Roda de Conversa

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
RC8.6 - A potencia do Processo de Formação Profissional

50814 - A SAÚDE MENTAL DA EQUIPE DE RESIDENTES MULTIPROFISSIONAL EM UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA EM ONCOLOGIA
HELDER MATHEUS ALVES FERNANDES - UECE, ISRAEL COUTINHO SAMPAIO LIMA - UECE, ERIC WENDA RIBEIRO LOURENÇO - UECE, JOÃO HENRIQUE CORDEIRO - UECE, DANIELLY CUSTÓDIO CAVALCANTE DINIZ - UECE, ELIZANGELA LUCIANA BOTELHO DE AZEVEDO GONÇALVES - UECE, ALEXIA JADE MACHADO SOUSA - UECE, MARINA FERREIRA DE SOUSA - UECE, IAGO ALMEIDA DA PONTE - UECE, JOSÉ JACKSON COELHO SAMPAIO - UECE


Contextualização
A saúde mental se entrelaça com as características individuais do sujeito e da forma como ele enxerga o mundo e seu próprio devir-a-ser. Assim, a expressão saúde mental no ambiente de trabalho, tomando como cenário de praticas a oncologia e seu processo de profissionalização, por meio da residência multiprofissional em saúde, deve ser concebida como campo de ações criticamente integradas. Para tanto, é preciso haver interdisciplinaridade, onde o processo seja concretizado de forma colaborativa, participativa e dialógica (Lima et al., 2022). É este processo de construção colaborativa, que irá favorecer a compreensão das diferenças individuais e ideológico-teóricas, diante da organização laboral (Sato; Bernardo, 2005). Fatores estes, que tendem a influenciar a concepção de ter ou não saúde mental pelos trabalhadores em processo de formação, como os residentes em oncologia. Logo, as condições de saúde mental da equipe multiprofissional em serviços de oncologia, demandam incialmente, um ambiente de trabalho adequado e saudável para a execução da prática. Estes trabalhadores, estão em constante contato com as diversas formas de manifestação da dor e do sofrimento, daqueles que vivem com o adoecimento oncológico, seja em fase de tratamento ou em estágio terminal (Santos; Máximo, 2021).

Descrição da Experiência
Trata-se de um relato de experiência, sistematizado e ancorado na proposta de Holliday (2006), tendo como questão norteadora: quais fatores contribuem para as condições de saúde mental da equipe multiprofissional de um hospital referenciado em Oncologia? A experiência foi vivenciada durante o processo de formação do autor principal do estudo, enquanto integrante da Residência Multiprofissional em Saúde-Resmulti, com ênfase nos residentes com trabalho pertinente ao campo da Oncologia, diante do processo de ensino-aprendizagem e prática em campo vivo. O grupo foi composto por nutricionista; psicólogo; assistente social; fisioterapeuta; enfermeiro e farmacêutico. O cenário do estudo foi um hospital de referência em Oncologia para o estado do Ceará, no período de fevereiro de 2022 a março de 2024, com carga horária de sessenta horas semanais. A recuperação do processo vivido ocorreu por meio de anotações em Diário de Campo. As reflexões permitiram problematizar a interrelação entre o trabalho em Oncologia/saúde mental do trabalhador. As reflexões de fundo permitiram reconhecer o hospital oncológico como campo passível de reconstrução das ações e da própria atenção, diante de melhores práticas de trabalho que podem resultar em bem-estar para os que prestam cuidado, por meio da comunicação dialógica e da dinâmica psicossocial do trabalho.

Objetivo e período de Realização
Objetivou-se relatar a vivência, enquanto nutricionista residente, sobre os fatores que contribuem para as condições de saúde mental da equipe da Resmulti em um hospital cearense de referência em Oncologia. O estudo se deu entre o período de dois anos, entre fevereiro de 2022 e março de 2024.

Resultados
O processo de ensino-aprendizagem, da equipe Resmulti em Oncologia, se deu nos setores de Radioterapia, Quimioterapia, Unidades de Internação, Unidade de Terapia Intensiva, Cuidados Paliativos, Atendimento Ambulatorial, Visita Domiciliar, Triagem e Emergência Oncológica. O cenário apresentou-se rico de experiências a serem trilhadas, mas que, com o caminhar da equipe, percebeu-se que não houvera o preparo prévio e o acolhimento devido para lidar com os processos de trabalho essenciais do serviço. Pôde-se vivenciar intensa jornada de trabalho, com insuficiente preparo teórico-prático dos tutores e preceptores, diante das habilidades e competências requeridas para lidar com o cuidado oncológico. Situações estas que causaram na equipe da Resmulti, a sensação de insegurança diante da própria prática laboral. Em muitas situações, os residentes assumiam setores sem haver supervisão. Desta forma, os residentes foram afetados psicologicamente por insegurança, percepção de abandono, condições inadequadas ao processo formativo profissional relacionadas à complexidade do cuidado oncológico. (Farias et al., 2023).


Aprendizado e Análise Crítica
O comprometimento da saúde mental dos residentes demanda soluções em diversas esferas da educação e do processo de trabalho no campo da Oncologia, exigindo uma prática colaborativa e interdisciplinar nas diversas realidades da atenção oncológica, incluindo a participação do paciente e do acompanhante, e a cooperação entre profissional de saúde e gestão para que se consolide o direito à saúde com atenção de qualidade. A situação problematizada está em desacordo com a própria proposta da Política Nacional de Controle do Câncer-PNCC e da Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão em Saúde-PNH (BRASIL, 2013) diante da atenção oncológica, no que diz respeito ao processo de ensino supervisionado, trabalho interdisciplinar, gestão coparticipativa e colaborativa. Portanto, é importante que os programas da Resmulti em Oncologia sejam avaliados de forma coesa e crítica, não só na construção do seu plano de ensino teórico como na prática em si. Para que a formação profissional, enquanto objetivo principal do Sistema Único de Saúde-SUS, ocorra em ambientes saudáveis, com boas práticas de gestão, as quais repercutam na qualidade da atenção e do cuidado prestado aos usuários dos serviços oncológicos.


Referências

FARIAS, C. P. et al. Sofrimento e solidão: narrativas de profissionais do setor de oncologia. Psicologia em Estudo, [s. l.], v. 28, 2023.

LIMA, I. C. S. et al. Repercussões e estratégias de cuidado em saúde mental: cuidando do trabalhador de saúde no enfrentamento da COVID-19: Repercussions and care strategies in mental health: taking care of the health worker in coping with COVID-19. Revista de Saúde Coletiva da UEFS, [s. l.], v. 12, n. 2, p. e7755–e7755, 2022.

SANTOS, M. T. F. D.; MÁXIMO, T. A. C. D. O. A Cooperação no Trabalho para Profissionais que Atuam em Hospitais Oncológicos. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, [s. l.], v. 21, n. 4, 2021.

SATO, L.; BERNARDO, M. H. Saúde mental e trabalho: os problemas que persistem. Ciência & Saúde Coletiva, [s. l.], v. 10, n. 4, p. 869–878, 2005.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização - PNH. Brasília: Ed. Ministério da Saúde, 2013c.


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