Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC8.4 - Planejando e vivênciando as Residências em Saúde

50261 - PRECEPTORIA MULTIPROFISSIONAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE A CONSTRUÇÃO DAS POSSIBILIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM SAÚDE
JULIA NACHLE - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, BEATRIZ MARQUES BOONEN - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, BRUNO WALDMAN GOMES - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, GABRIELA CASSIANO DE ALBUQUERQUE - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, JULIA FLORIANO ZAFALON PONCE - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, ROSANA TERESA ONOCKO CAMPOS - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS


Contextualização
A Reforma Psiquiátrica Brasileira marca a mudança dos modelos de atenção à saúde para pessoas em sofrimento psíquico, buscando o estabelecimento de um novo paradigma de cuidado, através da promoção de um cuidado em liberdade e da construção de redes de apoio comunitários em saúde. Nesse sentido, requer-se a reorientação de práticas e estratégias de cuidado, tanto na gestão, como na atenção à população – marcando portanto a importância do SUS para uma convergência ético-política da produção e promoção de saúde. Repensar os modelos de atenção às pessoas em sofrimento psíquico implica em pensarmos a qualificação dos profissionais, produzindo novas formas de atuação, bem como conhecimentos e práticas para o fortalecimento e ampliação de ofertas de tratamento à população. O SUS contempla a responsabilidade na qualificação dos profissionais, trazendo políticas de formação e de integração entre ensino-serviço-comunidade, visando profissionais mais críticos e reflexivos. O preceptor tem papel fundamental nessa formação, sendo um facilitador do processo ensino-aprendizagem e da construção de campos de saberes e práticas. Além de possibilitar maior qualificação do atendimento dos profissionais em formação, o preceptor também possibilita uma ampliação da clínica, por vezes restrita a um cuidado biomédico, e uma prática alinhada com os princípios da reforma psiquiátrica brasileira.

Descrição da Experiência
A Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP iniciou em 2024 o programa de preceptores, com CH de 20h semanais para o apoio à Residência Multiprofissional e Médica da FCM. A Residência Multiprofissional em Saúde Mental, conta com cinco preceptores, com formação em psicologia e enfermagem, para o apoio e facilitação dos processos de ensino-aprendizagem em cinco serviços: três realizam apoio aos residentes em Centros de Saúde/E-Multi, um na Enfermaria de Psiquiatria em um hospital geral e um preceptor no Serviço de Psicanálise e Matriciamento para Situações de Violência. Assim, a partir do quadrilátero de formação, Ensino, Gestão, Atenção e Controle Social, procura-se possibilitar processos de abertura à experiência e aproximação em discussões de campo e núcleo. As atividades junto aos residentes dividem-se em participações em reuniões, horários de preceptoria, discussão de caso e co-participação em atendimentos e ações no território. Ademais, os preceptores atuam junto a disciplinas de primeiro e segundo ano de alunos da medicina, ampliando temáticas da saúde coletiva e atenção primária.


Objetivo e período de Realização
Relatar a experiência da Preceptoria Multiprofissional em Saúde Mental e Coletiva da Universidade Estadual de Campinas, em serviços públicos de saúde, elucidando e destacando a importância dos preceptores na formação de residentes médicos e multiprofissionais para atuação no SUS. A experiência referida iniciou-se com o programa de Preceptoria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, de fevereiro de 2024 até o presente momento.

Resultados
Diante da experiência de preceptoria, apesar da singularidade da atuação em cada serviço da rede e da residência a ser apoiada, percebe-se que o papel do preceptor em campo tem sido essencial para uma integração entre ensino-serviço-comunidade, qualificando a experiência dos profissionais apoiados. Por vezes, a presença dos preceptores em reuniões de equipe e em espaços de gestão, auxiliaram na manutenção de práticas menos burocratizadas e mais alinhadas à experiência formativa preconizada pelos programas de residência em questão. Entretanto, o papel do preceptor nos serviços e nos locais de atuação ainda é pouco consolidado, em especial o papel do preceptor não-médico. Por conta da figura do preceptor ser pouco delimitada nos campos, o papel deste é facilmente confundido com a atuação dos tutores dos programas de residência e com a atuação dos próprios trabalhadores da rede. Apesar disso, o programa de preceptoria tem ampliado as práticas de ensino-aprendizagem dos residentes multiprofissionais e médicos, possibilitando uma formação para além de modelos de cuidado hegemônicos, bem como tem possibilitado a construção de competências essenciais ao trabalho em saúde.

Aprendizado e Análise Crítica
O investimento na inserção de preceptores não-médicos no apoio de residentes multiprofissionais e residentes médicos potencializa a reorientação de práticas e estratégias de cuidado confluentes aos marcadores ético-políticos do SUS. A partir das intervenções de preceptoria é possível privilegiar a construção de espaços de reflexão e concepção da identidade clínica de cada residente. Possibilidades de recuo frente a uma prática que, muitas vezes, convida à uma lógica produtivista e ambulatorial auxiliam em uma boa inserção do residente em seu percurso de formação através do trabalho. Espaços de reflexão auxiliam, também, na compreensão institucional do equipamento de saúde que se insere, munindo o profissional apoiado de teoria e manejo necessário para realização adequada de suas funções, sem perder de vista o que é preconizado em programas de residência. Dessa forma, a figura do preceptor faz-se potente em problematizar, provocar e fortalecer uma prática interdisciplinar e orientada pelos paradigmas de tratamento, promoção de saúde e prevenção de agravos; ancorando-se também nas conquistas da Reforma Psiquiátrica em pensar o cuidado em liberdade e na criação de redes de apoio comunitárias. É potente investir em lógicas multidisciplinares nas estratégias de preceptoria, apostando na singularidades dos percursos formativos dos atuais residentes e futuros profissionais do SUS.

Referências
Bondía L.Notas sobre a experiência e o saber de experiência.Rev Bras Educ. 2002;
Campos G.Saúde pública e saúde coletiva: campo e núcleo de saberes e práticas.Cienc Saude Colet. 2000;
Emerich B, Onocko-Campos R.Formação de trabalhadores para a saúde mental: a experiência da residência multiprofissional no projeto percursos formativos em desinstitucionalização.In: Rosa S, Vasconcelos E, Rosa-Castro R.Formação em saúde mental:experiências, desafios e contribuições da residência multiprofissional em saúde. Curitiba:CRV; 2016.p. 91-106.
Emerich B, Onocko-Campos R.Formação para o trabalho em Saúde Mental: reflexões a partir das concepções de Sujeito, Coletivo e Instituição. Interface (Botucatu). 2019
Ministério da Saúde.Portaria n198 GM/MS, de 13 de Fevereiro de 2004.Institui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como estratégia do SUS para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor e dá outras providências.

Fonte(s) de financiamento: Universidade Estadual de Campinas


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