Roda de Conversa

06/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC4.24 - Compondo a complexidade da Gestão do Cuidado e Qualidade nas Redes de Atenção à Saúde (Outros temas) (1)

49797 - AS REPERCUSSÕES DAS PICS DURANTE O ACOLHIMENTO: PERCEPÇÕES DOS ESTUDANTES EM UMA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA
DANIELLE VICTOR FERNANDES - UFPB, LEONARDA CARNEIRO ROCHA BEZERRA - UFPB, EMANUEL NÍCOLAS NASCIMENTO LIMA - UFPB, FLÁVIA BLANK - UFPB, MARIA DO SOCORRO TRINDADE MORAIS - UFPB


Contextualização
As Práticas Integrativas e Complementares (PICs) são técnicas terapêuticas à medicina baseada em evidências, não utilizadas para substituí-la, mas sim de maneira complementar. Estas são praticadas desde a antiguidade de maneira popular e empírica, em uma visão mais ampla do processo saúde-doença.1

A consolidação das PICs se deu a partir da redescoberta dos princípios, métodos e conceitos da Medicina Tradicional Chinesa, que se baseiam em técnicas ancestrais para restabelecer e harmonizar o corpo, a mente e o espírito, visando prevenir, promover e restabelecer a saúde de forma holística e focada na totalidade do ser humano.2

Não obstante, durante a formação do curso de Medicina, a fim de aproximar o conhecimento teórico da prática profissional, integrando o aprendizado às práticas sociais comunitárias, os acadêmicos foram solicitados a conhecer e desenvolver algumas tarefas em uma Unidade de Saúde da Família (USF) com a ajuda das alunas do Mestrado em Saúde Coletiva e da professora da Universidade Federal da Paraíba, o que os permitiu se conectar com a comunidade através de atividades voltadas à promoção, usando a escuta empática durante o acolhimento aos usuários e oferecendo cuidado em saúde na USF escolhida.3

No meio desse processo ficou evidente as diversas possibilidades que o uso das PICs poderiam representar no momento do acolhimento aos usuários na atenção primária à saúde.

Descrição da Experiência
Inicialmente, foram reservados alguns encontros para qualificação das técnicas terapêuticas: auriculoterapia, massagem e agulhamento à seco. Em seguida, enquanto os usuários aguardavam o acolhimento, os estudantes explicavam sobre efeitos e indicações das PICs. A demanda espontânea no acolhimento e a curiosidade mobilizaram alguns, enquanto outros, já conheciam e faziam uso das PICs ofertadas.

Destaca-se que a escuta empática, focada na história de vida, precedia a oferta das técnicas. Observou-se nas narrativas a recorrência de adversidades e problemas relacionados à ansiedade, insônia, dores crônicas, diabetes e hipertensão arterial, além de violência doméstica. Após a aplicação das PICs era comum o retorno e relatos sobre seus efeitos como: alívio da ansiedade, melhoria da insônia e do humor.

Dentre os fatores limitantes da ação destaca-se: falta de um local adequado e dificuldade para acessar materiais necessários para a aplicação como: algodão, álcool a 70% e descartex. O ambiente em que as atividades foram realizadas apresentava pouca ventilação, barulho e falta de privacidade, causando desconforto. O local era situado no hall de entrada da USF, o que também causou transtornos na rotina dos profissionais em função do aumento de circulação, influenciando a dinâmica interna das equipes. Além disso, não havia salas, cadeiras e mesas de apoio para melhor acolher as pessoas.

Objetivo e período de Realização
Essa produção tem por objetivo apresentar as impressões dos estudantes envolvidos na ação, sobre os efeitos das práticas integrativas e complementares (PICs) na regulação de emoções, sentimentos e fisiologia dos usuários, durante o acolhimento, na USF Qualidade de Vida no município de João Pessoa. As atividades ocorreram uma vez por semana durante oito semanas, entre os meses de março a abril do ano de 2024.

Resultados
Com as PICs buscamos ampliar a diversidade de cuidados complementares oferecidos aos usuários, ampliando a compreensão dos efeitos das adversidades (violência, traumas e estresse) na fisiologia corporal e mental. A experiência possibilitou grande satisfação pessoal aos alunos e representou maior aproximação com a equipe de saúde e com a comunidade. As ações realizadas diminuíram a ansiedade dos usuários, melhoraram o humor e despertaram curiosidade.

Para a USF, nos dias em que ocorreram as atividades, reduziram-se os desentendimentos e discussões entre usuários e trabalhadores da unidade, pois o momento de espera no acolhimento passou a ser visto como tempo de qualidade. Além disso, nesses momentos, as dúvidas eram sanadas e os usuários se sentiam melhor informados e preparados para dialogar com os trabalhadores e buscar soluções para seus problemas.

O resultado mais notável foi o retorno de usuários nas semanas seguintes para a continuidade do acompanhamento. A cada nova aplicação das práticas, usuários relatavam melhoria e o desejo de continuar o acompanhamento. Dentre os sintomas expostos, os que mais apresentaram melhoria foram: dores musculares, ansiedade e desânimo.


Aprendizado e Análise Crítica
Com essa experiência, aprendemos que o processo de cuidado pode ir além do convencional. Entendemos que valorizar as experiências dos pacientes é fundamental, além disso, apresentar abordagens complementares de cuidado pode tornar os usuários protagonistas da sua saúde.

Entretanto, apesar dos benefícios trazidos pelas PICs, percebemos que ainda há uma grande relutância por parte dos profissionais em ofertá-las. Essa hesitação vem acompanhada da desvalorização profissional, falta de apoio institucional, de qualificação para a oferta e de educação continuada em saúde. Durante as atividades, devido ao preconceito e o pouco conhecimento sobre as evidências científicas das PICs, alguns estudantes apresentaram resistência à realização das práticas. No entanto, essa percepção foi mudando, o que demonstra que a implementação das PICs é relevante, também, para o processo de formação acadêmica dos profissionais da saúde.

Ademais, vale salientar que, embora seja simples aplicar as PICs em um grupo grande, a situação é diferente quando o profissional está sozinho, enfrentando alta demanda em um curto tempo. Despender 10 minutos para ouvir narrativas da história de vida dos usuários não pode ficar em segundo plano. Este relato tem grande relevância para a compreensão das questões físicas e emocionais dos usuários, além da possibilidade do incremento de novas abordagens em saúde.

Referências
1. Aguiar J, Kanan LA, Masiero AV. Práticas Integrativas e Complementares na atenção básica em saúde: um estudo bibliométrico da produção brasileira. Saúde debate [Internet]. 2019 [citado 06 mai 2024];43(123):1205-18. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0103-1104201912318.

2. Guimarães MB, Nunes JA, Velloso M, Bezerra A, Sousa IM de. As práticas integrativas e complementares no campo da saúde: para uma descolonização dos saberes e práticas. Saude soc [Internet]. 2020 [citado 06 mai 2024];29(1):e190297. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-12902020190297.

3. Albuquerque LV da C, Lima JW de O, Silva ABG da, Correia ICM, Maia LROG, Bessa MC, et al.. Ensino de Medicina Complementar e Alternativa: Avaliação do Processo Ensino-Aprendizagem de Práticas Integrativas nas Escolas Médicas Brasileiras. Rev bras educ med [Internet]. 2019 [citado 06 mai 2024];43(4):109-16.


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