53938 - A INTEGRAÇÃO ENSINO-COTIDIANO COMO ESTRATÉGIA DE GESTÃO NA RAPS: UMA EXPERIÊNCIA DE PESQUISA KARINA MORAES BERMUDEZ - ENSP/FIOCRUZ E FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE SAÚDE DE NITERÓI, ELIZABETH ARTMANN - ENSP/FIOCRUZ, RENATA ALVES DE PAULA MONTEIRO - UFF
Apresentação/Introdução Este trabalho surge da convicção na importância de um processo de formação articulado em rede, na rede e para a rede, que se sustenta pela função de seus diferentes atores em relação no processo formativo. É um estudo sobre a integração ensino-serviço-comunidade, suas interfaces, contribuições, impasses e aporias para o fortalecimento da gestão na Rede de Atenção Psicossocial (Raps) no campo público da Rede de Niterói, ou seja, sobre o encontro entre discentes, docentes, profissionais de saúde, usuários e gestão. A ênfase foi dada nos efeitos das ações dessa integração ou desintegração na formação dos estudantes e no funcionamento da Raps de Niterói.
É no período de formação que se tem a possibilidade de construção de um perfil profissional responsável e participativo, em que o estudante pode se interrogar acerca de seu nível de compromisso com o desenvolvimento de uma prática que atenda às inúmeras necessidades de saúde da sociedade, tendo as especificidades de cada usuário como fio condutor para a sua direção de trabalho. E isso se faz contando com espaços de formação reflexivos, que problematizem as experiências em curso visando à produção de conhecimentos.
Dessa forma, a integração ensino-cotidiano pode representar uma possibilidade para qualificar simultaneamente a formação e o cuidado em saúde no SUS, com vistas a alcançar a efetivação de seus princípios.
Objetivos O estudo investigou a integração entre ensino-cotidiano nos serviços de saúde, analisando seus efeitos na formação de estudantes e na gestão de redes de cuidado na Atenção Psicossocial. Os objetivos específicos foram: discutir o papel dos serviços públicos de atenção psicossocial na formação; analisar como ocorre a integração para os atores envolvidos, identificando os nós críticos e oportunidades; refletir sobre a formação em serviço como estratégia de gestão na Raps.
Metodologia Partimos de três pressupostos: 1) A formação profissional em serviço tem um importante grau de influência para a consolidação de uma rede de cuidado integral e oportuniza a identificação de aspectos a serem tomados como estratégia de gestão. 2) A gestão no/do SUS se constitui como uma atividade complexa, que requer das equipes gestoras a compreensão de um conjunto de habilidades e competências para superar os desafios vivenciados nessa área. 3) A articulação entre os serviços e as instituições de ensino pode se configurar como uma boa estratégia para mitigar essa complexidade.
A investigação qualitativa foi conduzida a partir de um estudo de caso sobre a Raps de um município do Rio de Janeiro, Brasil, envolvendo duas universidades. A pesquisa apoiou-se em revisão bibliográfica sobre o tema, diário de campo e entrevistas (n = 45) com docentes, discentes, preceptores e usuários. A Análise do Discurso (AD) foi utilizada para a apreciação dos dados, delimitando-se quatro categorias de análise: I. Interface entre disciplinas e cenários de práticas em contexto; II. Integração ensino-cotidiano; III Efeito para os atores; IV. Raps como ordenadora da formação de trabalhadores para o SUS.
Resultados e Discussão Os resultados revelam críticas sobre a baixa integração entre disciplinas teóricas e a prática nos serviços. Iniciativas que estabelecem parcerias entre instituições de ensino e serviços de saúde oferecem aos estudantes oportunidades de vivenciar o cotidiano dos serviços, contribuindo significativamente para a formação. No entanto, diversos obstáculos dificultam a efetivação desse processo. A articulação entre teoria e prática é um desafio crítico, com a prática sendo uma exigência da relação teoria/prática.
É necessário que integração entre as instituições de ensino estudadas, as práticas e os serviços de saúde vão além de simplesmente aproximar os atores possibilitando uma melhor preparação dos estudantes para os ambientes de prática. A proximidade almejada visa não apenas formar e qualificar os estagiários para o campo, mas também promover um trabalho de responsabilidade compartilhada, envolvendo retroalimentação entre a universidade e a rede de atenção psicossocial.
A integração ensino-cotidiano fortalece a rede de atenção psicossocial, tanto pela prática de ensino nos dispositivos de saúde quanto pela formação contínua das equipes, induzida pela presença dos estudantes e pela gestão. Esse contexto implica novas dinâmicas nas unidades de saúde, com redefinição de responsabilidades entre serviços/gestores, trabalhadores, estudantes, docentes e a população, conforme observado ao longo do estudo.
Desse modo, a integração entre ensino e cotidiano é ação estratégica, demandando uma gestão que adote uma postura dialógica e em rede. Permite a identificação de áreas de melhoria e se revela como uma oportunidade estratégica de gestão na garantia de políticas públicas alinhadas aos princípios do SUS e para uma formação de qualidade, articulada aos contextos reais de cuidado.
Conclusões/Considerações finais A integração entre instituições de ensino, práticas e serviços de saúde ainda apresenta fragilidades. Essa integração requer que as instituições de ensino e os docentes atuem como agentes críticos e fomentadores na condução das políticas de atenção à saúde, na organização em rede e na direção de um cuidado visando a clínica ampliada, expandindo sua abrangência para as equipes de atenção e gestores. O fio condutor das ações se desenvolve no próprio percurso, tornando-se estratégico para uma gestão eficaz comprometer-se em repertoriar as experiências concretas que atravessam toda a interação cotidiana. As intervenções de cada participante envolvido na formação e no cuidado moldam e organizam os fluxos da rede. O conceito de rede se torna central na estruturação do SUS e serve como uma ferramenta para analisar a dinâmica das relações e dos vínculos entre os seus atores ao articular cuidado e formação, com conexões cotidianas e interações frequentes que lhe conferem densidade.
Referências CECCIM, R.; FEUERWERKER, L. O quadrilátero da formação para a área da saúde: ensino, gestão, atenção e controle social.
LEAL, E.M; DELGADO, P.G.G. Clínica e cotidiano: o CAPS como dispositivo de desinstitucionalização. In: PINHEIRO, R.; GULJOR, A.; SILVA JR. A.; MATTOS, R. (org). Desinstitucionalização da saúde mental: contribuições para estudos avaliativos
ONOCKO-CAMPOS, R. A Gestão: Espaço de Intervenção, análise e especificidades técnicas. In: CAMPOS, G. W. S. Saúde Paideia.
RIVERA, F. J. U, ARTMANN, E. Planejamento e gestão em saúde: conceitos, história e propostas.
Fonte(s) de financiamento: Próprio; solicitação de ajuda de custo com Ensp/Fiocruz e Fundação Municipal de Saúde de Niterói
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