Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC4.20 - Enfrentando à Violência

53176 - O COTIDIANO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DA ATENÇÃO DOMICILIAR DIANTE DE SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA
MARIANA ALMEIDA MAIA - UFMG, MOEMA SANTOS SOUZA - UEMG, MARÍLIA ALVES - UFMG


Apresentação/Introdução
A violência é um problema de Saúde Pública e social, caracterizada por atos intencionais que objetivam prejudicar ou causar danos a si, aos outros ou a um grupo, podendo envolver o uso
da força física e/ou as relações de poder. A Atenção domiciliar (AD) está incluída na Rede de Assistência à Saúde com ações de gestão e assistenciais integradas a fim de que sejam resolutivas no cuidado prestado ao paciente. Torna-se um desafio, visto que há um deslocamento do cenário assistencial para o domicílio. Os profissionais podem se deparar com situações de violência que interferem no seu trabalho e que podem não ser percebidos, resultando em prejuízos na sua atuação em várias áreas. (CASTRO et al., 2018; MAIA et al., 2019). Para lidar com as situações de violência no cotidiano de trabalho, os profissionais da AD criam maneiras de fazer para lidar com este desafio diante de um cenário multifacetado. Estratégias e táticas cotidianas se tornam componentes de um espaço organizado, práticas de homens comuns no cotidiano. Para Michel de Certeau “O cotidiano é aquilo que nos é dado (ou que nos cabe em partilha), nos pressiona dia após dia, nos oprime, pois existe uma opressão do presente” (CERTEAU, 2014, p31), no qual cada um tem sua intencionalidade, sua vivencia, o seu fazer estimulados por situações circunstanciais.

Objetivos
Descrever as práticas cotidianas dos profissionais de saúde diante das situações de violência.

Metodologia
Este estudo configura-se como um estudo de caso único de abordagem qualitativa. (MINAYO, 2017). A amostra foi intencional, composta por médicos, enfermeiros, assistentes sociais, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, nutricionistas e terapeutas sociais. O critério de inclusão do estudo foi: Profissionais de saúde vinculados ao SAD por mais de 04 (quatro) meses; e critérios de exclusão: Profissionais de saúde recém-contratados, de férias ou licenciados no momento da coleta de dados. Todas as equipes do SAD e seus profissionais foram convidados a participar da pesquisa. Para a coleta de dados foram realizadas entrevista e observação. Os dados foram submetidos à Análise de Conteúdo na modalidade análise categorial temática com base no referencial de Bardin (2011).Esta análise possibilitou aprofundar a compreensão dos sentimentos que a violência desperta nos profissionais de saúde da AD. Os participantes manifestaram anuência com a pesquisa mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.


Resultados e Discussão
Nesta categoria pode-se perceber que os profissionais começaram a refletir sobre as suas práticas diante das situações de violência percebidas e vivenciadas. O profissional de saúde da
AD quando perguntado sobre o seu trabalho na atenção domiciliar se questiona se já passou por alguma situação e que não sabia que poderia ter feito algo ou já está acostumado com a
situações do cotidiano. O profissional de saúde busca maneiras de fazer no seu cotidiano, para tentar solucionar os problemas decorrentes das situações vivenciadas. As táticas, como novas
e inventivas maneiras de fazer além do normatizado, podem ser criadas como alternativas para o caminhar no espaço elaborado. O trabalho foi percebido como desestimulante dependendo das situações relatadas, por tentar melhorar a assistência ao paciente ou aceitar que a violência está imposta e não ter outra opção. Há um sentimento de que a violência esta generalizada em qualquer lugar que for trabalhar. As situações de violência presentes no cotidiano dos profissionais de saúde podem desencadear frustração com a profissão, mas ao mesmo tempo, o profissional percebe que aquela situação pode ser um fator que o leva a perceber que pode melhorar sua prática. As estratégias estabelecidas para o atendimento em situações de violência não orientam os profissionais a agir diante de situações consigo mesmo, o que o torna vulnerável a situação.

Conclusões/Considerações finais
As situações de violência contra profissionais os afetam acarretando prejuízos no trabalho, além de transtornos psicológicos, principalmente por se tratar de territórios de alta vulnerabilidade. Porém, há sensibilidade de alguns em relação ao modo de viver dos pacientes que resulta em sofrimento pela condição do outro. Os profissionais buscam desenvolver ações, no trabalho, para tentar minimizar os efeitos da violência no cotidiano. Por outro lado, apesar dos desafios, há, também, satisfação de trabalhar na AD como espaço de crescimento profissional, compromisso com fluxos de pacientes na rede, atuar na AD como elo, desenvolvendo um sentimento de pertencimento ao lugar. Acredita-se que o presente estudo poderá despertar os profissionais da saúde para reconhecerem o problema, bem como instigar futuros profissionais a refletir sobre as suas práticas e atuar no enfrentamento de situações de violência na AD.

Referências
MINAYO, M.C.S. et al. Institucionalização do tema da violência no SUS: avanços e desafios. Ciência & Saúde Coletiva, June, v. 23, n. 6, p.2007-2016, 2018.
CASTRO, E.A.B. et al. Organização de atendimento domiciliar com o Programa Melhor em Casa. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, v. 39, e2016-0002, 2018.
MAIA, M.A. et al. Praticas profissionais em situações de violência na atenção domiciliar: Revisão integrativa . Ciencia & Saude Coletiva , Fev, prelo, 2019.
CERTEAU MA. Invenção do cotidiano: artes de fazer. 15ed. Petrópolis: Vozes; 2014.
MINAYO, MCS. Amostragem e saturação em pesquisa qualitativa: consensos e controvérsias. Revista Pesquisa Qualitativa, v.5, n.7, p.1-12, 2017.
BARDIN L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2011.
NOWROUZI-KIA, B. The impact of workplace violence on health care workers’ quality of life. Dev Med Child Neurol, Jul, v.59, n.7, p.675, 2017.


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