Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC4.21 - Rede de Atenção à Saúde da Mulher

48983 - ASSISTÊNCIA HOSPITALAR AO ABORTAMENTO NA REDE PÚBLICA: EXPERIÊNCIAS DE MULHERES NO ATENDIMENTO ÀS SITUAÇÕES DE ABORTO.
KATHERINE JERONIMO LIMA - UECE, ALISSON SALATIEK FERREIRA DE FREITAS - UECE, ANTÔNIO RODRIGUES FERREIRA JÚNIOR - UECE, FRANCISCO JOSÉ MAIA PINTO - UECE


Apresentação/Introdução
Considera-se o aborto como uma pauta importante na discussão na assistência à saúde da mulher, mediante de suas complicações, em especial os abortamentos autoinduzidos, por gerarem impactos aos corpos femininos e encargos financeiros nos serviços de saúde. Porém, a maternidade é considerada como um aspecto extremamente importante na vida das mulheres, para tanto as questões envolvendo abortamento são desafiadoras. Nesse sentido, as apreciações culturais negativas sobre o aborto também se repercutem nos espaços de assistência à saúde. Ressalta-se que as redes atenção à saúde à mulher, são organizados para o período gravídico-puerperal, privilegiando a figura materna. Além disso, a atuação dos profissionais, às mulheres admitidas nos hospitais públicos para finalização do processo de abortamento, seja por condições clínicas, provocadas ou situações legais, é permeada de conflitos interpessoais, religiosos e estigmas, tendo suas práticas interferidas por julgamentos verbais, desconfianças e demonstrações de desconforto, consequentemente, além das dores físicas, elas sofrem desamparo emocional e social. Desse modo, os cuidados em saúde são distantes dos modelos propostos nas diretrizes nacionais e internacionais.

Objetivos
Descrever como ocorre o acesso e a assistência aos casos de aborto, a partir das experiências de mulheres que vivenciaram situações abortivas.

Metodologia
Pesquisa descritiva com abordagem qualitativa. O cenário de estudo foram dois hospitais públicos de referências à assistência ginecológica e obstétrica, de gestão municipal, localizados em Fortaleza-Ceará. As participantes foram as mulheres internadas nos hospitais eleitos com atendimento para abortamento. Selecionaram-se os dados de 16 mulheres, provenientes de uma amostra de 119 participantes de estudo epidemiológico transversal, sobre internações por abortamento (provocado) e fatores associados. Consideraram-se elegíveis para o estudo, mulheres com admissão à enfermaria, após a realização de procedimento para esvaziamento uterino, maiores de 18 anos e, com condições clínicas e emocionais para participar da pesquisa. A pesquisa de campo ocorreu no período de março a outubro de 2017. As informações utilizadas foram procedentes de fragmentos das entrevistas semiestruturadas. Além disso, utilizaram-se os registros do diário de campo. Os fragmentos das entrevistas e as narrativas do diário de campo foram examinadas por método de Análise de Conteúdo proposta por Bardin. O estudo teve aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará (CAAE: 66687817.9.0000.5534).

Resultados e Discussão
Após leitura exaustiva do material, foram elegidas e categorizadas três temas. Tema 1- Condição invisível: a não representação das situações abortivas na rede da assistência à saúde. Há relatos de sofrimento e de sentimento de inferioridade, pois não se encontram na mesma condição das outras mulheres que estavam juntamente com seus recém-nascidos. Já aquelas que optaram por não seguir com a gravidez, se questionaram se foi a melhor opção, acarretando o sentimento de culpa ao estarem com outras mulheres com filhos. Ademais, verbalizaram ausência de seus acompanhantes e oferta de cuidado inferior. Tema 2- Peregrinação e entraves para finalização do aborto: demora no atendimento nos serviços e peregrinação entre os hospitais. Nem sempre é internada na primeira instituição onde procurou atendimento, transitando em dois ou mais hospitais na busca da finalização da gravidez. Também, percebeu-se descaso médico pela não oferta de atendimento e tratamento oportunamente. Observou a não garantia de cuidado, falta de atendimento prioritário e indiferença das suas queixas, mesmo que as condições delas demonstrassem tal urgência. Tema 3- O aborto pode esperar: existe uma a regulação institucional e profissional que dita as condutas impostas nas situações abortivas. Em seus relatos, a atenção recebida foi permeada de julgamentos e preconceitos, falta apoio e acolhimento. Na maioria dos casos, podem esperar de 12 horas ou mais para o esvaziamento uterino, pois não classificados como prioritários. Assim, os procedimentos somente serão realizados posteriormente aos partos normais e cesarianos. Ademais, sem acesso a internação hospitalar, a mulher segue para seu domicilio, sem apoio medicamentoso e/ou profissional, podendo esperar até 15 dias, para que seja finalizado o aborto completamente.

Conclusões/Considerações finais
As políticas públicas e o sistema organizacional da rede de assistência à saúde focam a mulher, enquanto mãe. Logo, a temática do aborto não é problematizada como problema público e segue negligenciada nas discussões relativas à saúde sexual e reprodutiva. Tal contexto, promove dificuldades de acesso a uma atenção ao abortamento de qualidade, como: obstáculos para admissão de vagas para internação, demora e discriminações no atendimento, ausência ou não seguimento de protocolos clínicos recomendados pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial de Saúde nos cuidados as mulheres em situação de aborto. Assim, é necessário visibilizar a problemática do aborto, incluindo o tema nas programações e nos planejamentos em saúde, para que gestores, profissionais de saúde e outros envolvidos na rede de atenção à saúde da mulher promovam políticas e estratégias para uma assistência humanizada, e, principalmente, ações que assegurem os direitos sexuais e reprodutivos de todas as mulheres.

Referências
AQUINO, E.M.L. et al. Qualidade da atenção ao aborto no Sistema Único de Saúde do Nordeste brasileiro: o que dizem as mulheres? Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 7, p. 1765-1776, jul. 2012

DINIZ, D; MEDEIROS, M; MADEIRO, A. Pesquisa Nacional de Aborto 2016. Ciência & Saúde Coletiva, v.22, n.2, p. 653-660, 2017.

ORIHUELA-CORTÉS, F; MARVÁN, M, L. Estigma hacia el aborto y sus consecuencias: acciones para reducirlo. Revista Digital Universitaria. Vol. 22, núm. 4 julio-agosto 2021

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