Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC4.20 - Enfrentando à Violência

54391 - ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR POR RESIDENTES MULTIPROFISSIONAIS EM SAÚDE DA FAMÍLIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
DAILEY OLIVEIRA CARVALHO - UEFS, GEOVANA CHAGAS BARROS - UEFS, MANUELA VALVERDE FERNANDES - UEFS, CAMILLA SANTANA COSTA - UEFS, MAYLANNE FREITAS DOS SANTOS - UEFS, GILMAR PAIVA - UEFS, LUCIANO SARAIVA - UEFS, MILENA REIS - UEFS


Contextualização
A violência constitui-se num fenômeno complexo e é considerada um problema de saúde pública e de violação dos direitos humanos que se apresenta atrelada ao resultado das relações e dos conflitos de poder, com profundas repercussões sociais (Machado et al., 2014). Em 2022, 245.713 pessoas foram vítimas de violência doméstica, tendo mulheres, idosos e crianças como as maiores vítimas desses atos (Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2023).
A Atenção Primária à Saúde (APS) representa a porta de entrada dos usuários aos serviços, o que favorece a realização de ações que discutam a violência doméstica e fortaleçam políticas públicas de enfrentamento. Tais estratégias são necessárias para a prevenção dos traumas físicos e emocionais e até mesmo a morte das pessoas que sofrem com esse tipo de violência (Brasil, 2015).
Porém, o enfrentamento da problemática pelos serviços de saúde ainda ocorrem de forma muito desarticulada. As ações de vigilância do agravo ainda são precárias, visto que muitos profissionais desconhecem a articulação entre a Rede de Atenção à Saúde (RAS) e ainda se deparam com alguns desafios, como medo e insegurança (Lobato et al., 2012). Sendo assim, as ações de promoção às formas de combate à violência pelos profissionais que se encontram na APS são imprescindíveis para articulação e fortalecimento da RAS nos casos de violência doméstica.

Descrição da Experiência
Trata-se de um relato de experiência, de caráter qualitativo e descritivo, do “II Encontro intersetorial de enfrentamento à violência intrafamiliar”, ocorrido em 2024, como estratégia de enfrentamento desse tipo de violência. Foi oferecido pela Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RESMSF), da UEFS, em parceria com a Coordenação da Atenção Básica de uma cidade no interior da Bahia, direcionado para Agentes Comunitários de Saúde (ACS).
O evento teve como desígnio proporcionar uma maior articulação entre os dispositivos da RAS e dos serviços relacionados à assistência social e segurança, a fim de capacitar os profissionais de saúde quanto à conduta diante de situações de violência intrafamiliar. Foi organizado em dois momentos: o primeiro com a apresentação do processo de trabalho de dispositivos públicos de enfrentamento da violência no município; o segundo com a dinâmica de discussão de estudos de caso sobre a violência contra mulheres, idosos e crianças, entre quatro grupos operativos e posterior socialização. A atividade foi mediada por uma docente da UEFS, tutora da RESMSF.
O encontro contou com a participação de representantes do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), do Núcleo Especializado de Atendimento à Mulher (NEAM) e da Vigilância em Saúde, além de 87 ACS.

Objetivo e período de Realização
Relatar a experiência de residentes multiprofissionais em Saúde da Família, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), no enfrentamento da violência intrafamiliar, num município do interior da Bahia, em 2024.



Resultados
De antemão, foi percebido o desconhecimento dos ACS sobre o funcionamento e direcionamento dos casos de violência, além de uma fragilidade na comunicação entre os órgãos responsáveis pelo manejo.
Segundo Osis et al. (2012), o desconhecimento e o despreparo de profissionais de saúde perante a rede pública intersetorial de cuidado é um dos principais fatores que influenciam no fracasso da APS no diagnóstico e manejo dos casos de violência intrafamiliar. Isso acontece porque, além da não identificação da problemática, ao abordar as vítimas, não é garantido o suporte necessário para enfrentamento da situação de violência vivenciada.
O encontro foi marcado por muita discussão e interação, onde ACS e outros profissionais envolvidos no
Portanto, a instrumentalização do profissional de saúde, através da educação permanente, é o que pode mudar a situação. Através da atuação nos territórios, na APS, é possível que se identifiquem os problemas e seus possíveis determinantes e condicionantes, essencial para o planejamento e a execução de ações articuladas de vigilância à saúde (Leite; Albuquerque, 2023).



Aprendizado e Análise Crítica
O evento proporcionou a compreensão dos direcionamentos e a atuação dos profissionais de saúde em casos de violência doméstica, além de possibilitar a percepção de como o território é fundamental para a maior vigilância das situações de saúde. Sendo assim, percebeu-se a problemática que envolve a articulação da RAS com os demais dispositivos de proteção contra a violência doméstica e a importância do seu conhecimento, para a tomada de ações voltadas à sua prevenção, por profissionais da saúde vinculados à APS.
Após o fim das atividades, com a descrição dos serviços disponíveis, estratégias de combate e auxílio às vítimas, além da utilização de mecanismos participativos de discussão, foi percebido como os profissionais demonstraram maior conhecimento e apropriação técnica de como proceder diante de casos de violência doméstica.
Além disso, a realização de educação permanente torna-se uma estratégia fundamental para a instrumentalização dos profissionais de saúde da APS acerca da temática e subsequente tomada de decisão diante de situações de violência doméstica, além de promover a articulação com a rede pública intersetorial de cuidado.


Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.130, de 5 de agosto de 2015. Institui a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC) no âmbito do SUS.
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. São Paulo, 2023.
LEITE, J. C. S.; ALBUQUERQUE, G. A. A Estratégia Saúde da Família e o enfrentamento à violência contra crianças e adolescentes: revisão integrativa. Ciência & Saúde Coletiva, 28(11):3247-3258, 2023.
LOBATO, G. R.; MORAES, C. L.; NASCIMENTO, M. C. Desafios da atenção à violência doméstica contra crianças e adolescentes no Programa Saúde da Família em cidade de médio porte do Estado do Rio de Janeiro Brasil. Cad Saúde Pública. 2012; 28(9):1749-1758.
OSIS, M. J. D.; DUARTE, G. A.; FAÚNDES, A. Violência entre usuárias de unidades de saúde: prevalência, perspectiva e conduta de gestores e profissionais. Revista de Saúde Pública. 2012.v. 46, n. 2, p. 351–358.

Fonte(s) de financiamento: Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Capes)


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