48708 - INOVAR E RECONSTRUIR A GESTÃO DO CUIDADO: UMA EXPERIÊNCIA DE MONITORAMENTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NO ENFRENTAMENTO DA EPIDEMIA DE DENGUE EM 2024 NAYARA EVANGELISTA - SRS DIVINÓPOLIS, DAYANE ALVES RIOS - SRS DIVINÓPOLIS, LUCIMARA DA CONCEIÇÃO OSÓRIO FORTUNATO - SRS DIVINÓPOLIS
Contextualização A dengue é uma doença febril aguda, sistêmica e dinâmica, que pode apresentar amplo espectro clínico, podendo parte dos pacientes evoluir para formas graves, e inclusive levar a óbito. A quase totalidade dos óbitos por dengue é evitável e depende da qualidade da assistência prestada e da organização da rede de atenção à saúde. A Atenção Primária à Saúde (APS) é a porta de entrada preferencial do Sistema Único de Saúde (SUS) e deve estar preparada para o acolhimento e atendimento dos casos de dengue. Epidemias de dengue são sempre desafiadoras, portanto, requerem um monitoramento e acompanhamento de perto por parte dos três níveis federativos. A Unidade Regional de Saúde (URS) de Divinópolis é uma unidade administrativa da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e tem sob sua jurisdição 53 municípios que formam a macrorregião de saúde Oeste de MG. Uma de suas atribuições é fornecer apoio e suporte aos municípios além da função de monitorar e avaliar a estrutura e qualificação da assistência à saúde. A região enfrentou uma grave epidemia de dengue em 2024 com registro de 103.521 casos prováveis e 90 óbitos em investigação, até a semana epidemiológica 19 de 2024. Desse cenário crítico, surge então a necessidade de se pensar em algo inovador que permita uma melhor gestão do cuidado e qualificação da assistência para enfrentamento da dengue nos territórios da região.
Descrição da Experiência A equipe de APS da URS Divinópolis elaborou um formulário que foi encaminhado via e-mail mensalmente aos coordenadores de APS dos municípios para coleta de informações acerca da atuação da APS durante a epidemia de dengue. O formulário é constituído por perguntas em sua grande maioria objetivas que envolvem a organização e atuação do serviço, como por exemplo, horário de funcionamento das equipes, salas de espera, atendimento aos casos agudos suspeitos de dengue, notificações, acolhimento e classificação de risco, manejo clínico e acompanhamento dos casos. Informações acerca da estrutura da APS também foram solicitadas, tais como: ambientes, materiais e insumos, composição das equipes, salas de hidratação, transporte do paciente e serviço de diagnóstico. As informações recebidas foram compiladas mensalmente em uma planilha em excel para facilitar a análise pela referência técnica de APS da URS Divinópolis. Após análise dos dados e identificação de problemas que pudessem estar comprometendo a assistência à saúde da APS frente aos casos de dengue nos municípios, produtos foram elaborados e desenvolvidos pela equipe da URS para intervenção direta com intuito de alinhamento e qualificação da assistência ofertada.
Objetivo e período de Realização Os objetivos do instrumento elaborado envolvem o monitoramento e acompanhamento da atuação da APS frente à epidemia de dengue em 2024 para promoção da organização e qualificação da assistência à saúde na APS no que tange aos casos de dengue. O formulário foi elaborado em novembro de 2023 e começou a ser aplicado em dezembro do mesmo ano, data que iniciaram os casos de dengue na região avaliada. O formulário seguiu sendo aplicado mensalmente até o mês de maio de 2024.
Resultados O formulário permitiu a realização de seis monitoramentos de 53 municípios durante a epidemia de dengue em 2024, realizados entre dezembro de 2023 e maio de 2024. A partir das informações obtidas, muitos gargalos foram identificados com necessidade de intervenção, como por exemplo, falta de capacitação dos profissionais quanto ao manejo clínico da dengue. Assim, a URS Divinópolis, organizou dois eventos no que tange ao manejo clínico, um realizado de forma presencial, ministrado por um médico infectologista da região, com participação de 185 profissionais e outro, uma capacitação online sobre interpretação de hemograma na dengue ministrada por uma doutora especialista em hematologia, com participação de 155 profissionais. Ambos eventos direcionados para os profissionais de saúde dos 53 municípios. Ademais, cinco reuniões foram realizadas por videoconferência, tendo os coordenadores de APS dos municípios como público-alvo, para apresentação, discussão e alinhamento do serviço de APS no enfrentamento da dengue, baseadas nas informações do formulário aplicado. 265 profissionais no total participaram das reuniões. Por fim, realizou-se uma visita in loco em um município.
Aprendizado e Análise Crítica As epidemias de dengue são sempre desafiadoras, pois são acometidas por um cenário com um número exacerbado de casos e um número alto de óbitos. A atuação dos profissionais de saúde, seja a nível de gestão ou execução de serviços é muitas vezes acompanhada por um sentimento de frustração visto que se percebe uma dedicação e alta carga de trabalho, porém sem sucesso pois os óbitos continuam a ocorrer. Por tanto, ideias, soluções e pensamentos inovadores são fundamentais no que tange o enfrentamento de epidemias. Em se tratando da dengue, as ações devem sempre ser voltadas para o controle dos casos e prevenção de óbitos, já que se trata de um óbito evitável. A elaboração desse formulário de monitoramento da APS durante a epidemia de dengue vivenciada em 2024 foi uma proposta para aproximar o contato da Unidade Regional de Saúde com os municípios, a fim de conhecer a realidade dos territórios e monitorar de perto a atuação da APS em um momento tão determinante para definição de sobrevida ou morte da população.
Referências MINAS GERAIS. RESOLUÇÃO SES/MG Nº 9485, DE 30 DE ABRIL DE 2024. Dispõe sobre a organização das Superintendências Regionais de Saúde e Gerências Regionais de Saúde.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de Doenças Transmissíveis. Dengue: diagnóstico e manejo clínico: adulto e criança [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Departamento de Doenças Transmissíveis. – 6. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2024.
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