49679 - A RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA COMO FOMENTO PARA A INTERPROFISSIONALIDADE NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE LILIAN BERTANDA SOARES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO - UFES, CAROLINA DUTRA DEGLI ESPOSTI - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO - UFES
Apresentação/Introdução As Residências Multiprofissionais em Saúde, criadas em 2005 com incentivo dos Ministérios da Saúde e da Educação e Cultura, são consideradas uma pós-graduação lato sensu voltadas para a educação em serviço, na perspectiva da Educação Permanente em Saúde (EPS). Seu objetivo é formar profissionais para atuação no Sistema Único de Saúde (SUS) e diferenciam-se de outros tipos de especialização por terem a maior parte da carga horária desenvolvida no campo de prática, sob orientação de um profissional preceptor. Na Atenção Primária à Saúde (APS), principal porta de entrada ao sistema de saúde, a Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RMSF) apresenta-se como ferramenta potente para o desenvolvimento da Educação Interprofissional (EIP). A EIP é definida pelo aprendizado de dois ou mais profissionais de núcleos de saber diferentes, de forma mútua e interativa. O intuito da EIP é melhorar o cuidado ofertado por meio da prática colaborativa, que fornece ao usuário, família e comunidade uma assistência integral, observando as particularidades do território no qual estão inseridos, atendendo aos princípios basilares SUS. Dessa forma, as RMSF, em conjunto com as equipes multiprofissionais da Estratégia Saúde Família (ESF), podem contribuir para assegurar a continuidade do cuidado e a resolução dos problemas mais comuns no território por meio da interprofissionalidade.
Objetivos O objetivo desta pesquisa é compreender, na percepção de residentes, as contribuições da RMSF para a formação interprofissional para a APS, assim suas sugestões para melhoria deste processo.
Metodologia Trata-se de uma pesquisa descritiva-exploratória de natureza qualitativa tendo como cenário do estudo o município de Vitória, capital do estado do Espírito Santo. Participaram do estudo residentes do Programa de RMSF vinculado à ESF do município e ofertado pelo Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação. Os critérios de inclusão para participação na pesquisa foram: ser profissional de saúde residente há pelo menos seis no Programa de RMSF, tempo esse considerado necessário para adaptação ao cenário de prática. Os critérios de exclusão foram: residentes que estivessem em gozo de férias, em licença médica e/ou afastados por algum motivo; e possuir conhecimento prévio sobre o projeto desta pesquisa. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas baseadas em roteiro-guia contendo questões sobre a temática do estudo, realizadas no período de novembro de 2023 e janeiro de 2024 e gravadas em áudio. O material empírico foi analisado segundo a Análise de Conteúdo Temática, proposta por Minayo. O estudo teve liberação do Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE 74524423.5.0000.5060). Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento livre e esclarecido (TCLE).
Resultados e Discussão Dos 31 residentes vinculados à RMSF, 30 atendiam aos critérios de seleção e participaram da pesquisa. Os mesmos estavam alocados em oito campos de prática diferentes e pertenciam às seguintes profissões: seis dentistas; seis enfermeiros; cinco psicólogos; quatro nutricionistas; dois assistentes sociais; dois farmacêuticos; dois fisioterapeutas; um educador físico; um fonoaudiólogo; e um terapeuta ocupacional. Dentre eles, 15 não possuíam experiência profissional prévia, 18 cursaram a graduação em universidades públicas e 23 relataram que a motivação para o ingresso na RMSF foi a possibilidade de atuar no contexto da APS. A análise dos dados revela que, na percepção dos residentes, a RMSF contribuiu para sua formação para a prática interprofissional. Afirmaram terem aprendido sobre as competências de cada área profissional, com destaque para a Psicologia. Além da clareza de papeis, exercitaram o trabalho em equipe e ampliaram sua visão sobre as necessidades de saúde em atividades com grupos de usuários, atendimentos compartilhados e reuniões de equipe, entendidos como espaços favoráveis para o desenvolvimento da EIP. Como sugestões para melhoria da interação entre os profissionais e desenvolvimento da EIP, citou-se a necessidade de garantia de espaços nas agendas para atuarem em conjunto. Sobre as tutorias, falou-se da necessidade dos encontros serem presenciais, de maior aproximação entre teoria e a prática vivenciada em campo e de redução da sobrecarga dos residentes causada pelas demandas do Programa. No campo de práticas, reforçaram a importância da gestão e dos demais profissionais conhecerem a RMSF, da manutenção de equipes completas, do treinamento dos preceptores e da supervisão de um profissional do mesmo núcleo de saber.
Conclusões/Considerações finais O estudo possibilitou identificar, na percepção de residentes, as contribuições da RMSF para o desenvolvimento da EIP no processo de formação na APS. É notório que a configuração de equipes com profissionais de áreas diferentes em um mesmo campo de prática, existente no Programa, facilita a educação para uma prática interprofissional, com destaque para a clareza de papeis e o trabalho em equipe. Além disso, as tutorias reforçam a importância da prática interprofissional a partir do estudo de casos que convergem os conhecimentos adquiridos na graduação e permitem compartilhar saberes, visando o cuidado integral. Apesar dos avanços, há a necessidade de investir em EPS para os profissionais e gestores, para que apoiem as mudanças propostas nas práticas profissionais e, com isso, propiciem o desenvolvimento da EIP, focando em atender aos requisitos exigidos pelos princípios do SUS.
Referências BARR, H. Interprofessional Education: Today, Yesterday and Tomorrow - A review. CAIPE, 2002. Disponível em: https://www.caipe.org/resources/publications/caipe-publications/caipe-2002-interprofessional-education-today-yesterday-tomorrow-barr-h. Acesso em: 13 jun. 2023.
BRASIL. Plano Nacional de Fortalecimento das Residências em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2021.
MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14. ed. São Paulo: Hucitec, 2014.
BRASIL. Resolução no 466, de 12 de dezembro de 2012. Aprova diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. 2012. Disponível em: https://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf. Acesso em 28 maio 2024.
STARFIELD, B. Atenção Primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: Ministério da Saúde, 2002.
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