51018 - RASTREAMENTO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO E MAMA NO ESTADO DE SÃO PAULO, SEGUNDO INQUÉRITO QUALIAB 2017 E 2022 CAROLINE ELIANE COUTO - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA/UNESP, ELEN ROSE LODEIRO CASTANHEIRA - FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU/UNESP, LUCEIME OLÍVIA NUNES - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA/UNESP, THAIS FERNANDA TORTORELLI ZARILI - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA/UNESP, CAROLINA SIQUEIRA MENDONÇA - FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU/UNESP, STELLA BIANCA GONCALVES BRASIL PISSATTO - FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU/UNESP, EDUARDO SOUSA GOMES - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA/UNESP
Apresentação/Introdução No Brasil, os cânceres de mama e colo de útero são o primeiro e terceiro tipos de câncer mais frequentes entre as mulheres, respectivamente(1). Estratégias populacionais de rastreamento em mulheres na faixa etária com maior risco de incidência vêm se mostrando eficazes na detecção precoce e melhora no prognóstico das mulheres diagnosticadas (2).
A principal estratégia de rastreamento do câncer de colo de útero é a realização do exame citopatológico de colo uterino, indicado para mulheres com idade entre 25 e 64 anos, que já iniciaram a vida sexual. A coleta dos dois primeiros exames deve ser anual e, se não forem identificadas alterações, é indicada coleta a cada três anos. Caso haja alteração é indicada coleta de uma a duas vezes ao ano, a depender da lesão detectada(3).
Para o rastreamento do câncer de mama, é indicada a solicitação a cada dois anos da mamografia, em mulheres entre 50 e 69 anos de risco habitual. Caso existam fatores de risco ou queixas relacionadas às mamas, deve ser solicitada mamografia diagnóstica a partir de avaliação individualizada dos casos(3).
O rastreamento desses agravos está dentre as atribuições dos serviços de atenção primária à saúde (APS), que ao atuarem em uma lógica territorial e próximo às famílias e comunidades, têm uma enorme potencialidade de busca ativa das mulheres na faixa etária de maior risco.
Objetivos Avaliar a adequação dos critérios de rastreamento de câncer de colo de útero e mama em serviços de atenção primária à saúde do estado de São Paulo, nos anos de 2017 e 2022, e detectar a ocorrência de mudanças neste período.
Metodologia Estudo avaliativo, descritivo e transversal, que utilizou dados secundários, obtidos a partir de dois inquéritos realizados por meio do Questionário de Avaliação e Monitoramento da Atenção Básica - QualiAB, no estado de São Paulo, nos anos de 2017 e 2022.
O QualiAB é um instrumento validado e autoaplicado eletronicamente pelas próprias equipes de APS, a partir de adesão do gestor municipal. Em ambos os anos foi disponibilizado para todo o conjunto municípios do estado de São Paulo, sendo que o ano de 2017 contou com a participação de 2.739 serviços de atenção primária, localizados em 514 municípios e no ano de 2022 com 2.269 serviços de 356 municípios.
Foi desenvolvido um quadro avaliativo com oito indicadores relacionados ao rastreamento do câncer de colo de útero e de mama, cujas respostas dos serviços foram categorizadas de forma dicotômica (1 = o que o serviço refere fazer; 0 = o que não refere fazer). Foi calculada a frequência absoluta e relativa de serviços com resposta positiva para cada indicador em cada um dos anos (2017/2022).
Resultados e Discussão Em ambos os anos 97% dos serviços participantes referiram realizar regularmente a coleta de citologia oncótica na atenção à saúde da mulher. Houve um aumento importante na frequência de serviços que referem realizar a coleta de rotina do exame a cada três anos para todas as mulheres entre 25-64 anos, com dois exames anteriores normais (2017 = 27,67%; 2022= 45,04%). No caso de mulheres com citologia alterada, não houve diferença relevante entre os anos (2017 = 72,87%; 2022= 70,9%).
Apesar do aumento na frequência de serviços que seguem os critérios preconizados de solicitação da citologia, aproximadamente metade persistem na solicitação anual para todas as mulheres, existindo leve diminuição entre os anos (2017 = 53,49%; 2022= 46,85%). Houve um pequeno aumento na frequência das unidades que informaram solicitar o exame por livre demanda das mulheres (2017 = 87,59%; 2022= 89,47%).
No caso da mamografia, houve aumento na frequência de serviços que seguem os critérios de solicitação do exame, a cada dois anos para mulheres com idade entre 50 e 69 anos, sem fatores de risco ou alteração do exame físico (2017 = 56,04%; 2022= 65,09%). Assim como no caso da citologia, outras práticas, como a solicitação de rotina para todas as pacientes que solicitem o exame (2017 = 20,12%; 2022= 21,95%) e solicitação para todas as mulheres acima de 40 anos (2017 = 74,99%; 2022= 70,74%) tiveram pequenas variações. No caso de mulheres com risco elevado de câncer, a solicitação a partir de avaliação clínica também se manteve estável (2017 = 86,13%; 2022= 85,24%)
Conclusões/Considerações finais Apesar de haver uma fragilidade importante no seguimento dos critérios preconizados para rastreamento dos cânceres de mama e colo de útero, os serviços vêm apresentando melhora na organização do processo de trabalho e adequação das rotinas de solicitação desses exames. Caminhando em direção contrária, observa-se estagnação nos indicadores que não seguem os critérios de rastreamento, sendo que muitos serviços apresentaram respostas duplicadas, como a coleta anual de citopatológico em todas as mulheres e a solicitação de mamografia para todas as mulheres acima de 40 anos.
Observou-se também uma grande parcela de solicitações e coletas dos exames para rastreamento por livre solicitação da mulher. Esses resultados mostram a urgência de investimentos na educação permanente e continuada dos profissionais da APS, em busca da capacitação e apropriação desses sobre as recomendações, além da importância do rastreamento adequado para obtenção de impacto na ocorrência destes cânceres.
Referências Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Estimativa 2023: incidência do Câncer no Brasil. [Internet]. INCA. Rio de Janeiro; 2022 [cited 2024 Apr 9]. Available from: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/controle-do-cancer-do-colo-do-utero/dados-e-numeros/incidencia/incidencia
2. World Health Organization. Cancer control: knowledge into action: WHO guide for effective programs; module 3. Geneva: WHO; 2007.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Protocolos da Atenção Básica: Saúde das Mulheres. Brasilia: Ministério da Saúde - Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa; 2016. 230 p.
|