Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC8.4 - Planejando e vivênciando as Residências em Saúde

52589 - ESTUDO SOBRE EVASÃO DE PROGRAMAS DE RESIDÊNCIAS MÉDICAS, MULTIPROFISSIONAIS E UNIPROFISSIONAIS.
CRISTIANA LEITE CARVALHO - PUC-MG, UFMG, SAMUEL ARAÚJO GOMES DA SILVA - UFMG, ANA CRISTINA DE SOUSA VAN STRALEN - UFMG, ANA CAROLINA MACIEL DE ASSIS CHAGA - UFMG, JACKSON FREIRE ARAÚJO - UFMG, LUCAS PEREIRA WAN DER MAAS - UFMG, SABADO NICOLAU GIRARDI - UFMG


Apresentação/Introdução
No Brasil, há várias maneiras de um profissional de saúde obter o título de especialista, incluindo especialização, prova de títulos dos conselhos profissionais e residências. A residência, caracterizada pela formação em serviço, é considerada o "padrão ouro" para especialistas. Iniciadas na década de 1970 para médicos, foram expandidas para outras profissões da saúde em 2005 pela Lei nº 11.129, como Residência em Área Profissional de Saúde (RAPS), tanto uniprofissionais quanto multiprofissionais.
Esses programas são fundamentais para a política de desenvolvimento da força de trabalho em saúde, mas enfrentam desafios como a evasão, que ocorre quando residentes interrompem ou saem prematuramente, afetando a disponibilidade de especialistas qualificados. A literatura indica que a evasão está frequentemente relacionada à carga horária excessiva, qualidade do suporte institucional, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e saúde mental dos residentes. (TAMBLYN et al., 2017; SO et al., 2019; ROHRBAUGH et al., 2018; ZANTEN et al., 2020).
Embora a evasão seja uma questão crítica, o perfil dos profissionais que desistem desses programas e os motivos para tais desistências ainda são pouco explorados no Brasil. Neste sentido, compreender os motivos que levam à evasão é essencial para implementar estratégias eficazes que promovam a retenção e o desenvolvimento desses profissionais.


Objetivos
Identificar os principais fatores que contribuem para a evasão de programas de residência médica, uniprofissional e multiprofissional em saúde no Brasil.


Metodologia
Este estudo exploratório, de corte transversal, foi realizado entre fevereiro e março de 2023 pelo Observatório de Recursos Humanos em Saúde da UFMG e Fundação Oswaldo Cruz. Utilizou-se um questionário on line autoaplicável para entender as razões de evasão de residências médicas e profissionais de saúde. A amostra, extraída do SIG-Residência do Ministério da Saúde, incluiu 10.115 indivíduos, refletindo diversos status de participação no programa. Foram recebidas 1.702 respostas, das quais 1.560 foram validadas e analisadas.
O questionário abordou perfil sociodemográfico, trajetória educacional e profissional, critérios de escolha da residência e motivos para mudança ou desistência. As respostas abertas foram analisadas no NVivo para identificar termos e temas frequentes, agrupados em clusters para melhor visualização e interpretação dos dados qualitativos. Esta análise detalhada permitiu uma compreensão aprofundada dos fatores associados à evasão, com resultados apresentados em termos absolutos e porcentagens para as questões fechadas e temas emergentes para as abertas.


Resultados e Discussão
A maior proporção dos respondentes eram médicos (43,5%), seguido de enfermeiros (32,7%) e psicólogos (14,5%). Houve uma predominância de mulheres, principalmente entre os RAPS. A faixa etária predominante foi entre 30 e 34 anos para ambos os grupos de residentes. Tanto os RM quanto os RAPS residem predominantemente na região Sudeste do país.
A especialidade da RM com maior proporção de respondentes foi a Medicina de Família e Comunidade (18,7%). Em relação à área de concentração das RAPS, a área de Atenção Básica / Saúde da Família apresentou maior proporção (28,1)%. Os três principais motivos para a escolha das especialidades e áreas de concentração destacam-se em ambas as modalidades de residência, não na mesma ordem, a qualificação técnica, a ampliação de oportunidades no mercado de trabalho e a titulação como especialista.
Entre os evadidos de RM os principais motivos revelados foram insatisfação com a instituição, carga horária excessiva e motivos pessoais ou familiares. Já para os RAPS foram motivos profissionais, preceptoria insuficiente e insatisfação com o programa.
A análise qualitativa destacou clusters de termos como "carga horária", "preceptoria e tutoria", e "saúde mental". Fatores como insatisfação salarial e deslocamentos surgiram como temas centrais, sugerindo a importância de abordagens inclusivas e estratégias que melhorem a qualidade da experiência e formação dos residentes. Questões de bem-estar psicológico e a necessidade de apoio na gestão do estresse foram cruciais para entender a evasão, enquanto as intenções de continuidade na formação ofereceram insights para o planejamento de futuros programas de residência.


Conclusões/Considerações finais
Os motivos relacionados à evasão, como carga horária excessiva, assédio moral, baixa remuneração e falhas na preceptoria, destacam a importância de abordagens holísticas e multifacetadas para enfrentar esses desafios. Por exemplo, a frequente menção à carga horária sugere a importância de revisar e possivelmente ajustar às exigências dos programas para balancear as demandas práticas com o bem-estar dos residentes.
Recomenda-se estratégias como suporte à saúde mental, revisão de remuneração, fortalecimento da preceptoria, combate ao assédio e avaliações contínuas. Promover ambientes inclusivos e atender às necessidades logísticas e financeiras dos residentes são essenciais para melhorar a experiência e retenção nos programas.


Referências

BRASIL. Lei no 11.129, de 30 de junho de 2005. Institui o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – ProJovem; cria o Conselho Nacional da Juventude – CNJ e a Secretaria Nacional de Juventude; altera as Leis no 10.683, de 28 de maio de 2003, e 10.429, de 24 de abril de 2002; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 01 julho de 2005.
JACKSON, K.; BAZELEY, P. Qualitative Data Analysis with NVivo. SAGE Publications, 2019.
ROHRBAUGH, R. M., et al. Residency program factors associated with attrition. Academic Medicine, 93(4), 587-594, 2018.
TAMBLYN, R., et al. Assessment of potential impact of medical resident burnout on the quality of patient care. Canadian Medical Association Journal, 189(12), E544-E553, 2017.
ZANTEN, M. V., et al. Exploring the causes of attrition in residency programs: A national survey. Medical Education, 54(8), 673-681, 2020.

Fonte(s) de financiamento: Ministério da Saúde – Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde (SGTES).


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