Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC4.18 - Atenção Primária à Saúde (3)

52125 - O AGENTE COMUNTÁRIO DE SAÚDE NA GESTÃO DO CUIDADO: ÊNFASE NO TERRITÓRIO OU NO CONTROLE BIOMÉDICO DOS CORPOS?
STELLA MARIS NICOLAU - UNIFESP, NATALIA CRISTINA BRITO MELLO - UNIFESP


Apresentação/Introdução
O Sistema Único de Saúde (SUS) é fruto do movimento da Reforma Sanitária brasileira que propôs um modelo de atenção à saúde universal e integral, e que busca responder às necessidades de saúde da população inserida em diversos contextos e territórios. Dentre as inúmeras iniciativas que surgiram na atenção básica com a reorganização do sistema e os esforços para construção de um novo modelo assistencial, nasce o Programa de Agentes Comunitários de Saúde, o PACS (BRASIL; 2001). Nesse modelo destaca-se a incorporação dos agentes comunitários de saúde (ACS) às equipes de atenção primária. Moradores da comunidade, tiveram papel importante na reorganização da atenção primária. Desempenham um papel híbrido ao transitar entre o território e o equipamento de saúde, com função de cadastrar, acompanhar as famílias e identificar situações de saúde da população atendida, acaba por adotar o conhecimento do discurso biomédico de seus colegas ao mesmo tempo em que é uma voz da comunidade por experimentar a realidade dos territórios e por fazer parte dele, exercendo papel de agente social (CORRÊA, PFEIFFER, LORA, 2010).O processo de trabalho das ACS é complexo, perpassa os campos técnico, político e social, pois esse personagem constrói sua identidade profissional a partir das experiências vividas no território em que atua. (PICCININI; SILVA, 2015).

Objetivos
O Objetivo da pesquisa é descrever e analisar o discurso de profissionais de saúde e gestores da atenção primária à saúde a respeito das percepções da atuação prática do agente comunitário de Saúde. A pesquisa é parte de uma dissertação de mestrado profissional em curso, que teve início em 2022, buscou ouvir profissionais da atenção primária à saúde do Município de Santos.

Metodologia
Trata-se de abordagem qualitativa de natureza descritiva e exploratória, por meio de entrevistas com 13 profissionais (médicos, enfermeiros , técnicos de enfermagem, dentistas, auxiliar de saúde bucal (ASB), chefe de seção, chefe administrativo ), com roteiro semi-estruturado, gravadas e com posterior transcrição e análise das mesmas, sendo empregada análise temática de conteúdo como metodologia. Foram entrevistados profissionais de saúde de duas unidades de saúde da rede de atenção primária à saúde do Município de Santos e gestores locais, sendo uma unidade modelo tradicional e uma unidades básicas com equipes de saúde da família. Com relação a seleção dos participantes, a pesquisa utilizou como critério um participante de cada categoria profissional, em cada uma das unidades selecionadas e os gestores locais, desde que tenham pelo menos 12 meses de atuação na atenção básica e tiveram relação de trabalho com agentes comunitários de saúde nesse período.

Resultados e Discussão
Da análise temática emergiram nove temas relativos às dimensões do trabalho da ACS. Como resultado, podemos observar que os processos de trabalho da ACS estão submetidos à lógica do monitoramento dos indicadores de resultados e produtividade. Vale dizer também que as ACS têm assumido outras funções, algumas ligadas a atividades administrativas, e acabam permanecendo tempo maior no espaço físico das unidades em detrimento do tempo de atuação no território (MOROSINI; FONSECA 2018). Ao deslocar as ACS do território para a unidade, colocando-as à disposição das equipes de saúde, das equipes de apoio administrativo e da gestão, as unidades de saúde deixam de apostar na produção de conhecimento advinda da observação do cotidiano de vida das comunidades.

Conclusões/Considerações finais
Os discursos reconhecem a importância das ACS como essenciais para a transformação das práticas e do modelo de atenção à saúde. Mas as equipes esperam que elas estejam à disposição para responder às necessidades de informação e comunicação com a população, reforçando o modelo biomédico de vigilância. A visita domiciliar é vista como a atividade central do trabalho, que tem sido substituída pelo contato via mídias sociais (WhatsApp) por estarem envolvidas em outras atividades na unidade. A relação entre as equipes e as agentes é paradoxal, ora protagonistas, ora subalternas. Há quem compreende o trabalho pela ótica do cuidado integral, estratégico, com olhar ampliado para os determinantes sociais da saúde. Outros entendem o papel do ACS como alguém que vai monitorar, levar e trazer informações para apoiar no trabalho de vigilância à população. Há consenso entre os entrevistados: o trabalho das ACS tem se deslocado do território para a unidade de saúde.


Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Agentes Comunitários de Saúde. Brasília. Jan. 2001. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pacs01.pdf

CORRÊA, C.; PFEIFFER, C. C.; LORA, A. P. O agente comunitário de saúde – uma história analisada. Rev. do laboratório de estudos urbanos do núcleo de desenvolvimento da criatividade, v.1, n.16, p. 1-19. 2010. Disponível em: https://www.labeurb.unicamp.br/rua/anteriores/pages/home/lerArtigo.rua?id=90&pagina=12.

MOROSINI, M. V.; FONSECA, A. F. Os agentes comunitários na atenção primária à saúde no Brasil: Inventário de Conquistas e Desafios. Rev. Ensaio Saúde debate, p. 42, set. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0103-11042018S117.

PICCININI C.A; SILVA R.A.N. A ação dos agentes comunitários de saúde e o trabalho vivo em ato.Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 13 n. 2, p. 361-379, maio/ago. 2015 disponível em: https://www.scielo.br/j/tes/a/cjhY9N8P3qzrM4PxvbJKVzx/?lang=pt

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