54351 - ATUAÇÃO DA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL INTEGRADA EM SAÚDE COLETIVA COM ÊNFASE EM AGROECOLOGIA (REMISCA) NO TERRITÓRIO DE SÍTIO CRUZ, GARANHUNS-PE. EMILLY MARCELA MENDES DE SOUZA - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE, MARCELA CAROLINE DA SILVA MOURA - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE, TAYNARA SABRINA LIMA DE ALBUQUERQUE - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE, NILSON HENRIQUE DIAS DA SILVA - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE, THALITA ANALYANE BEZERRA DE ALBUQUERQUE - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE, JÚLIA IRENO DI FLORA, - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE, LORENA CORREIA LEAL ROCHA - UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE, MARIA VALDELICE ALVES DE MELO - SECRETARIA DE SAÚDE DE GARANHUNHS - PE
Contextualização A comunidade Sítio Cruz fica localizada na zona rural do município de Garanhuns, Pernambuco – um dos lócus de atuação do Programa de Residência Multiprofissional Integrado em Saúde Coletiva com ênfase em Agroecologia, ofertado pela Universidade de Pernambuco (UPE), multicampi Garanhuns. Os residentes atuam por meio da construção colaborativa e contínua de atividades de territorialização em saúde, diagnósticos participativos e ações a partir das estratégias de educação popular em saúde, e desenvolvimento da Saúde Coletiva no território em questão. Essa vivência teve início em setembro de 2022 e segue em curso.
A comunidade possui um histórico de intensa organização social com profundo envolvimento das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) que contribuíram na mobilização pela luta por direitos no território, principalmente ao acesso à terra, à saúde e à democracia (SANTOS, et. al, 2022), refletindo na criticidade dos seus moradores sobre as relações que estruturam a sociedade atual.
A produção de alimentos de base agroecológica, bem como sua comercialização em feiras no núcleo urbano do município e produtores com formação técnica em Agroecologia pelo Serviço de Tecnologia Alternativa (SERTA), fortalecem o debate local sobre as tecnologias agroecológicas além de contar com uma Associação de Moradores e a organização do Banco Comunitário de Sementes Nova Vida.
Descrição da Experiência As atividades da Residência em Sítio Cruz são construídas entre coordenação, residentes e comunidade, e de forma participativa, um instrumento de coleta de dados é elaborado para realizar um diagnóstico territorial. Atrizes/atores-chave são identificados e a construção de vínculo é essencial para compreensão dos modos de vida locais. Aspectos sociopolíticos, culturais, produtivos e situação de saúde são aferidos por meio do instrumento. Esta territorialização é contínua, acontece por meio da articulação de residentes, equipamentos e organizações sociais. Encontros e metodologias ativas de rodas de conversa, reuniões intersetoriais e círculos de cultura, além da avaliação e diagnóstico participativo com técnicas, como a “Que bom, que pena e que tal?” também foram realizados. Objetivos: partilha das percepções sobre a comunidade, acolhimento, reflexão coletiva e sistematização do conteúdo abordado para posterior planejamento de ações. Estas ações refazem a lógica hegemônica de organizações verticalizadas, rígidas e redistribui o poder político aos atores envolvidos. Fortalece a coesão de coletivos e gestores enquanto papel democrático desfazendo assimetria de poderes dentro dos territórios. Ainda assim, contribui para conscientização e diálogo entre diversos saberes de questões administrativas reconhecendo limites e benefícios da gestão.
Objetivo e período de Realização O trabalho tem como objetivo evidenciar as possibilidades e potencialidades na interação entre residentes de um programa de residência em saúde coletiva – quando parte de uma perspectiva ampliada de saúde que considera os condicionantes sociais da saúde – com atores sociais comunitários, instituições e equipamentos sociais do território camponês de Sítio Cruz, na articulação intersetorial, promoção da saúde humana e de territórios saudáveis, bem como da autonomia e pensamento crítico.
Resultados Foram realizadas ações que possam beneficiar o território a partir do diagnóstico aferido pelos seres coletivos da região, como encontros para troca de conhecimentos sobre plantas medicinais e posterior construção de cartilha, palestras em sala de espera, planejamento de atividade pelo Programa Saúde na Escola, debates sobre sementes crioulas, divulgação de atividades de educação física realizadas pelos profissionais de saúde e debates na escola sobre sexualidade. Para isso, foram utilizadas metodologias participativas, através de dinâmicas, jogos, recursos audiovisuais e exposição dialogada. Foi um momento de discussão, troca e educação em saúde com estudantes adolescentes, que solicitaram a continuidade das ações. Também foram discutidas outras atividades a serem realizadas que envolvem: a realização de um itinerário de memórias do Sítio Cruz; oficinas sobre construção de políticas públicas com a juventude; articulação para criação de conselho de saúde local; continuidade com grupo sobre plantas medicinais do território; realização de um portfólio de receitas culinárias com os alimentos agroecológicos produzidos na comunidade e feira de profissões com foco em ruralidades.
Aprendizado e Análise Crítica A experiência narrada configura a busca pela construção de práticas de saúde que valorizem e prescindem da construção coletiva e do protagonismo comunitário. O uso de metodologias participativas revela uma visão de mundo que compreende o papel ativo do sujeito no processo de conscientização e transformação de sua realidade. Para isso, o grupo de residentes têm buscado promover a participação dos comunitários, desde o diagnóstico, planejamento, execução e avaliação das atividades (ALBUQUERQUE, et al, 2022). O processo vem criando um espaço de troca de saberes em que os diferentes grupos envolvidos criam juntos estratégias para alcançar os seus objetivos comuns, em um constante movimento de escuta, questionamento e aprendizagem. Essa dinâmica é favorecida pelo histórico de mobilização social e senso de coletividade que, embora enfraquecido nos últimos anos, segue importante no território. Ademais, o caminho percorrido até aqui têm demonstrado inúmeras possibilidades de conexão entre a saúde e a Agroecologia, na especificidade de uma comunidade rural. Para tanto, é necessário ampliar a noção de saúde para além das condições sanitárias e do processo de saúde-doença - embora estes sejam também fundamentais - e reconhecer o papel da Saúde Coletiva enquanto promotora de articulações e diálogos comunitários e intersetoriais e para a efetivação das políticas de saúde nos territórios.
Referências ALBUQUERQUE, Thalita Analyane Bezerra de et al. UMA EXPERIÊNCIA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E AGROECOLOGIA ATRAVÉS DO RESGATE DE SABERES TRADICIONAIS EM UMA COMUNIDADE CAMPONESA DO AGRESTE DE PERNAMBUCO. In: ANAIS DO 13º CONGRESSO BRASILEIRO DE SAúDE COLETIVA, 2022, Salvador. Anais eletrônicos... Campinas, Galoá, 2022.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2017.
SANTOS, Guilherme Ricardo Pereira et al. RESGATE HISTÓRICO DA LUTA DOS MOVIMENTOSPOPULARES NUMA COMUNIDADE CAMPONESA DO AGRESTE PERNAMBUCANO E SEUS ATRAVESSAMENTOS PRESENTES. In: ANAIS DO 13º CONGRESSO BRASILEIRO DE SAúDE COLETIVA, 2022, Salvador. Anais eletrônicos... Campinas, Galoá, 2022.
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