Roda de Conversa

06/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC4.24 - Compondo a complexidade da Gestão do Cuidado e Qualidade nas Redes de Atenção à Saúde (Outros temas) (1)

50639 - A PATERNIDADE ATIVA: PERSPECTIVAS E DESAFIOS NA OFERTA DE SERVIÇOS DE SAÚDE
ANA GABRIELLA SILVA DE ARAÚJO - UVA, LAISSE CARLOS DE MESQUITA - UVA, ANTÔNIA ARIANE BRAGA ALMEIDA - UVA, AMANDA SOUZA BARBOSA HOLANDA - UVA, NIELE DUARTE RIPARDO - UFC, MARIA ADELANE MONTEIRO SILVA - UVA


Apresentação/Introdução
As relações paternas na família contemporânea têm passado por transformações significativas, como o surgimento de uma nova expressão do papel masculino na sociedade. Embora desafiador, o campo atual exige uma participação mais ativa dos homens como cônjuges e pais (Carvalho et al, 2019). A Política Nacional de Atenção à Saúde do Homem, que tem como um dos eixos temáticos a paternidade e cuidado, objetiva sensibilizar sobre os benefícios do envolvimento ativo dos homens nos diversos períodos de vida de seu filho (gestação, parto, pós-parto), destacando que esta participação pode estreitar a relação entre os(as) trabalhadores(as) de saúde e, sobretudo, pode fortalecer os vínculos afetivos familiares (Brasil, 2023). Porém, a apropriação do direito da participação paterna ainda ocorre de forma tímida e parte dos serviços de saúde não tem estendido o atendimento às necessidades de integralidade do cuidado a este público. Muitos homens não se envolvem neste processo, junto de suas companheiras, por falta de estímulo, conhecimento limitado ou até mesmo estigma social (Climaco, 2020; Veras e Carvalho, 2019).

Objetivos
Assim, o estudo tem como objetivo descrever os desafios da participação paterna no período gravídico-puerperal sob a ótica dos profissionais de saúde da APS.

Metodologia
Trata-se de um estudo qualitativo, realizado em um Centro de Saúde da Família do Ceará, no período de outubro a dezembro de 2023. Os participantes do estudo corresponderam a: dois enfermeiros, dois médicos, sete agentes comunitários de saúde e a gerente da unidade de saúde. Incluíram-se os profissionais atuantes e inscritos no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde. Excluíram-se os profissionais que estavam em afastamento, totalizando uma amostra de 12 participantes. Aplicou-se na coleta de dados um questionário com perguntas semiestruturadas referentes aos desafios da participação paterna no período gravídico-puerperal. As entrevistas foram gravadas e utilizou-se da Análise de Conteúdo de Bardin para a análise das informações. O projeto da pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UVA, com o parecer 6.060.592 e os entrevistados registraram sua anuência em participar, por meio da assinatura do TCLE. Garantiu-se o sigilo, bem como a confidencialidade dos dados obtidos.

Resultados e Discussão
Os resultados da pesquisa destacaram a ausência de materiais educativos para trabalhar a temática da paternidade com os casais. Constata-se também, relatos que desfavorecem o estímulo da participação do parceiro: o foco apenas na gestante/puérpera e a limitada realização do pré-natal do parceiro. Tal fato corrobora relatos da literatura em que, mesmo que o homem compareça ao serviço, esse aguarda do lado de fora da sala de atendimento ou quando dentro da sala, os homens não se sentem incluídos (Cavalcanti; Holanda, 2019). A cultura machista, também citada pelos entrevistados do presente estudo, predomina em alguns ciclos familiares e implica na compreensão da importância da paternidade ativa e da necessidade da desenvoltura de habilidades desses pais para tal. Apesar de alguma mudança ao longo dos anos, culturalmente a gestação ainda é vista, tanto pelos profissionais como os demais da sociedade, como responsabilidade somente da mulher. Outros resultados do atual estudo demostram que os profissionais de saúde reconhecem a necessidade de capacitações para realizar o manejo do envolvimento paterno. Ressalta-se que o ambiente de capacitação proporciona ao profissional a compreensão de ferramentas disponíveis para uso, assim como a criação de recursos metodológicos próprios que favoreçam a dinamicidade, com intuito de ressignificar o cuidado continuado. Os resultados também destacam o horário de trabalho dos pais como um desafio para a participação paterna. Isso acaba por distanciar os homens, tanto dos deveres e dos compromissos, quanto dos aprendizados e dos prazeres que envolve este universo. Cortez (2016) apontou a flexibilização de horários de funcionamento dos serviços de saúde como solução mais comentadas para que os pais pudessem estar mais presentes nesse contexto.

Conclusões/Considerações finais
Conclui-se que o despreparo dos profissionais de saúde, somado a escassez de materiais educativos, a cultura machista e a baixa flexibilização dos horários de serviço fragilizam o estímulo ao exercício da paternidade. Assim, a reflexão de romper paradigmas que dificultam a adesão paterna deve permear a atuação de gestores, trabalhadores da saúde e sociedade. É preciso intensificar ações voltadas para educação em saúde e educação permanente, assim como gerar maior atenção às construções socioculturais de gênero e às constituições familiares. Desse modo, famílias saudáveis e os papéis paternos desempenhados dentro delas estão relacionados aos ambientes estimulantes, que podem e devem desenvolver-se ao longo da gravidez e dos cuidados do filho gerado. Destarte, as contribuições deste trabalho incluem proporcionar maior visibilidade no aprimoramento de estratégias potentes que oportunizam o cuidado e a promoção da saúde para homens/pais e consequentemente para a família como um todo.

Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Gestão do Cuidado Integral. Guia do pré-natal do parceiro para profissionais de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2023.
CARVALHO, S. S.; BARBOSA, S. O. R.; CARVALHO, L. F.; FREITAS, A. M. C.; SILVA, C. S.; MATOS, D.O. Inserção do acompanhante no processo gravídico-puerperal. Rev Enferm UFPE On-line, v. 13, n. 1, p. 1-9, 2019.

CAVALCANTI, T. R. L.; HOLANDA, V. R. Participação paterna no ciclo gravídico-puerperal e seus efeitos sob a saúde da mulher. Rev Enferm foco, v. 10, n. 1, p. 93-8, 2019.

CLIMACO, L. C. C et al. Pré-Natal Masculino: Um Relato de Experiência no Contexto da Educação em Saúde. 2020.

VERAS, L. T. B.; CARVALHO, A. M. B. Pré-Natal do Parceiro: Estratégias Para Adesão em uma Unidade Básica De Saúde de São Bernardo – MA. 2019.


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