51523 - MARCADORES DO CONSUMO ALIMENTAR DO SISVAN: ESTRATÉGIAS PARA AMPLIAR O USO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE JOANNA MANZANO STRABELI RICCI - FSP/USP, AGATHA COSMO DE MOURA BALBINO - FSP/USP, PEDRO HENRIQUE BENICIO OLIVEIRA - FSP/USP, PRISCILA DE MORAIS SATO - UFBA, BÁRBARA HATZLHOFFER LOURENÇO - FSP/USP
Apresentação/Introdução A má nutrição está associada à mortalidade e à perda de anos de vida por incapacidade globalmente1. No Brasil, entre 2002 e 2019, a obesidade mais que dobrou entre homens e mulheres, acompanhada pelo aumento de diabetes mellitus e hipertensão2. Abordagens abrangentes no sistema de saúde são essenciais para enfrentar esses desafios. No SUS, ações de vigilância alimentar e nutricional (VAN) na Atenção Primária à Saúde (APS) incluem a avaliação de marcadores do consumo alimentar, que refletem diretrizes do Guia Alimentar para a População Brasileira e mensuram a qualidade da alimentação3, relacionada ao excesso de peso e doenças crônicas.
Os registros de consumo alimentar são inseridos no e-SUS APS e consolidados no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), permitindo a consulta e análise dos dados para planejamento nutricional e promoção da alimentação saudável. Contudo, em 2019, a cobertura populacional média desses registros no Brasil foi de apenas 0,92%4, evidenciando sua subutilização. Investigações anteriores não focaram nos marcadores do consumo alimentar, limitando-se a questionários e entrevistas individuais, sem explorar a interação entre profissionais da APS, que são cruciais para a execução da VAN.
Objetivos Utilizando uma abordagem metodológica que promove discussões aprofundadas sob múltiplas perspectivas, este estudo procurou compreender os facilitadores, barreiras e estratégias percebidos por profissionais da atenção primária à saúde no uso dos marcadores de consumo alimentar nas ações de vigilância alimentar e nutricional no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS).
Metodologia Profissionais de assistência e gestão de todas as regiões do Brasil foram selecionados para o estudo através da técnica de amostragem bola de neve. Entre julho e outubro de 2021 foi divulgado um questionário eletrônico para profissionais da APS, abordando características dos participantes, uso dos marcadores do consumo alimentar e percepções sobre barreiras e facilitadores. As respostas foram analisadas em quatro etapas: pré-análise, sinalização de respostas semelhantes, reagrupamento em subcategorias e leitura final para ajustes. Essa análise fundamentou um roteiro para grupos focais. Utilizando critério de saturação, foram realizados dez grupos focais virtualmente entre julho e outubro de 2022, com uma moderadora e um observador presentes. As sessões foram gravadas e transcritas, passando por análise de conteúdo temático: leitura imersiva para identificar temas emergentes; consenso entre autores sobre os temas; elaboração e aplicação do livro de códigos com concordância satisfatória; e interpretação dos sentidos em cada código. A análise, realizada no MAXQDA Plus, identificou discrepâncias entre gestores e profissionais de assistência através da quantificação dos códigos.
Resultados e Discussão No questionário (n=235) e nos grupos focais (n=34), profissionais nutricionistas e enfermeiras do sexo feminino, entre 30 e 39 anos, com pós-graduação, predominaram, especialmente do Sudeste. No questionário, destacaram-se a estrutura e a aplicabilidade dos marcadores, mas apontaram barreiras como inadequação das questões e instabilidade nos sistemas. Os grupos focais, com duração entre 43 e 90 minutos e dois a oito participantes, refletiram essas questões com mais profundidade.
Profissionais de assistência e gestores enfatizaram a importância da infraestrutura para o uso eficaz dos marcadores. A falta de equipamentos e instabilidade na conexão foram as principais barreiras. Os marcadores, tanto impressos quanto eletrônicos, foram considerados práticos pela maioria, mas com algumas limitações. A compreensão da possibilidade de aplicação por qualquer profissional foi destacada como facilitadora pelos gestores, embora a falta de sensibilização sobre a importância dos marcadores tenha sido mencionada como uma barreira. A acessibilidade das plataformas foi apontada como facilidade, apesar da lentidão e instabilidade. A condicionalidade com políticas públicas foi considerada facilitadora, especialmente quando vinculada a incentivos financeiros.
As estratégias para incentivar o uso dos marcadores incluíram a ampliação da divulgação dos dados, com disseminação por boletins e relatórios por estagiários. Foi sugerida a apresentação dos marcadores nos cursos de ensino superior. Quanto à educação permanente, destacaram a importância de lidar com questões nutricionais. Treinamentos para digitadores foram considerados essenciais para garantir a confiabilidade dos dados. Profissionais da gestão enfatizaram a necessidade de uma abordagem cuidadosa e acolhedora ao utilizar os marcadores.
Conclusões/Considerações finais A crescente preocupação com a morbimortalidade relacionada à alimentação no Brasil17 destaca a necessidade do monitoramento dos hábitos alimentares. Dados do Sisvan têm potencial para apoiar o planejamento de programas e a organização da atenção nutricional em contextos locais5, mas a baixa cobertura populacional dos marcadores4 compromete seu alcance. Facilitadores e barreiras observados revelaram uma interdependência: quando há condições favoráveis, a utilização dos marcadores é fluida, enquanto recursos limitados dificultam o uso. A qualificação interprofissional é fundamental, e a devolutiva dos dados gerados é estratégia interessante para sensibilização. Em suma, é crucial investir em infraestrutura, qualificação profissional e colaboração entre equipes para fortalecer o ciclo de gestão e produção do cuidado na APS. A adoção de estratégias pode motivar equipes da APS, destacando a importância de compartilhar experiências para fortalecer o monitoramento do consumo alimentar no SUS.
Referências 1. Swinburn BA, et al. The Global Syndemic of Obesity, Undernutrition, and Climate Change: The Lancet Commission report. Lancet. 2019;393(10173):791-846.
2. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Vigitel Brasil 2019: Vigilância de Fatores de Risco e Proteção Para Doenças Crônicas Por Inquérito Telefônico. Brasília (DF): MS; 2020..
3. Lourenço BH, Guedes BM, Santos TSS. Marcadores do consumo alimentar do Sisvan: estrutura e invariância de mensuração no Brasil. Rev Saude Publica. 2023;57(1):52.
4. Ricci JMS, Romito ALZ, Silva SA, Carioca AAF, Lourenço BH. Marcadores do consumo alimentar do Sisvan: tendência temporal da cobertura e integração com o e-SUS APS, 2015-2019. Cien Saude Colet. 2023;28(3):921-934.
5. Campos DS, Fonseca PC. Food and nutrition surveillance in 20 years of the Brazilian National Food and Nutrition Policy. Cad Saude Publica. 2021;37:1-4.
Fonte(s) de financiamento: Este trabalho recebeu financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, processo nº 442963/2019-0), realizado a partir da Chamada MS/CNPq nº 26/2019, firmado entre Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit/SCTIE/MS) e Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição (CGAN/DEPROS/SAPS/MS), e CNPq.
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