51471 - CONTAÇÃO DE HISTÓRIA COMO FERRAMENTA NO ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA SEXUAL NA ESCOLA RAQUEL DE CASTRO ALVES NEPOMUCENO - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE FORTALEZA, IVANA CRISTINA DE HOLANDA CUNHA BARRETO - FIOCRUZ CEARÁ, MÔNICA FERREIRA MOTA - MOVIMENTO SOCIAL
Contextualização Coação, manipulação e medo. Essa é uma triste realidade vivenciada por milhares de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. 70% das vítimas de estupro no Brasil são crianças e adolescentes. A maioria possui entre 7 e 14 anos. Os possíveis efeitos desta violação podem desenvolver em curto e em longo prazo, repercussões de ordens psicológicas, físicas, sexuais e sociais para a vida das vítimas, sendo assim um problema de saúde pública. A articulação intersetorial é um caminho necessário, indicando a importância de envolver em rede diferentes atores sociais na abordagem à violência. No entanto, no campo da Atenção Primária à Saúde (APS), a falta de discussões sobre a temática, a fragilidade na rede local de cuidados às crianças e adolescentes em situação de violência, o medo do envolvimento legal nos casos constitui-se ainda uma realidade na prática da Estratégia Saúde da Família (ESF).
Descrição da Experiência Trata-se de um relato de experiência de uma intervenção em saúde realizada com os profissionais da ESF de Fortaleza/CE e uma ativista contra violência sexual infantojuvenil, desenvolvida em uma escola pública. Além de ativista, Mônica Mota é assistente social, escritora, autora de dois livros infantis sobre violência sexual. Semanalmente, a equipe de saúde realiza atividades de educação em saúde previstas nos Programas: Saúde na Escola e Gente Adolescente, ambos com foco na promoção e prevenção em saúde. Foram realizados momentos de discussão com os estudantes das turmas do 5º e 9º ano e seus respectivos professores. Utilizou-se um dos livros de Mônica Matos: “Tom, Elis e Chico”, que conta a história de três macaquinhos que viviam felizes até a chegada de uma mão, que mudou o comportamento deles. A contação foi feita pela própria autora. Nas turmas do 9º ano, também compartilhamos de uma conversa sobre a história de vida da ativista. A metodologia escolhida para cada faixa, suscitou estímulo a fala, a troca de saberes e a construção compartilhada. Como limitações da intervenção o curto espaço de tempo para debater toda a complexidade do tema. Um total de 157 estudantes, 8 professores e 7 profissionais da saúde participaram da ação.
Objetivo e período de Realização Compartilhar as reflexões da equipe da ESF sobre a intervenção no enfrentamento a violência sexual infanto-juvenil realizada nos dias 7 e 9 de maio de 2024.
Resultados A intervenção desencadeou vários efeitos positivos, a começar pela própria oportunidade de promover um encontro para a discussão e abordagem da temática na APS, que quase sempre é negligenciada, seja pelo despreparo dos profissionais ou pelos desafios de trabalhar temas relacionados a educação sexual na escola. A escola precisa ser um lugar seguro e de acolhimento, como a equipe ESF precisa compreender seu papel nesse processo. Uma das formas de prevenção em relação à violência sexual infantil é se atentar aos sinais que indiquem que a criança possa ter sido vítima, como o isolamento social e a hipersexualização. Para isso, faz-se necessário ensinar as crianças sobre o corpo humano, para que especifiquem suas partes íntimas e os tipos de interações que podem configurar abuso, para que elas saibam se proteger ou denunciar o ocorrido. É fundamental conversar com as crianças sobre os limites do corpo, ensinar que ela não deve permitir que ninguém toque em suas partes íntimas. A contação de história facilitou essa comunicação entre os participantes. Um exemplar ficou para livre acesso na biblioteca da escola, o único livro existente sobre a temática.
Aprendizado e Análise Crítica A violência sexual contra crianças e adolescentes é um fenômeno complexo e abrangente, que envolve diferentes aspectos, cenários e sujeitos. Na APS, precisamos estar preparados para lidar com essa demanda, aprimorando nossos conhecimentos e dispondo de estratégias de identificação e intervenção frente a este problema. A contação de história constituiu-se uma potente ferramenta no trabalho da equipe da ESF para orientar sobre habilidades autoprotetivas para crianças e adolescentes. A inserção da educação sexual nas escolas precisa ser pauta prioritária na agenda da Saúde e Educação, visto que o papel fundamental da escola na promoção de prevenção e conhecimento sobre abuso são estratégias eficazes para enfrentar esse grave problema. Educação sexual adequada deve abordar a ideia de consentimento, a prevenção de abuso e o que são relacionamentos saudáveis, além de orientação sexual. O desafio consiste em superar barreiras culturais e ideológicas para uma Educação sexual acessível, respeitosa e eficaz.
Referências Batista, M B B; Quirino, T R L ; Silva, M V. Violência contra crianças na atenção primária à saúde: uma proposta de matriciamento. Mudanças – Psicologia da Saúde, 28 (2), Jul.-Dez. 2020
Ministério da Saúde. (2018). Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico Nº 27: Análise epidemiológica da violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil, 2011 a 2017. Brasília, DF: Ministério da Saúde. Recuperado de https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/biblioteca/boletim-epidemiologico-no-27/ [ Links ]
World Health Organization. (2014). Global status report on violence prevention 2014. Geneva: WHO. Recuperado de https://apps.who.int/iris/handle/10665/145086 [ Links ]
Fonte(s) de financiamento: Própria
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