Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC8.3 - Apoio e Formação no paradigma da Educação Permanente

51958 - A EXPERIÊNCIA DE UM MINICURSO EM AGROECOLOGIA E SAÚDE DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19 A PARTIR DA PERSPECTIVA DE BELL HOOKS E PAULO FREIRE
KARINE MELO DO NASCIMENTO - UNB


Contextualização
Trata-se da apresentação do percurso de um minicurso, enquanto processo educativo, realizado, durante a pandemia de Covid 19, por cinco extensionistas do projeto MultiplicaSSAN, vinculado à Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB), que teve como educandas o grupo de participantes do projeto. O MultiplicaSSAN é um projeto de educação popular formado por professoras, nutricionistas e estudantes, que tem a educação popular como eixo norteador e que entre as diversas atividades executadas, trabalha com um curso anual de formação em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável (DHAAS) para grupos específicos a fim de formar multiplicadores em SAN e DHAAS. Nesse contexto, em 2020, o projeto realizaria o curso de multiplicadores com uma parcela de agricultores do assentamento Canaã, localizado em Brazlândia (DF), composto por assentadas e assentados do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que trabalham com o cultivo de alimentos em sistema agroecológico. Entretanto, as atividades presenciais foram suspensas em função da pandemia. Diante da suspensão, o MultiplicaSSAN teve suas estruturas adaptadas ao ambiente virtual com tarefas concentradas em estudos teóricos para as integrantes. Assim, a partir das metodologias aprendidas com a educação popular, nasceu o minicurso.

Descrição da Experiência
O primeiro passo de elaboração foi definir o material de referência bibliográfica para o minicurso: o Caderno de estudos: saúde e agroecologia, vol. 1 (Burigo et al., 2019). A partir do caderno, construiu-se uma metodologia utilizando recursos virtuais que dialogaram com metodologias ativas e participativas, visando envolver o grupo na construção coletiva das propostas. Os recursos empregados (WhatsApp, Google Drive, Teams, Jamboard, Canva, YouTube, Padlet e Google Docs) foram escolhidos pela capacidade de comunicação, reunião em ambiente online e facilitação da interação virtual. Por se tratar de um processo educativo, buscou-se teóricos da educação como Bell Hooks e Paulo Freire por meio de conceitos como o da dialogicidade: a “essência da educação como prática da liberdade” (Freire, 1987) e da pedagogia engajada enquanto uma abordagem educacional que promove a troca mútua de experiências e a vulnerabilidade compartilhada entre educadoras e educandas (Hooks, 2013). Além disso, durante a formação, considerou-se que a futura inserção do MultiplicaSSAN no assentamento Canaã implicava em uma operação cuidadosa para não incorrer na “invasão cultural”, ou seja, uma imposição da visão de mundo dos invasores sobre os invadidos, reprimindo sua criatividade e potencial de expansão, (Freire,1996) e consequente dominação dos indivíduos, destituindo os agricultores de seus saberes.


Objetivo e período de Realização
O processo formativo, realizado de julho a novembro de 2021, objetivou aprofundar bases conceituais acerca da agroecologia no campo da saúde e sua importância na garantia da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e do Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável e preparar as participantes do MultiplicaSSAN para a realização do curso no assentamento na retomada das atividades presenciais.

Resultados
O minicurso teve duração de 5 meses, totalizando 10 horas, sendo 2 horas por encontro. O número de pessoas presentes foi variável, mas no total 10 pessoas estiveram presentes. Das dez, a maioria, com vínculo de extensionista com o projeto, era do campo da nutrição, tanto estudantes quanto nutricionistas, também participaram graduandos da antropologia, psicologia e do curso técnico em agroecologia. Embora o minicurso tenha sido idealizado para integrantes do MultiplicaSSAN, o interesse de estudantes de outras áreas demonstrou a relevância do debate e a importância da interdisciplinaridade. Para além da leitura do caderno, o emprego das diversas ferramentas virtuais durante os encontros permitiu um debate engajado sobre a agroecologia e a necessidade da discussão no campo da nutrição e alimentação. Com as participantes foram realizados jogos e construídos alguns produtos como fruto das discussões, como murais e nuvens de palavras. Apesar de não ter havido um instrumento avaliativo formal para aplicação ao final do minicurso, o envolvimento das participantes e as trocas constantes realizadas com elas evidenciaram o sucesso da proposta.


Aprendizado e Análise Crítica
O processo de criação e execução do minicurso foi completamente calcado nos princípios da educação popular (EP). Porém, era consenso entre o grupo que trabalhar propriamente com a EP de forma remota era inviável, pois entendia-se que a prática educativa se dá a partir da realidade social que os educandos vivenciam (Freire, 1996), condição que se contrapõe ao aprendizado remoto. Portanto, a EP orientava, mas dada as circunstâncias, não se constituía enquanto práxis. No percurso, muitos desafios foram encontrados pelas educadoras em função do formato online. Apesar disso, a experiência mostrou-se promissora para ser reproduzida, visto que o planejamento foi concretizado e bem recebido pelas educandas. Enfim, o desenvolvimento da metodologia do minicurso indicou a importância de um planejamento adequado de formações em saúde para alcançar resultados positivos e a relevância da extensão universitária na geração de uma ciência cidadã, em especial para áreas do conhecimento, como a agroecologia, que ainda estão ganhando espaço na academia.


Referências
BURIGO, André Campos et al. Caderno de estudos: saúde e agroecologia. vol. 1. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2019.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17 . ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013.


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