50846 - ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÙDE: RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE EDUCAÇÃO PERMANENTE E TROCA DE SABERES EM UM SERVIÇO DE FARMÁCIA. JANAINA RANGEL DE LIMA PORTO PINTO - CENTRO DE SAÚDE ESCOLA GERMANO SINVAL FARIA/ENSP/FIOCRUZ, ISABELLA CRISTINA LOPES DE SOUSA - CENTRO DE SAÚDE ESCOLA GERMANO SINVAL FARIA/ENSP/FIOCRUZ, ANA CAROLINE NUNES BASTOS - CENTRO DE SAÚDE ESCOLA GERMANO SINVAL FARIA/ENSP/FIOCRUZ, PATRICIA DE SALES CORREA - CENTRO DE SAÚDE ESCOLA GERMANO SINVAL FARIA/ENSP/FIOCRUZ, ROBSON MACHADO VIEIRA - CENTRO DE SAÚDE ESCOLA GERMANO SINVAL FARIA/ENSP/FIOCRUZ, EDUARDO GOMES DA SILVA - CENTRO DE SAÚDE ESCOLA GERMANO SINVAL FARIA/ENSP/FIOCRUZ, ELDER LIMA DA FONSECA - CENTRO DE SAÚDE ESCOLA GERMANO SINVAL FARIA/ENSP/FIOCRUZ
Contextualização A Política Nacional de Educação Permanente em Saúde reconhece que a transformação nos serviços e no ensino não pode ser vista apenas como uma questão técnica. Ela envolve alterações nas relações, na prática assistencial e, principalmente, nos profissionais. As estratégias de gestão do conhecimento em um Serviço de Farmácia devem ser impulsionadas por um processo de cuidado com responsabilidade social e compromisso com a cidadania, construindo um espaço de aprendizagem contínua e comprometida com o território. A dispensação de medicamentos é uma parte fundamental da atenção integral à saúde da população, e acompanhar sistematicamente esse processo permite reconhecer aspectos positivos e necessidades de adaptações.
Nos Serviços de Farmácia da Atenção Primária, embora tenham ocorrido avanços, as ações educativas ainda são incipientes. Avaliar e propor mudanças a partir de uma lógica educacional é importante. Fomentar um processo de Educação Permanente em Saúde, que considere os saberes prévios dos Técnicos em Farmácia e os problemas vivenciados no dia a dia do atendimento ao usuário, é um caminho promissor. Isso não apenas aborda desafios significativos relacionados à comunicação interna, coordenação do cuidado e falta de atualização contínua, mas também alinha o processo educativo com as necessidades do Sistema Único de Saúde.
Descrição da Experiência Em uma unidade de Atenção Primária à Saúde situada em um bairro periférico na zona norte de uma grande cidade, as Farmacêuticas, após uma reestruturação técnica e operacional do Serviço de Farmácia, identificaram a necessidade de aprimorar as ações educativas para os técnicos do setor, abordando questões críticas do processo de dispensação. Com base nesse diagnóstico, foram realizadas ações imediatas no serviço da unidade de saúde. O mapeamento das etapas da dispensação de medicamentos e a identificação dos principais pontos críticos onde ocorriam erros foram realizados, juntamente com entrevistas com os Técnicos em Farmácia para compreender seus conhecimentos prévios e experiências relacionadas à dispensação de medicamentos na Atenção Primária à Saúde.
Além disso, foi elaborado um conteúdo educativo focado nas necessidades identificadas durante o diagnóstico, incluindo cálculos farmacêuticos e diretrizes técnicas relacionadas à prescrição. Metodologias participativas, como simulações de situações reais e discussões em grupo, foram utilizadas para promover a troca de experiências e a construção coletiva do conhecimento. Oficinas práticas periódicas foram realizadas durante as reuniões de equipe, e os técnicos foram monitorados continuamente durante a dispensação de medicamentos, com feedbacks imediatos e sessões de supervisão para discutir dificuldades e sucessos encontrados.
Objetivo e período de Realização O objetivo desta experiência foi estabelecer um processo educativo com uma abordagem mais integrada e colaborativa entre os profissionais da equipe do Serviço de Farmácia, com o intuito de melhorar a qualidade e segurança do processo de dispensação na unidade de saúde. A experiência, conduzida ao longo de quatro meses, de fevereiro a maio de 2024, permitiu uma análise abrangente dos impactos dessa intervenção.
Resultados A maior compreensão e autonomia sobre os processos de dispensação qualificaram a tomada de decisões e aprimoraram as informações fornecidas aos usuários. Com a realização de oficinas práticas e uma abordagem participativa, houve uma redução significativa de retrabalhos, desperdícios e potenciais danos aos usuários.
O diálogo foi importante para a construção de um conhecimento crítico e transformador, permitindo à equipe desenvolver soluções conjuntas para os problemas enfrentados, fortalecendo o trabalho colaborativo. Ao se sentirem parte ativa do processo de melhoria, os profissionais passaram a ter um maior compromisso com suas atividades, refletindo em um ambiente de trabalho mais harmonioso.
A supervisão realizada pelos Farmacêuticos, estabeleceu um processo de aprendizado contínuo no serviço. A intervenção permitiu que os Técnicos em Farmácia associassem melhor a teoria à prática diária, compreendendo não apenas o "como", mas também o "porquê" de cada etapa do processo de dispensação. Essa compreensão mais profunda é essencial para uma práxis reflexiva e crítica nos processos de Educação Permanente no Sistema Único de Saúde.
Aprendizado e Análise Crítica No contexto do Sistema Único de Saúde, é imprescindível reconhecer a Educação Permanente como uma abordagem ético-política e pedagógica essencial. Ao integrar conhecimentos técnicos com a realidade concreta na qual se insere as atividades de Assistência Farmacêutica, torna-se viável estabelecer práticas educativas na Atenção Primária à Saúde que respondam às necessidades reais dos trabalhadores e dos usuários, em vez de apenas replicar agendas hegemônicas. Contudo, enfrentamos uma intricada rede de interesses que permeiam as políticas de medicamentos, comprimindo diretamente a gestão dos serviços farmacêuticos. Isso resulta em processos educativos limitados e imediatistas, centrados exclusivamente nos medicamentos, o que impede uma transformação significativa nas práticas de assistência à saúde.
A experiência nos mostra que novas abordagens de saúde baseadas no cuidado farmacêutico, e na reconfiguração das relações de trabalho fortalece a política de Educação Permanente em Saúde. Os trabalhadores ao serem reconhecidos como educadores, podem contribuir para superar o paradigma biomédico, e consolidar a gestão de práticas educativas no cotidiano do trabalho em saúde dos Serviços de Farmácia. Para isso, é essencial fomentar um ambiente que promova o aprendizado contínuo e a troca de conhecimentos entre os profissionais.
Referências BRASIL. Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 1990.
BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do ministro. Portaria nº 198/GM – MS, de 13 de fevereiro de 2004. Institui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como estratégia do Sistema Único de Saúde para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Ministério da saúde, 2004.
Costa KC, Marques RC, Ceccim RB, Silva KL. Educação permanente em saúde e modelo assistencial: correlações no cotidiano do serviço na Atenção Primária à Saúde. Rev APS [Internet]. 2019;1(2):132-10
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
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