Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC4.21 - Rede de Atenção à Saúde da Mulher

50321 - CONDIÇÕES SOCIODEMOGRÁFICAS ASSOCIADAS À GRAVIDEZ NÃO PLANEJADA
VICTÓRYA SUÉLLEN MACIEL ABREU - UFC, ULY REIS FERREIRA - UFC, PRISCILA DE SOUZA AQUINO - UFC, SAMILA GOMES RIBEIRO - UFC, HERLA MARIA FURTADO JORGE - UFPI, JULIANA SAMPAIO DOS SANTOS - MEAC, ANA THEREZA CARVALHO PONTES - UFC, CAMILA ELEN COSTA ALEXANDRE - UFC, LEIDA STEPHANE PEREIRA LOPES - UFC, DOUGLAS DE ARAÚJO COSTA - UFC


Apresentação/Introdução
A gravidez não planejada é um importante problema de saúde pública e representa custos econômicos, de saúde e psicossociais significativos para indivíduos e comunidades. Entre 2008 e 2020, a taxa de prevalência global de gravidez indesejada em países de baixa e média renda foi de 26,08%, com maior proporção na Bolívia (61,71%) e menor proporção no Egito (19,25%).1
Estudo multicêntrico realizado em oito hospitais universitários no Brasil observou que 67,5% das gestações não haviam sido planejadas, com mediana de prevalência de 59,7%.2
Na Etiópia, as características pessoais, a influência familiar, sociocultural e econômica, bem como a influência dos prestadores de cuidados de saúde, os pensamentos e comportamentos preconceituosos e a falta de acesso a serviços de planejamento familiar de qualidade são as razões para a maioria das gravidezes indesejadas.3
Nesse contexto, é essencial reconhecer os fatores associados à persistência e ocorrência do fenômeno da gravidez não planejada para que se possam delinear estratégias efetivas de enfrentamento e redução da sua incidência.

Objetivos
Verificar as condições sociodemográficas associadas à gravidez não planejada.

Metodologia
Trata-se de estudo transversal, realizado com 320 pacientes. Foram incluídas mulheres no puerpério imediato em até 12 horas pós-parto, internadas no alojamento conjunto, independente da via de parto e maiores de 18 anos. A pesquisa foi realizada em duas Maternidades Terciárias de Fortaleza – CE, entre fevereiro e maio de 2024. Foram excluídas as puérperas com limitações físicas ou psicológicas que impediram a resposta ao questionário.
Realizou-se análise do prontuário e entrevista com instrumento de autoria própria contendo perguntas sobre os fatores relacionados ao ciclo gravídico-puerperal. A variável desfecho utilizada foi o planejamento da gravidez em cruzamento com os dados sociodemográficos. Os dados foram analisados pelo Statistical Package for Social Scienses, versão 22.0. Realizou-se testes estatísticos de Qui-quadrado, com nível de significância de p

Resultados e Discussão
Foram entrevistadas 320 puérperas, cujas idades variaram de 18 a 45 anos, com mediana de 26, e cujos anos de estudo variaram de um a 18, com mediana de 12. Além disso, 235 (73,4%) puérperas se identificaram como pardas e 208 (65%) relataram que a gravidez não foi planejada.
Uma pesquisa sobre o perfil epidemiológico das gestantes de alto risco evidenciou que 58,9% das mulheres não realizaram planejamento familiar.4
Ao realizar a associação entre variáveis sociodemográficas e a ocorrência de planejamento da gravidez, verificou-se que das 208 mulheres que não planejaram a gravidez, 56,7% tinham até 26 anos de idade (p=0,027) e 67,8% tinham renda familiar mensal de até 1 salário mínimo (p=0,017), com incremento em 20,1% e 25,2%, respectivamente, na ocorrência do desfecho quando comparadas às demais.
Em um estudo realizado no Paraná, das 327 puérperas entrevistadas, 51,6% delas não planejaram a gestação e a média de idade dessas mulheres foi de 26,7 anos. Observou-se relação entre o não planejamento da gestação e renda de até um salário mínimo, com uma proporção de 17,2% de renda até um salário mínimo nas gestações não planejadas contra 10,1% das gestações planejadas.5
Ademais, mulheres que não coabitavam com o parceiro sexual (p=0,001) apresentaram prevalência 38% maior na ocorrência de não planejamento da gravidez quando comparadas às que coabitavam.
Corroborando esse achado, pesquisa com dados secundários de seis países do sul da Ásia revelou que dentre as 41.689 mulheres participantes do estudo, 19,1% de suas gestações foram indesejadas, com variação de 11,9% na Índia a 28,4% em Bangladesh. Ademais, o modelo de regressão logística mostrou que a chance desse desfecho era 10% menor em mulheres que viviam com o companheiro ou marido.6

Conclusões/Considerações finais
A partir dos resultados alcançados, é possível concluir que a maior parte das participantes não planejou a gravidez atual. De forma significativa, as puérperas de até 26 anos demonstraram maior prevalência para o desfecho de gravidez não planejada, revelando a influência da idade na programação da vida reprodutiva da mulher.
Ao investigar a renda familiar, o estudo mostra que uma gravidez não planejada acontece majoritariamente entre as mulheres que recebem até um salário mínimo. Esse fenômeno destaca a necessidade de intervenções que minimizem as desigualdades em saúde.
De forma semelhante, a mulher que não vive com o parceiro tem mais chances de concepção não planejada. Os achados também mostram que grande parte das puérperas não possuía ocupação remunerada, o que não influiu na ocorrência de uma gravidez não planejada. É esperado que essa investigação contribua para direcionar futuras ações voltadas para o cuidado reprodutivo e o suporte adequado às mulheres.

Referências
1. Aragaw FM, et al. Magnitude of unintended pregnancy and its determinants among childbearing age women in low and middle-income countries: evidence from 61 low and middle income countries. Front Reprod Heal 2023;5:1113926.
2. Nilson TV, et al. Unplanned pregnancy in Brazil: national study in eight university hospitals. Rev Saude Publica 2023;57.
3. Yalew AZ, Olayemi OO, Yalew AW. Reasons and prevention strategies of unintended pregnancy in Addis Ababa, Ethiopia: a phenomenological qualitative study. BMJ Open 2023;13:72008.
4. Soares LG, et al. Perfil epidemiológico de gestantes de alto risco. Rev Médica Minas Gerais 2021;31:1–8.
5. Maffessoni AL, Angonese NT, Rocha BM. Perfil epidemiológico das gestações não planejadas em um hospital de referência no oeste do Paraná. Femina. 2021;49(12):682-9.
6. Sarder A, et al. Prevalence of unintended pregnancy and its associated factors: Evidence from six south Asian countries. PLoS One 2021;16.

Fonte(s) de financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001; Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) por meio de bolsas para o Programa de Educação Tutorial.


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