51728 - PERCEPÇÃO DE GESTORES LOCAIS SOBRE A OFERTA DE UMA ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE NA TEMÁTICA DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL EVELIN MINOWA - BP - A BENEFICÊNCIA PORTUGUESA DE SÃO PAULO, ERIKA RODRIGUES DA SILVA - BP - A BENEFICÊNCIA PORTUGUESA DE SÃO PAULO, PATRÍCIA CONSTANTE JAIME - NUPENS USP - NÚCLEO DE PESQUISAS EPIDEMIOLÓGICAS EM NUTRIÇÃO E SAÚDE DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Apresentação/Introdução A Promoção da Alimentação Adequada e Saudável (PAAS) é uma das diretrizes da Política Nacional de Alimentação e Nutrição e integra as responsabilidades dos profissionais de saúde. Processos de educação permanente favorecem a aprendizagem em contexto, sendo oportunos para incorporação da PAAS no cotidiano dos profissionais da atenção primária à saúde (APS). Uma ferramenta fundamental de PAAS é o Guia Alimentar para a População Brasileira (GAPB), documento oficial do Ministério da Saúde com as recomendações mais atuais e consolidadas cientificamente sobre alimentação adequada e saudável. Desde a publicação do GAPB, uma série de esforços direcionados à qualificação dos profissionais que atuam na APS tem sido realizados. Destacam-se duas iniciativas de colaboração entre Ministério da Saúde e Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (NUPENS/USP): os Protocolos de Uso do GAPB, lançados em 2021, destinados a orientar os profissionais durante consultas individuais na APS; e o curso de ensino à distância (EaD) QualiGuia, lançado em 2022, em parceria com o hospital BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo - por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), com o objetivo de qualificar profissionais de nível superior que trabalham na APS para a aplicação dos Protocolos de Uso do GAPB.
Objetivos O objetivo deste trabalho foi registrar a percepção de gestores locais da APS de municípios de pequeno porte sobre a oferta de uma estratégia de educação permanente na temática da alimentação saudável, o projeto QualiGuia. A estratégia ocorreu em 64 municípios de 15 estados brasileiros, entre outubro de 2022 e novembro de 2023.
Metodologia O curso QualiGuia foi parte da oferta educativa do projeto QualiGuia. O projeto consistiu na visita de uma equipe de nutricionistas a 64 municípios selecionados, para ofertar o curso EaD e o apoio a sua implementação como estratégia de qualificação profissional. O apoio remoto ofertado teve duração de seis meses, e o prazo para realização do curso pelas equipes de saúde foi de quatro meses. O registro de cada uma das visitas foi feito por duplas de nutricionistas em diário de campo. A equipe responsável pela observação e registro era composto por mulheres com trajetória profissional variada, coincidindo a formação em saúde pública. Os diários tinham a seguinte estrutura:
- Registro descritivo do acontecimento da visita presencial;
- Registro das percepções, reflexões e preocupações observadas pelas nutricionistas;
- Registro das sensações e sentimentos.
Os diários de campo foram a fonte de coleta das informações deste trabalho. Foi realizada a leitura de cada um dos diários com objetivo de observar os registros sobre a percepção dos gestores dos municípios quanto à oferta da estratégia do curso e do apoio. Na sequência, os dados extraídos foram analisados e organizados tematicamente.
Resultados e Discussão A percepção dos gestores municipais sobre as ofertas do projeto incluiu: melhorias para o município, qualidade das orientações sobre alimentação, acesso às tecnologias em saúde, receptividade ao projeto, compreensão do curso como parte dos processos de trabalho, público-alvo do curso, e a oferta do projeto como parte do planejamento em saúde. Destaca-se a expectativa positiva para a atuação dos profissionais, na atenção nutricional, nos indicadores de saúde ou na saúde em geral, considerando o discurso comum entre os profissionais ao orientarem a partir do Guia Alimentar. O formato EaD foi considerado vantajoso por não exigir deslocamentos e responder à demanda de formação. O curso foi compreendido como parte dos processos de trabalho, e houve alinhamento do projeto com as necessidades e instrumentos já utilizados. A receptividade variou, com gestores empolgados e desinteressados, apesar da adesão. A qualificação profissional foi vista tanto como tarefa coletiva, organizada pela gestão, como tarefa individual. A sugestão de inclusão do curso no planejamento municipal foi bem recebida e não houve menção a outras estratégias educativas, assim, o curso parece ter colaborado no cumprimento de responsabilidades assumidas e/ou coberto lacunas. Mishima e col. (2015), Silva e col. (2017) e Silva e Santos (2021) também reportaram achados que apresentam categorias temáticas similares quanto à percepção e perspectiva de gestores da APS sobre a potencialidade da EPS. Destaca-se que há dificuldades em entender a EPS como um instrumento de gestão e muitas vezes a veem apenas como cursos pontuais para qualificação das equipes de saúde. Apesar disso, nota-se, ainda que não hegemônico, um engajamento dos gestores na criação de espaços coletivos de reflexão no trabalho e para o trabalho.
Conclusões/Considerações finais A partir da análise dos registros dos diários foi possível identificar elementos que contribuem para avaliação da intervenção, especialmente, sobre o contato inicial com o município, quando da pactuação da realização do projeto com os gestores, de seu compromisso com a mobilização das equipes de saúde e sua adesão ao curso QualiGuia; e a recepção dos profissionais da APS ao projeto apresentado e curso ofertado. Constatou-se que, assim como em outras análises encontradas na literatura, o entendimento dos gestores quanto ao seu papel nas estratégias de EPS é crucial, uma vez que a compreensão sobre esses processos aparece proporcionalmente relacionada ao sucesso e à sustentabilidade na implementação das ações nesse campo. Sugere-se que os atores institucionais implicados em fomentar as ações de EPS nos territórios priorizem estratégias que propiciem o apoio local aos gestores, estruturado de forma mais cotidiana.
Referências Mishima SM, Aiub AC, Rigato AFG, Fortuna CM, Matumoto S, Ogata MN, e col. Perspectiva dos gestores de uma região do estado de São Paulo sobre educação permanente em saúde. Rev esc enferm USP [Internet]. 2015 Jul;49(4):0665–73. Acesso em: https://doi.org/10.1590/S0080-623420150000400018
Silva LAA da, Soder RM, Petry L, Oliveira IC. Educação permanente em saúde na atenção básica: percepção dos gestores municipais de saúde. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2017;38(1):e58779. Acesso em: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2017.01.58779
Silva AL, Santos JS. A potencialidade da Educação Permanente em Saúde na Gestão da Atenção Básica em Saúde. Saúde em Redes [Internet]. 2021;7(2). Acesso em: 10.18310/2446-48132021v7n2.3135g649
Carvalho ERD, Padilha R de Q, Sampaio SF. Educação permanente em saúde na perspectiva de gestores da atenção básica. UNINGÁ Journal [Internet]. 2021;58, eUJ3686. Acesso em: 10.46311/2318-0579.58.eUJ3686
Fonte(s) de financiamento: Projetos PROADI-SUS QualiGuia e QualiGuia APS, parceria entre CGAN/DEPPROS/SAPS/MS, NUPENS/USP e BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
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