52245 - CONTRIBUIÇÕES DA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA DANIELLY CUSTÓDIO CAVALCANTE DINIZ - UECE, SAMILLE MARQUES BULCÃO ROCHA - UECE, JOÃO HENRIQUE CORDEIRO - UECE, HELDER MATHEUS ALVES FERNANDES - UECE, ANA MARIA SAMPAIO COELHO ADEODATO - UECE, AMANDA DIÉSSICA OLIVEIRA DA SILVA - ESP, BRUNA RODRIGUES NUNES - ESP, THALITA JÉSSICA FERREIRA DA ROCHA - SESA, ISRAEL COUTINHO SAMPAIO LIMA - UECE, JOSÉ AIRTON DE FREITAS PONTES JÚNIOR - UECE
Contextualização As Residências Multiprofissionais em Saúde-RMS têm como objetivo a formação de profissionais especializados em um ambiente extra-acadêmico e com enfoque nos processos de trabalho nos serviços. Para regular e configurar essa importante empreitada, aprovou-se a Lei n.º 11.129, de 30 de junho de 2005, que criou a Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde-CNRMS, e instituiu a Residência em Área Profissional da Saúde (Brasil, 2005).
As RMS são voltadas para a educação em serviço e são orientadas pelos princípios e diretrizes da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (BRASIL, 2018). Na Residência Multiprofissional com ênfase em Saúde Coletiva, mais especificamente, busca-se promover a capacidade de compreender os desafios operacionais do Sistema Único de Saúde-SUS e as necessidades de saúde individuais e coletivas de uma determinada população visando a promoção, proteção e recuperação da saúde.
A experiência da formação do profissional de saúde é incrementada pela premissa da Educação Permanente em Saúde-EPS que se encontra com a definição de Mourão et al. (2006), de que a residência multiprofissional incrementa a formação interdisciplinar das diferentes profissões da equipe de saúde, de forma que estes passam a reproduzir de uma nova forma o que vivenciam na prática cotidiana (Brasil, 2018).
Descrição da Experiência Este é um relato de experiência, a partir da vivência das autoras durante a formação como residentes em Saúde Coletiva no estado do Ceará. Foi sistematizado e baseado na proposta de Holliday (2006). O relato parte de uma questão problema: de que forma ocorre o processo de formação profissional, enquanto sanitaristas, a partir da vivência como residentes em Saúde Coletiva?
No primeiro ano a experiência iniciou-se no município de Fortaleza-CE, mais especificamente na Regional de Saúde I, tendo como atividade introdutória a territorialização ao cenário de prática, com o objetivo de conhecer o espaço geográfico que circunda a área das unidades de saúde. Tal vivência trouxe como dificuldade o acesso ao território circunscrito, principalmente por se tratar de uma regional em que a violência e as vulnerabilidades sociais se encontram muito presentes.
No segundo ano, a vivência ocorreu a nível central do estado, na Região de Saúde de Fortaleza, conhecendo a organização do SUS nos 44 municípios que compõem a região cearense. Entre as atividades desenvolvidas destacaram-se a cooperação técnica entre os municípios que compõem a região, a organização e estruturação das Redes de Atenção à Saúde, a implantação e fortalecimento das Políticas Públicas de Saúde, o monitoramento e avaliação dos indicadores, as habilitações e o credenciamentos de serviços nas unidades da atenção especializada.
Objetivo e período de Realização Relatar a experiência enquanto residentes em Saúde Coletiva, com ênfase nos processos de gestão da Atenção Primária à Saúde, Centros de Atenção Psicossocial, Coordenadoria Regional de Saúde de Fortaleza-CE e Superintendência da Região de Saúde de Fortaleza, entre março de 2022 a fevereiro de 2024, com carga horária de 60 horas/semanais.
Resultados A vivência nos espaços de gestão, proporcionaram uma compreensão da realidade dos dispositivos que compõem a Região de Saúde de Fortaleza, assim como as especificidades, desde a gestão de um equipamento de saúde, aos processos de trabalho na gestão estadual. Foi possível vivenciar de forma imersiva durante o segundo ano a gestão em saúde e a regionalização do SUS no Ceará. Desse modo, a vivência em diversos cenários contribuiu para a formação de profissionais sanitaristas com competências científicas e políticas.
Algumas dificuldades foram enfrentadas, foi percebido um vazio causado pelo distanciamento com a comunidade e as demais equipes de residência com ênfase em Saúde da Família e Comunidade e da Saúde Mental Coletiva a partir da mudança do cenário de prática do nível municipal para o nível estadual.
As RMS têm um potencial transformador na formação de profissionais de saúde, pois qualificam o trabalhador para uma atuação coerente, responsável e emancipatória. Tal formação ajuda a alcançar os objetivos traçados a partir dos princípios do SUS, vivência integradora do quadrilátero da EPS, entre o ensino, serviço, gestão e controle social em campo determinado.
Aprendizado e Análise Crítica Vivenciar a RMS em Saúde Coletiva oferece oportunidades de crescimento e aprendizado, demandando dedicação por parte dos profissionais. Esse modelo de educação na saúde garante uma formação que se faz de fato permanente e de qualidade aos profissionais que atuam no SUS, ampliando e multiplicando os processos de trabalho emancipatórios por toda a Rede de Atenção à Saúde (Ceccim, 2005).
A RMS permitiu às residentes um espaço de articulação ensino-aprendizagem, no qual se destacou a amplitude de conhecimentos proporcionada pela Saúde Coletiva, a capacidade de ter consciência do estado atual do SUS e a contribuição real que a área pode oferecer para a estruturação da saúde no país.
Por outro lado, a vivência evidenciou alguns desafios significativos no campo da Saúde Coletiva, correlacionados com o financiamento insuficiente, desigualdades socioeconômicas nos territórios e resistência a mudanças por parte dos atores de construção do SUS (gestores, profissionais e usuários) dos serviços experienciados. Desafios estes que são possíveis obstáculos para a efetivação das práticas interdisciplinares, almejadas pela Saúde Coletiva, enquanto campo de prática. Desse modo, ser sanitarista vai além de fazer levantamentos de dados de saúde, diagnósticos ou vistorias, é firmar o compromisso com a transformação do SUS.
Referências BRASIL. Ministério da Educação. Portaria Interministerial MEC/MS nº 16, de 22 de dezembro de 2014.
BRASIL. Lei Nº 11.129, de 30 de junho de 2005. Institui o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – ProJovem; e dá outras providências.
BRASIL, M. D. S. Política Nacional de Educação Permanente em Saúde: o que se tem produzido para o seu fortalecimento?. Brasília: Departamento de Gestão da Educação na Saúde, 2018.
CECCIM, R. B. Educação permanente em saúde: desafio ambicioso e necessário. [s. l.], 2005.
HOLLIDAY OJ. Para sistematizar experiências. 2. ed. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2006.
MOURÃO, A. M. A. et al. A Formação dos Trabalhadores Sociais no Contexto Neoliberal. O Projeto das Residências em Saúde da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora. In: MOTA, A. E. et al. Serviço Social e Saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: OPAS: OMS: Ministério da Saúde, 2006. p. 352-380.
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