51270 - PROTAGONISMO DA COMUNIDADE NO QUADRILÁTERO DA FORMAÇÃO - UMA REVISÃO DA LITERATURA MUNDIAL AFONSO LUÍS PUIG PEREIRA - UNIFESP, ANTONIO CARLOS DE SOUZA NETO - UNIFESP, LEONARDO CARNUT - USP, LUANA CAMARGO BRITO - UNIFESP
Apresentação/Introdução A pressão popular por mudanças no período ditatorial e na efervescência do Movimento da Reforma Sanitária, que culminou na 8ªCNS, foi um exemplo magnífico de manifestação popular. Neste evento, trabalhadores da saúde, docentes de instituições de ensino superior da área da saúde, estudantes e, principalmente, a população, pleiteavam o direito à saúde de forma gratuita, universal, com equidade, descentralizada, hierarquizada e com participação da população em seus interesses (Paim, 2008; Souza et al., 2019), consagrado na Constituição Federal (Brasil, 1988). A integração ensino-serviço-gestão-comunidade é reconhecida como uma oportunidade para a formação crítico-reflexiva em cenários reais de prática, contribuindo para a compreensão da realidade da população e beneficiando os serviços de saúde (Vendruscolo et al., 2018; Pereira et al., 2022). No entanto, há poucos estudos sobre a perspectiva do engajamento comunitário nesta formação. Segundo a literatura, o engajamento comunitário mobiliza recursos para resolver desafios das comunidades adotando abordagens como aprendizado, pesquisa e prestação de serviços de saúde orientada pela comunidade. Esse processo é caracterizado por interações bidirecionais, baseadas em confiança, respeito mútuo, humildade cultural e benefício mútuo (Wilkins et al., 2019; Wilson et al., 2019; Giachello et al., 2019).
Objetivos A partir da pergunta de pesquisa “quais as experiências de protagonismo da comunidade em pesquisa de campo no mundo na perspectiva da integração ensino-serviço-gestão-comunidade?", objetivou-se conhecer o protagonismo da comunidade no envolvimento do processo formador de graduação ou pós graduação na área da saúde.
Metodologia Esta revisão narrativa utilizou, através da busca em título, resumo e assunto, nas base de dados Portal Capes, BVS e PubMed, de 2019 a 2024, os descritores MeSH: Community Integrations; Teaching Care Integration Services; Community Participation. Os critérios de inclusão foram: artigos originais, estudos primários e relatos de experiência, disponíveis para acesso nos idiomas português, espanhol e inglês relacionados ao tema de formação de profissionais da área da saúde no âmbito de graduação ou pós-graduação cuja experiência da comunidade esteja, ao menos, implícita no estudo dentro da dinâmica da integração entre ensino e serviço, num cenário de aprendizado fora dos muros da instituição de ensino superior. Foram excluídos livros, relatórios, teses, dissertações, ensaios, pesquisas clínicas e artigos que não tratavam da formação de profissionais da área da saúde. A coleta dos dados aconteceu entre março e maio de 2024. Foram encontrados 350 estudos, com 48 duplicatas e excluídos 1 tese, 2 dissertações, 1 artigo em chinês, 1 editorial e 2 livros, restando 309 estudos para triagem por título e resumo. Destes, 35 foram selecionados para leitura na íntegra e 24 incluídos na revisão.
Resultados e Discussão Por ano de publicação, tivemos 5 (2019), 4 (2020), 7 (2021), 6 (2022), 1 (2023) e 1 (2024). Por país, foram 17 (Brasil), 2 (Canadá), 2 (EUA), 1 (Inglaterra), 1 (Holanda) e 1 multicêntrico (EUA, Jamaica e Guatemala). Metodologicamente, houve 13 relatos de caso, 2 entrevistas semi-estruturadas, 2 pesquisas-ação participativas com entrevistas, observação e análise documental, 1 estudo de caso, 1 PDCA, 1 formulário, 1 estudo com gravações de consultas, observação e questionários, 1 com grupos focais e 1 oficina. Quanto ao desenho, 20 estudos foram qualitativos, 2 quantitativos e 2 quanti/quali. Em relação ao local, 14 ocorreram na Atenção Primária à Saúde (APS), 8 extramuros e 2 na Atenção Secundária. Nos níveis de formação, 21 estudos foram em graduação, 2 em residência e 1 em graduação e pós-graduação. Profissionalmente, encontramos 12 estudos em medicina, 10 em enfermagem, 6 em odontologia, 3 em fisioterapia, 3 em farmacologia, 5 multiprofissionais e 3 sem especificação. Sobre a participação da população, 7 estudos tiveram a população como participantes ativos, 1 teve participação incipiente e 16 não tiveram participação. Apenas 3 estudos consideraram a população com participação ativa na formação de profissionais de saúde. Estes, enfatizam o papel central da comunidade nesse processo, destacando o engajamento comunitário como uma abordagem que aproxima estudantes e comunidade de forma profunda e reflexiva. Esse engajamento pode incluir elementos de pesquisa participativa para fortalecer a capacidade das comunidades locais e das universidades, ao mesmo tempo em que atende aos requisitos acadêmicos e apoia os estudantes como parceiros colaborativos na abordagem das necessidades da comunidade (Scott et al., 2021; Jakubec et al., 2021; Ferreira et al., 2022).
Conclusões/Considerações finais A maioria dos estudos tem abordagem qualitativa, indicando detalhamento dos fenômenos estudados e perspectivas dos participantes, o que reflete a complexidade do tema. A APS é o cenário majoritário, ressaltando seu papel na formação. O Brasil se destaca no tema devido a políticas públicas eficazes. Observa-se a participação popular por meio da representação do controle social ainda limitada, mantendo a população apartada do processo de integração ensino-serviço-gestão-comunidade. Poucos estudos envolvem a população como participantes ativos na formação, revelando uma lacuna no processo de formação e pesquisa em saúde. O envolvimento comunitário se mostra potente ao oferecer apoio a estudantes e docentes, proporcionando um processo de aprendizado que integra resultados por meio da ação-reflexão abrindo oportunidades para transformação. Essa abordagem (trans)forma a força de trabalho de saúde, facilita a implementação de pesquisas inovadoras e contribui para comunidades mais saudáveis.
Referências Paim, Jairnilson Silva. Reforma sanitária brasileira : contribuição para a compreensão e crítica FIOCRUZ, 2008
Souza et al. Rev bras educ med [Internet]. 2019;43(1):7–11.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988.
Vendruscolo et al. Sustinere 2018 ;5(2):245-59.
Pereira et al. Physis [Internet]. 2022;32(3):e320305.
Wilkins et al. Acad Med. 2019 Jun;94(6):763-767.
Wilson et al. Prim Health Care Res Dev. 2019 Sep 10;20:e129.
Giachello et al. Prog Community Health Partnersh. 2019;13(5):21-37.
Scott L, et al. Health Expect. 2021 Dec;24(6):1988-1994.
Jakubec et al. Nurse Educ Pract. 2021 Feb;51:102980.
Ferreira MG et al.. Rev bras educ med [Internet]. 2022;46(1):e026.
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