Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC4.18 - Atenção Primária à Saúde (3)

51364 - PERSPECTIVA DOS USUÁRIOS DA ARTICULAÇÃO ENTRE A ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E A ATENÇÃO ESPECIALIZADA
ANA PAULA CHANCHARULO DE MORAIS PEREIRA - UNEB, AYLENE BOUSQUAT - USP/FSP, ILANA ESHRIQUI - HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN, PAULO HENRIQUE MOTA - USP/FSP, ANA LÍGIA PASSOS MEIRA - FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA SANTA CASA DE SÃO PAULO, MARCO AKERMAN - USP/FSP, OSWALDO YOSHIMI TANAKA - USP/FSP, NICANOR RODRIGUES DA SILVA PINTO - USP/FSP, SANDRA MARIA SPEDO - USP/FSP, MARIA CRISTINA PRADO LOUVISON - USP/FSP


Apresentação/Introdução
O avanço incipiente da regionalização no país reflete um processo complexo, que repercute na fragmentação do cuidado ofertado à população e cria constantes desafios aos gestores e trabalhadores da saúde (VIANA; LIMA, 2011). Para uma RAS cumprir seu propósito uma condição sine qua nom é o fortalecimento da Atenção Primária à Saúde (APS), através tanto do aprimoramento da qualidade e completude do cuidado ofertado, quanto na garantia de sua articulação com a Atenção Especializada (AE). (EVANGELISTA et al., 2019). Na tentativa de mudar tal cenário, experiências que fomentam a integração da APS e AE têm sido implementadas (FARIAS, et al, 2020). No Brasil, uma delas foi protagonizada pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) que elaborou uma estratégia que tinha como objetivos: fortalecer o papel das Secretarias Estaduais de Saúde (SES) como coordenadora do sistema de saúde estadual e de conformar o sistema em redes ordenadas pela APS, que foi denominado de “Planificação da Atenção Primária à Saúde” (PAS).

Objetivos
Avaliar a articulação entre a APS e a AE, da perspectiva de usuários residentes em regiões de saúde que implementaram a PAS.

Metodologia
Para a consecução da coordenação entre níveis de atenção, elegem-se três pilares, da informação, da clínica e da administrativa/organizacional; i) clínica: posição ocupada pela APS no sistema, capacidade de resolução da APS; ii) administrativa/organizacional: estrutura administrativa e organizacional, organização dos fluxos para AE, integração entre equipes e serviços; iii) continuidade informacional: instrumentos para continuidade informacional. Trata-se de um estudo de caso múltiplo, que teve como cenário, quatro das 24 regiões alcançadas pelo “PlanificaSUS”. As linhas de cuidado eleitas pelas regiões do estudo foram: materno-infantil e hipertensão e diabetes. O caminho/percepção dos usuários dentro do sistema foi captado pela realização do Itinerário Terapêutico (IT), que ainda é uma metodologia pouco explorada nos estudos científicos nacionais, apesar da sua grande potencialidade para a análise das redes de serviços de saúde (Cabral et al, 2011; Bousquat, et al, 2017). Foram realizados IT com gestantes e usuários com HAS e/ou DM encaminhados para a AE. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FSP-USP (CAAE18875719.0.0000.54).

Resultados e Discussão
Foram realizadas 11 entrevistas com usuários das regiões de saúde de Pernambuco e Bahia. Diversos usuários relataram história de complicações significativas da HAS e/ou DM, tais como Acidente Vascular Encefálico (AVE), Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e cegueira por retinopatia. No caso do PNAR, foram entrevistadas 10 mulheres em regiões de Santa Catarina e Mato Grosso. Dimensão clínica: encontram-se situações distintas, desde aqueles que tinham a UBS como ponto regular de cuidado, quanto outros que só passaram a frequentar a UBS após um evento agudo e grave. Observou-se que na maioria das vezes o vínculo com a ACS é presente e considerado positivo, especialmente pelos usuários com DCNT. Queixas constantes em relação ao acesso oportuno aos medicamentos e insumos utilizados para monitoramento dos níveis pressóricos e glicêmicos, como aparelhos de aferição da PA, glicosímetro e fitas foram aspectos descritos. Dimensão administrativa/organizacional: o acesso oportuno ao serviço de AE via encaminhamento da APS não foi uma regra nas falas das gestantes. O acesso a AE é comprometido pela existência de barreiras organizacionais, com destaque para exames complementares e consulta de seguimento; distância e deslocamento necessários para que a gestante chegue ao serviço de referência foi outra barreira referida. O uso de serviços privados de saúde aparece em diversas entrevistas, na qual se constata desembolso direto para medicamentos, consultas e exames. Dimensão continuidade informacional: na maioria das entrevistas não se identificaram mecanismos formais de comunicação entre as equipes. Alguns usuários indicam a presença de contato informal entre as equipes.

Conclusões/Considerações finais
O PlanificaSUS é percebido como estratégia que agrega valor a organização e ao funcionamento da APS e AE, contudo, fragilidades relacionadas ao papel da APS no sistema de saúde locorregional, qualificação profissional, SADT, transporte sanitário e mecanismos de comunicação entre a APS e AE comprometem sua implementação. Como limitações do estudo destacam-se o viés de seleção (os entrevistados foram sugeridos pelas equipes da APS) e o baixo conhecimento dos entrevistados sobre sua condição de saúde e conduta terapêutica, em especial os usuários portadores de HAS/DM.

Referências
VIANA, A.L.D.; LIMA, L.D. (Organizadoras). Regionalização e relações federativas na política de saúde do Brasil. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2011.
EVANGELISTA, M. J. DE O. et al. O Planejamento e a construção das Redes de Atenção à Saúde no DF, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva. v. 24, n. 6, p. 2115–2124, jun. 2019.
FARIAS, C.M.L et al. Tempo de espera e absenteísmo na atenção especializada: um desafio para os sistemas universais de saúde. Saúde em Debate [online]. v. 43, n. spe5, 2020
CABRAL ALLV, et al. Itinerários terapêuticos: o estado da arte da produção científica no Brasil. Ciênc saúde coletiva [Internet]. 2011Nov;16(11):4433–42.
BOUSQUAT, A., et al (2017). Atenção primária à saúde e coordenação do cuidado nas regiões de saúde: perspectiva de gestores e usuários. Ciência & Saúde Coletiva, 22(4), 1141–1154.

Fonte(s) de financiamento: Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS) do Hospital Albert Einstein.


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