sobre as determinações sociais na tríade saúde-doença-cuidado como um ponto de partida do agir e do cuidar; e que, visa se inserir em uma concepção/ação emancipatória das comunidades e na elaboração de estratégias para o enfrentamento de questões que atravessam a promoção da saúde. Esse movimento de reflexão-ação-reflexão traz consigo, também, uma carga de incômodos, inseguranças, desconfortos, pois mobiliza dentro de cada sujeito conceitos e vivências enraizados e historicamente estruturantes. Assim, para além da justiça sanitária, pode-se alcançar a justiça social e cognitiva, promovendo a encontro dos sujeitos coletivos, favorecendo o diálogo democrático, a problematização das realidades e a construção compartilhada de conhecimentos, para o alcance da transformação social.
Referências BRASIL. Política Nacional de Extensão Universitária. Fórum de Pró-Reitores das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras. 2012.
CECCIM RB. Pacientes impacientes: Paulo Freire. In: BRASIL. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Caderno de educação popular e saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2007, p. 32-45.
CRUZ PJSC, SILVA MRF, PULGA VL, MACHADO AMB, BRUTSCHER VJ. Educação Popular em Saúde: concepção para o agir crítico ante os desafios da década de 2020. Revista de Educação Popular, Uberlândia, p. 6–28, 2020.
FREIRE P. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1987.
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