54137 - O ACESSO À REDE DE SAÚDE SOB A PERSPECTIVA DOS USUÁRIOS DO ALTO RIO SOLIMÕES LETÍCIA SANTOS DE SOUZA - UEA, MICHELE ROCHA DE ARAÚJO EL KADRI - FIOCRUZ – ILMD, SÔNIA MARIA LEMOS - UEA, PRISCILA MOREIRA SANTANA - FIOCRUZ – ILMD / PUC- SP, JÚLIO CESAR SCHWEICKARDT - FIOCRUZ – ILMD, MARLUCE MINEIRO PEREIRA - FIOCRUZ – ILMD, ÂNGELA LUIZA REBELO DA SILVA ARRUDA - FIOCRUZ – ILMD
Apresentação/Introdução A região do Alto Rio Solimões no Amazonas, é um território diverso que possui particularidades no modo de viver da população, sendo atravessada por aspectos geográficos, econômicos, políticos e culturais que condicionam o acesso à rede de saúde dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) (KADRI, et al, 2019). Deste modo, é necessário compreender de que forma se organiza o fluxo de acesso pelas gentes que vivem nesse território, que muitas vezes, realizam um percurso em busca da assistência, traçando uma rota que se adequa às suas necessidades. A produção de saúde nessa região se torna um desafio para a implantação de políticas públicas, sobretudo as de saúde, o que provoca a reflexão sobre o conceito de território líquido, onde os movimentos de seca e cheia dos rios perpassam o cotidiano dessa população, influenciando no percurso e no modo de deslocamento entre os municípios. Além disso, a região é marcada pelos fluxos de transeuntes que cruzam a tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, em busca de assistência nos estabelecimentos de saúde: tanto a população estrangeira que migra para os estabelecimentos de saúde do Brasil, quanto a população brasileira que busca atendimento nos serviços de saúde em municípios da fronteira. Destarte, a importância desse estudo está voltada para a compreensão desses fluxos, partindo da atenção básica até a atenção especializada.
Objetivos O objetivo geral do estudo é analisar como o uso do território condiciona o acesso à saúde e, tem como objetivo específico, mapear os trajetos da população no uso da rede de saúde.
Metodologia O levantamento de dados foi realizado no período de setembro de 2023, em 5 municípios da região da calha do alto rio Solimões: Amaturá, Benjamin Constant, Fonte Boa, São Paulo de Olivença e Tabatinga. Foram realizadas entrevistas com os usuários do SUS, a partir de um roteiro semiestruturado com perguntas fechadas e abertas, aplicadas com auxílio do aplicativo REDCap. As entrevistas foram transcritas na íntegra pelo software Cockatoo, organizadas, sistematizadas e categorizadas a partir do uso do software MaxQDA. As categorias foram analisadas a partir da análise de conteúdo temática proposta por Bardin (1977). Para o mapeamento do trajeto entre os municípios, foi utlizado o Wikiloc, aplicativo de fácil uso, gratuito e com funcionamento offline. O Wikiloc fornece informações como distância percorrida, tempo de deslocamento, além de um mapa (mostrando o ponto de partida e de chegada), que pode ser baixado direto do aplicativo.
Resultados e Discussão Em relação ao acesso à rede de saúde, 52% dos entrevistados informaram deslocar-se para Manaus e Tabatinga, por esses municípios ofertarem melhor rede de serviços, com maior variedade de especialidades médicas e resolubilidade quanto aos exames e cirurgias. Manaus e Tabatinga são considerados municípios-polo, ou seja, referência para os municípios de menor porte e baixa oferta de serviços de níveis mais complexos de saúde. De acordo com o princípio de regionalização quando um município pertencente à mesma região de saúde, não produz cuidado nos níveis mais complexos, o usuário é referenciado ao município-polo, permitindo assim, melhor organização da Rede de Atenção à Saúde – RAS. Os entrevistados também referiram acessar os serviços da rede de saúde privada das cidades fronteiriças, como alternativa à escassez dos serviços de saúde, em seus municípios de origem, quando pelo SUS, encontram alguma dificuldade, como a celeridade na marcação e recebimento do resultado de exames, que não podem aguardar tanto tempo, em virtude da possível piora no quadro do usuário. Quanto ao meio utilizado para deslocamento, é feito por via fluvial, sendo o barco e a lancha os transportes mais comuns. O barco é um meio de menor custo, porém possui um tempo maior em seu trajeto, utilizado majoritariamente em períodos de cheia, e a lancha, por ser mais ágil e de melhor navegação, é mais utilizada em períodos de estiagem, onde são encontrados diversos obstáculos no leito do rio. Sobre o referenciamento da atenção básica para a especializada, informaram acessar o sistema por conta própria, geralmente em casos de urgência ou quando o tempo de espera através do sistema de regulação (SISREG) se torna muito longo e, em alguns casos, contam com o apoio das prefeituras ou secretarias municipais.
Conclusões/Considerações finais Considerando que o usuário, muitas vezes, necessita se deslocar até outro município para ter acesso aos serviços de saúde, e que, nesse deslocamento há entraves que tornam ainda mais dificultoso esse acesso, como por exemplo quando não há o apoio das prefeituras ou secretarias municipais e os usuários arcam com os custos de passagens e com a permanência no município de referência, quando o usuário prefere se deslocar em período de cheia do rio pois o tempo de chegada se torna menor e, ainda, quando há urgência para atendimento e este se submete a serviços particulares dos municípios ou da própria fronteira pois, leva de 1 a 3 dias para chegar a certos municípios, compreende-se que tais particularidades do território permeiam o cotidiano da população, produzindo efeitos sobre as maneiras de acesso aos serviços de saúde e também, demonstrando que o contexto amazônico requer que políticas públicas mais equânimes sejam construídas.
Referências KADRI, M. R. et al. Unidade Básica de Saúde Fluvial: um novo modelo da Atenção Básica para a Amazônia, Brasil. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v. 23, p. e180613, 2019.
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
Fonte(s) de financiamento: PROGRAMA INOVA FIOCRUZ
|