52606 - PRÁTICAS DE ENFERMAGEM PREVALENTES NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL LÍGIA MARIA CARLOS AGUIAR - FIOCRUZ BRASÍLIA, MARIA FÁTIMA DE SOUSA - UNB
Apresentação/Introdução A história da saúde pública brasileira, do direito à saúde e do Sistema Único de Saúde (SUS) se encontra com o desenvolvimento da enfermagem brasileira. No Distrito Federal (DF), as particularidades desse processo relacionam o desenvolvimento da capital federal com suas implicações sociais e sanitárias, com repercussão nas práticas institucionais. O conhecimento aprofundado dos territórios, a longitudinalidade no cuidado à população, a gestão do processo de trabalho potencializam a prática de enfermagem na promoção de territórios saudáveis, não se restringindo à assistência, mas em interação com a determinação social da saúde¹ - em um contexto desafiador, tanto pela conformação plural do território, quanto pelas adversidades concernentes aos recursos humanos, à pandemia de COVID19 e aos modelos de atenção e gestão adotados no Brasil e no DF. Sendo a categoria mais presente na Atenção Primária à Saúde (APS), a enfermagem é a recepção do cidadão nos serviços, com coordenando o cuidado e ordenando rede de saúde com integralidade, para garantir o direito à saúde como pilar da relação intersetorial que viabiliza condições dignas de vida. As práticas de enfermagem na APS precisam ser estudadas para compreensão e avaliação dos processos de trabalho, além da proposta de novas modelagens de atenção, amparadas pelos princípios do SUS e em contraponto ao modelo de saúde vigente.²
Objetivos Verificar a prevalência das principais práticas de enfermagem no cotidiano da APS do DF, compreendendo a percepção dos profissionais que as desenvolvem.
Metodologia Estudo de abordagem mista, tipo exploratório e descritivo, com dados qualiquantitativos para a análise do objeto.3, Os dados compõem a pesquisa “Práticas de enfermagem no contexto da Atenção Primária à Saúde; estudo nacional de métodos mistos”, atendendo à categoria “valorização profissional” e às dimensões “práticas coletivas na UBS-ESF” e “práticas individuais”, estabelecidas pela pesquisa mãe. Foram coletados por questionário eletrônico e analisados pelo Statistical Package for the Social Sciences; e por entrevista em profundidade, analisadas pelo software NVivo e pela Análise de Conteúdo de Bardin.4 O cenário do estudo são as sete regiões de saúde do DF e as 177 unidades básicas de saúde do território. Os dados foram coletados no período de novembro de 2019 a agosto de 2021. Responderam ao questionário quantitativo 329 enfermeiros incluídos pelos critérios de atuação em equipes de saúde da família ou cargos de gestão da APS há pelo menos dois anos, que aceitaram participar do estudo nacional; além de um enfermeiro por região de saúde do DF para dados qualitativos. Foram excluídos enfermeiros residentes, de licença de qualquer natureza ou que tenham recusado a participação.
Resultados e Discussão A execução das práticas de enfermagem na APS tem relevante compreensão e efetivação no DF. Nas práticas coletivas, grupos educativos são realizados por 60,5% (n=199) dos profissionais; registro e acompanhamento do Bolsa Família são feitos por 47,7% (n=157) e 38,6% (n=127), respectivamente, com relativa baixa adesão. Dentre as práticas individuais, as realizadas no território são predominantemente planejadas, realizadas e supervisionadas pelos enfermeiros – à exceção do Programa Saúde na Escola (PSE) e da atuação em outros espaços da comunidade, que “não se aplicam” para 53,8% (n=177) e 40,4% (n= 133) dos profissionais, respectivamente. O plano de cuidados para pessoas com condições crônicas é planejado, realizado e supervisionado por 53,8% (n=177) dos profissionais. As práticas gerenciais são bem estabelecidas, sendo a maioria executada “frequentemente”. A implementação dos protocolos é frequente para 58,4% (n=180) dos participantes. À exceção da sala de vacina, que no DF é supervisionada por responsável técnico designado, as práticas individuais de assistência são executadas com frequência. A consulta de enfermagem é feita diariamente por 76,6% (n=252) dos respondentes. 91,8% (n=269) dos profissionais considera suas práticas resolutivas. A prioridade dada às ações foi classificada de 1 a 5, da menor para maior prioridade. Apesar da pandemia de Covid19, o atendimento agendado dos usuários ainda ocupa 45,3% (n=149) da maior prioridade, seguido do atendimento por demanda espontânea - máxima prioridade para 52,6% (n=173). Chamam atenção as atividades educativas, sendo a educação permanente máxima prioridade apenas para 22,2% (n=73) e a educação em saúde, para apenas 7,4% (n=90) dos enfermeiros.
Conclusões/Considerações finais Há ênfase na determinação social e no cuidado, político, ético e subjetivo.5 Baixa participação no controle social e na mobilização comunitária revela esvaziamento de coletividade e distanciamento do protagonismo da enfermagem nos primórdios do SUS. A normatização das práticas garante autonomia profissional; mas fomenta performance individualizada e pouco participativa,5 pois a burocracia disciplina o trabalhador e limita criatividade, o que é desafiado pelo trabalho vivo transformador.² Percebe-se pluralidade, foco comunitário e promoção da saúde; mas ainda permanece alguma compreensão de APS seletiva. Enfermeiros são centrais para transformação do modelo de saúde, pois suas práticas qualificam o cuidado. Quanto mais favoráveis cenário, processo e relações de trabalho, mais sólidas a ciência e autonomia da enfermagem. A precarização do trabalho, o modelo de formação e o modelo de saúde são fatores limitantes ao reconhecimento da resolutividade da categoria na APS.
Referências 1. Santos, Neila and Cindy Silva. "Efetividade da assistência do enfermeiro da estratégia de saúde da família." Caderno de Grad-Ciências Biológicas e da Saúde-UNIT-SERGIPE 5.1 (2018): 145-145.
2. Santos D de S, Mishima SM, Merhy EE. Processo de trabalho na Estratégia de Saúde da Família: potencialidades da subjetividade do cuidado para reconfiguração do modelo de atenção. Ciênc saúde coletiva. 2018Mar;23(3):861–70.
3. MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14 ed. São Paulo: Hucitec, 2014.
4. Sousa MF de. Práticas de Enfermagem no Contexto da Atenção Primária à Saúde (APS): Estudo Nacional de Métodos Mistos. Brasília: Editora ECoS, 2022.
5. Corrêa, Vanessa de Almeida Ferreira, Sonia Acioli, and Tayane Fraga Tinoco. "Cuidado do enfermeiro na Estratégia Saúde da Família: práticas e fundamentações teóricas." Revista Brasileira de Enfermagem 71 (2018): 2767-2774.
Fonte(s) de financiamento: Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) - órgão financiador da pesquisa mãe
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