48558 - CURRICULARIZAÇÃO DA EXTENSÃO E PRÁTICAS EDUCATIVAS NA FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO PARA O SUS
ITAMAR DE ALMEIDA CARNEIRO - UFRB/IRR-FIOCRUZ
Contextualização
As recentes mudanças nos processos formativos do ensino superior aparecem como uma oportunidade para as faculdades e universidades brasileiras
tratarem com indissociabilidade a tríade do ensino, pesquisa e extensão com
vistas a garantir uma formação cidadã que cumpra o verdadeiro papel da universidade que é o de transformar a realidade social. As atividades extensionistas aliadas às novas metodologias de aprendizagens aplicadas ao campo da saúde potencializam o processo ensino-aprendizagem
dos estudantes da graduação em Psicologia, cenário desse relato de experiência. A concepção e a prática das diretrizes previstas no Plano Nacional de Educação devem promover uma reflexão ética quanto à dimensão social do ensino e da pesquisa. Na formação do Psicólogo, essa dimensão está ancorada no Código de Ética Profissional que defende como sua missão precípua, assegurar, dentro de valores relevantes para a sociedade e para as práticas desenvolvidas, um padrão de conduta que fortaleça o reconhecimento social. Nesse sentido, as atividades de extensão visam articular a educação e o território ao Sistema Único de Saúde (SUS), com vistas a formar psicólogos para uma atuação mais ampla da atividade humana, considerando criticamente os múltiplos referenciais que buscam apreender a amplitude do fenômeno psicológico em suas interfaces com os fenômenos ambientais, biológicos, sociais e culturais.
Descrição da Experiência
Trata-se de um relato de experiência vivenciada por estudantes de Psicologia através de visitas e territorialização realizadas em Unidades Básicas de Saúde na Zona Urbana e Rural no interior da Bahia no segundo semestre de 2023. As visitas foram realizadas intermediadas pelas aulas teóricas que discutia o conceito de determinação social da saúde e a aprendizagem sobre tema se deu a partir dos diálogos entremeados pelas leituras, documentários e mediação do professor responsável em tutorias grupais. Cada grupo era composto por 8 ou 10 estudantes que se subdividiam nos territórios e realizaram as visitas aos territórios através de identificação e solicitação ao líder comunitário. No processo de territorialização, os estudantes tiveram a oportunidade de caminhar pelas ruas do bairro, acompanhado pelo Agente Comunitário de Saúde (ACS) e conhecer a realidade da comunidade. Para guiar a observação os estudantes contaram com um instrumento que direcionava para perguntas que pudessem compreender aspectos gerais do território, o funcionamento da APS e do SUS, o trabalho do ACS e por fim, os Determinantes Sociais da Saúde. As visitas foram registradas através de diários de campo e a devolução dos relatos e socialização foi realizada em sala de aula com os grupos através de seminário de afectações.
Objetivo e período de Realização
O principal objetivo dessa experiência foi entender as atividades conduzidas no âmbito da Atenção Primária à Saúde e o funcionamento do trabalho no campo, além de descrever a visão dos estudantes de Psicologia sobre como essa experiência contribui para sua formação. A experiência aconteceu entre os meses de outubro e novembro de 2023.
Resultados
Os resultados dessa experiência evidenciam o potencial dos territórios como locais de aprendizado para os profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS). A imersão proporcionou uma compreensão mais profunda sobre a importância da Atenção Primária à Saúde (APS) na promoção da saúde, bem como o reconhecimento da relevância da atuação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) na garantia do acesso a políticas de proteção e cuidados à saúde, além de acompanhar de perto as famílias residentes no território designado, reconhecendo os determinantes sociais da saúde. Ao percorrer os territórios rurais e urbanos, os estudantes de Psicologia puderam testemunhar e registrar em seus diários afetivos a presença de diferentes realidades que influenciam diretamente no processo saúde e doença. Os determinantes históricos das comunidades, as condições sociais e econômicas, bem como a conjuntura política foram citados como elementos importantes que contribuem para a promoção da saúde. No relato dos estudantes, foi possível capturar o envolvimento com os territórios e a compreensão da sua complexidade e importância para o saber-fazer do profissional de saúde inserido na atenção primária.
Aprendizado e Análise Crítica
A experiência demonstrou que o processo formativo aliado com estratégias que superam os espaços de sala de aula deve cimentar a trajetória do profissional de saúde para a atuação no Sistema Único de Saúde (SUS) através de vivências no território. A atuação do Psicólogo no SUS requer reconhecimento de uma clínica ampliada que compreenda com mais profundidade dos problemas de saúde e seus determinantes, incluindo questões como saneamento básico, acesso a emprego e renda, violência de gênero, abuso de drogas, racismo e outros temas que devem ser discutidos na matriz curricular dos cursos da área da saúde. Esse entendimento contribui significativamente para uma reflexão crítica e proporciona uma reorientação da formação que vai de encontro a uma perspectiva individualista, biomédica e medicalizante. A atividade de extensão em território aqui relatada permitiu aos estudantes de Psicologia uma compreensão do processo de trabalho de uma equipe de atenção primária em sua área de atuação. Além disso, facilitou o estabelecimento de vínculos entre estudantes, ACS e comunidade. Através dessa experiência, foi possível elucidar como os determinantes sociais impactam sobre a saúde e a doença, ao mesmo tempo em que se abriram caminhos para uma formação em Psicologia mais crítica, ética e humana através da integração ensino-serviço-comunidade.
Referências
CARNEIRO, A I, OLIVEIRA L. DE M. Curricularização e promoção da reflexão ética quanto à dimensão social do ensino na formação de
psicólogos. In: Cientíssimo: Coletânea de Artigos Científicos 2023.1/ MENEZES J D de S, FREITAS B S M L, FARO F S. Alagoinhas: Faculdade Santíssmo Sacramento, 2023.
CECCIM RB, FEUERWERKER LCM. O Quadrilátero da Formação para a Área da Saúde: Ensino, Gestão, Atenção e Controle Social. PHYSIS: Rev Saúde Colet (Rio de Janeiro). 2004; 14(1):41- 65.
BRASIL. Lei n. 8.080, de 19 de Setembro de 1990. Lei orgânica da Saúde. Diário Oficial da União, Brasília (1990 Sep 20); Sec 1.
SANTOS AL, RIGOTTO RM. Território e territorialização: incorporando as relações produção, trabalho, ambiente e saúde na atenção básica à saúde. Trab Educ Saúde (Rio de Janeiro). 2010;8(3):387-406
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