Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC8.4 - Planejando e vivênciando as Residências em Saúde

52466 - PERFIL E INSERÇÃO PROFISSIONAL DE EGRESSOS DE UM PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL
CARINNE MAGNAGO - FSP/USP, ISABELLA ALMEIDA MORAIS - FSP/USP, WELLINGTON DE FREITAS SANTOS JÚNIOR - FSP/USP


Apresentação/Introdução
A Atenção Primária à Saúde (APS) passou por um amplo processo de modificações durante a década de 1990. A partir da criação da Estratégia Saúde da Família (ESF), pautou-se um novo modelo de atenção à saúde que exigiu um novo perfil profissional. Com a expansão da ESF e a instituição da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, a residência multiprofissional foi regulamentada como modalidade de pós-graduação lato sensu, caracterizada por ensino em serviço. Nesse contexto se encontram os programas de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RMSF), que tomam a APS como espaço privilegiado de ensino-aprendizagem, configurando-se como um dispositivo de ampliação de acesso, de inserção de núcleos profissionais nas equipes dos serviços, e de mudanças de modelo assistencial. Espera-se, nesse sentido, que esses programas promovam a formação de profissionais preparados para responder às necessidades de saúde da população, os quais devem ocupar os cenários configurados pelas APS, atuando de maneira interprofissional, contextualizada e comprometida com o SUS. Não há, contudo, políticas específicas de avaliação dessa modalidade de ensino e, portanto, não se tem indicadores concretos que nos permitam saber se os programas atendem às necessidades da ESF e se tem colaborado para a inserção dos egressos no SUS.

Objetivos
Identificar o perfil sociodemográfico e inserção profissional de egressos de um programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família.

Metodologia
Estudo de caso único, descritivo e quantitativo, do tipo levantamento de campo (survey). A população do estudo foi constituída pelo conjunto de egressos do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Fundação Estatal Saúde da Família/BA, instituído em 2015, em parceria com a Fiocruz-BA. Buscou-se realizar um censo, considerando as vagas ofertadas no período 2015-2020 e o tempo para conclusão do programa. Contudo, de um universo de 405 egressos, apenas 95 responderam ao survey após cinco meses de coleta de dados. Os dados foram coletados por meio de survey online, com aplicação de um questionário autoaplicável, com perguntas sobre o perfil do respondente, sua trajetória acadêmica e profissional e sua experiência na residência. Os dados quantitativos provenientes do survey foram exportados para planilhas do Microsoft Excel, e, após limpeza e organização, transferidos para um banco de dados construído no Statistical Packages for the Social Sciences. Foram empregadas análises descritivas, com cálculo de frequências, percentuais e de medidas de tendência central.

Resultados e Discussão
Entre os respondentes, mais de um terço são mulheres e pessoas que se declaram pretas ou pardas, e 95% se consideram cisgênero e possuem até 39 anos (média de 30,0± 4,1). Solteiros e sem filhos também são maioria. Nenhum respondente afirmou ser pessoa com deficiência. Pouco mais de 80% residem na Bahia; destes, 71% moram na capital Salvador. A maioria se formou em instituição pública (66,3%); em Enfermagem (29,5%) ou Odontologia (28,4%); em curso localizado na Bahia (94,7%); e concluiu a graduação em Salvador (70,5%); no período 2017-2019 (63,1%). Uma lacuna deixada pela graduação foi a falta de preparo para atuar na Atenção Básica e para trabalhar em equipe. O ingresso na residência ocorreu majoritariamente em 2018-2020 (92,6%), sendo as motivações principais o aprimoramento da prática profissional e a possibilidade de vivenciar a realidade do SUS e o processo de trabalho da Atenção Básica. Antes do ingresso no programa, 51,6% (n=46) já haviam trabalhado na área da saúde; após a residência, esse percentual passou para 74,7% (n=71). No momento da pesquisa, 63 egressos disseram estar em um emprego remunerado na saúde. Desses, 50,5% têm apenas um emprego; 56,8% trabalham no mesmo município onde residem; e 58,7% trabalham no SUS. Quanto aos egressos que estão trabalhando na atenção básica (n=30), 70,0% atuam em unidades básicas; 33,3% são vinculados ao serviço via CLT; e 63,3% são contratados diretos de órgãos públicos.

Conclusões/Considerações finais
A avaliação do perfil e inserção profissional de egressos de um programa de residência multiprofissional fornece informações valiosas sobre a eficácia e o impacto de tais programas no contexto do SUS. As descobertas têm implicações para a melhoria do programa, planejamento da força de trabalho e desenvolvimento e aprimoramento de políticas de formação. Neste estudo, identificou-se que pelo menos 70% dos egressos trabalham no SUS em diferentes áreas e níveis de atenção, em algum momento após a residência. No momento da pesquisa, contudo, apenas 52% estavam empregados no SUS. Esse percentual diminui para 32% quando se consideram apenas os que trabalham na atenção básica – foco da residência estudada. Compreender os fatores que norteiam a trajetória e inserção profissional de egressos de residências financiadas pelo Estado no SUS permite aos formuladores de políticas traçar estratégias para maximizar o potencial das residências multiprofissionais para atender às necessidades da população.

Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. A Trajetória da Residência Multiprofissional em Saúde no Brasil. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Residência Multiprofissional em Saúde: experiências, avanços e desafios. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. p. 11-16.
COSTA, W.A.; SANTANA, V.R. A implementação dos Programas Integrados de Residências (FESF/Fiocruz) na Região Metropolitana de Salvador. Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, v. 16, n. 43, 2483, 2021.
YIN, R.K. Estudo de caso. Planejamento e métodos. 5ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2015.

Fonte(s) de financiamento: O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001; e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.


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