51522 - AÇÕES PARA RASTREIO E CONTROLE DO CCU EM MUNICÍPIOS RURAIS REMOTOS DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO JOÃO ANTÔNIO BRITO PORTO - IMS-UFBA, ADRIANO MAIA DOS SANTOS - IMS-UFBA, MARGARETE COSTA SANTOS - IMS-UFBA
Apresentação/Introdução A Atenção Primária à Saúde (APS) configura-se como uma importante estratégia de acesso dos usuários aos serviços de saúde. A capilaridade da APS contribui para torná-la o principal serviço territorializado e capaz de responder às singularidades de diferentes populações. No Brasil, o conceito de APS, como estratégia prioritária de acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS), é particularmente relevante, diante da dimensão continental do país, de sua multiculturalidade e diversidade socioeconômica. Nessa direção, o cuidado e rastreamento do câncer de colo do útero (CCU) é visto como uma estratégia exitosa de prevenção e controle via APS, sobretudo porque no Brasil, o CCU tem alta incidência, especialmente nas regiões norte e nordeste. Nessa perspectiva, utilizar o CCU como condição traçadora para avaliar os processos de cuidado de moradoras de municípios rurais remotos (MRR) pode revelar os desafios no acesso em tempo oportuno, principalmente em decorrência das dimensões geográficas e grandes distâncias a serem percorridas pelas mulheres destes territórios.
Objetivos Identificar os mecanismos de rastreio e controle do CCU e das trajetórias assistenciais vividas por moradores de MRR do semiárido brasileiro.
Metodologia Tratou-se de um estudo qualitativo e teve como cenário da investigação sete municípios do semiárido brasileiro: três na Bahia, três na região do Norte de Minas, e um município do Piauí. Os municípios são caracterizados como rurais remotos, conforme a tipologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e foram escolhidos de maneira intencional, mediante um conjunto de indicadores socioeconômicos, demográficos e de saúde. Para compor a amostra, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com duas usuárias de unidades de saúde da família ( uma na zona rural e uma na zona urbana) de cada MRR, sendo que em um dos municípios, apenas uma usuária foi entrevistada, totalizando 13 entrevistadas. Como critério de inclusão, estabeleceu-se mulheres que tiveram exame de Papanicolau alterado pelo menos há 12 meses, que foram indicadas pelas próprias equipes. Para interpretação dos resultados, foi utilizada a análise temática de conteúdo.
Resultados e Discussão Foi identificado que, apesar de morarem em MRR e a distância de suas casas às UBS, as usuárias conseguiam acesso ao exame citopatológico na APS. Não obstante, o cenário se agrava no acesso às consultas com especialistas e exames de maior nível de densidade tecnológica. O processo de trabalho nas UBS tinha a maior parte dos exames Papanicolau realizados por enfermeiros. O enfermeiro, assim, era um profissional com extrema relevância às questões relacionadas à saúde da mulher, particularmente na coleta do material cérvico-uterino, mesmo na presença de médicos. O ACS foi, também, identificado como essencial para o cuidado continuado de mulheres com CCU. Dentro do seu escopo de práticas, o ACS revelou-se como sujeito que orienta, informa e, sobretudo, é responsável pela busca ativa de mulheres faltosas.
Conclusões/Considerações finais A organização dos serviços de saúde que compõem a linha de cuidado para o CCU se mostra desarticulada, embora, comumente, as mulheres tivessem acesso a um exame preventivo na APS. Todavia, o atraso na entrega dos laudos e a dificuldade de acessar o serviço especializado tornavam o atributo da longitudinalidade fragilizado, comprometendo a identificação precoce de lesões ou o tratamento oportuno das mesmas quando identificadas no rastreio. Nesse contexto, a APS como coordenadora do cuidado, além de assumir um lócus central na articulação da linha de cuidado, deve, também, organizar os fluxos e contrafluxos para mitigar a redução das iniquidades.
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