48936 - GESTÃO DE MATRICIAMENTO COMO ESTRATÉGIA DO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL EM UNIDADES DE ATENÇÃO BÁSICA NO CEARÁ. ANA MARIA SAMPAIO COELHO ADEODATO - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ-UECE, MARIA ELIANE ANDRADE DA COSTA - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ-UECE, KELVYANE FONSECA CORDEIRO - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ-UECE, TIAGO ARAÚJO MONTEIRO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ-UFC, SILVANA MARIA ARAÚJO COELHO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ-UFC, SAMILLE MARQUES BULCÃO ROCHA - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ-UECE, NIOBE GUIMARÃES FERNANDES - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, CEARÁ- FIOCRUZ, ESTERLÂNIA MOREIRA ALMEIDA - UNIVERSIDADE DE FORTALEZA- UNIFOR, RAMYLA SIQUEIRA GOMES - FACULDADE TERRA NORDESTE- FATENE, MARIA SALETE BESSA JORGE - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ-UECE
Contextualização
O matriciamento trata-se de uma prática colaborativa e interdisciplinar que busca realizar um cuidado longitudinal, interdisciplinar de maneira coordenada e ao mesmo tempo centrada nos pacientes acometidos psiquicamente, buscando entender o indivíduo em sua dimensão biopsicossocial, colaborando com sua inserção no ambiente comunitário. Diante disso, o cuidado em saúde mental se fortalece através do apoio especializado às equipes da Atenção Primária à Saúde (APS), como as da Estratégia de Saúde da Família (ESF). Essa parceria visa fortalecer o vínculo entre profissionais e pacientes, assegurando um cuidado ampliado. A implementação do matriciamento como estratégia de cuidado em saúde mental é essencial para garantir um tratamento abrangente e eficaz, pois sugere uma abordagem centrada na melhoria da assistência prestada a esse perfil de pacientes. Diante disso, o presente relato traz vivências no contexto do matriciamento em unidades de atenção básica no Ceará, buscando descrever essa prática experienciada, identificando fragilidades e potencialidades, contribuindo para melhoria dessa estratégia.
Descrição da Experiência
Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência realizado entre os profissionais de equipe dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e equipes de saúde da família matriciadas da capital e interior do Ceará. Foram realizadas reuniões anuais entre os profissionais médicos psiquiatras e da estratégia de saúde da família, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, agentes comunitários de saúde, dentre outros. Devido a nota técnica nº 3/2020, que revoga as normas que definem os parâmetros e custeio do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica, NASF (AB), essa equipe não fez parte do processo de apoio matricial. Nos encontros eram discutidos casos clínicos e eram eleitos os de maior necessidade para futuras intervenções terapêuticas. Após a identificação era solicitado a elaboração do Projeto Terapêutico Singular (PTS) para acompanhamento de casos. Além da discussão, há troca de experiências, condutas clínicas, estabelecimento de protocolos e fluxos.
Objetivo e período de Realização
Relatar a experiência de articulações realizadas por equipes de atenção psicossocial no contexto da atenção primária através da ferramenta do matriciamento, no período de 2019 a 2022, em unidades do interior e capital do Ceará, descrevendo as características das práticas de apoio matricial identificadas nas rodas de equipe, relacionadas a casos clínicos, elaboração de PTS, discussão de protocolos e rotinas.
Resultados
É esperado que durante o matriciamento haja uma atmosfera de partilha de conhecimento, sendo uma ferramenta útil para discutir casos difíceis, trocar experiências e encontrar soluções. Porém, há desafios para assegurar uma comunicação e integração eficientes. Nas experiências vivenciadas na cidade do interior do Ceará, notou-se a participação dos membros da equipe em reuniões, porém ao serem questionados sobre os casos desafiadores e pacientes matriciados, percebeu-se uma lacuna na coordenação do cuidado. Muitos dos profissionais não estavam preparados para o momento, não havia um planejamento. Entretanto, nas reuniões realizadas na capital foi possível identificar uma melhor adesão quanto ao acompanhamento de casos clínicos, assim como elaboração de PTS. Já em ambos os locais ficavam alinhados pontos referentes a fluxos, dúvidas em geral e prescrições de receitas, como também a oportunidade de inclusão de pacientes matriciados em grupos existentes no território, como de Práticas Integrativas e Complementares (PICS). Observou-se também a possibilidade da comunicação virtual para esclarecimento quanto às intervenções clínicas e terapêuticas.
Aprendizado e Análise Crítica
O matriciamento é uma prática de coordenação do cuidado em saúde mental que está em sintonia com os princípios da Reforma Psiquiátrica, promovendo uma prática interdisciplinar, sendo implementada localmente. Na experiência relatada foi possível perceber que para a prática do matriciamento ser satisfatória, faz-se necessário haver maior envolvimento entre as equipes e apropriação do porquê dessa estratégia do cuidado. Além disso, deve-se priorizar casos clínicos de maior necessidade de intervenção, assim como a construção de um PTS promovendo a saúde integral do indivíduo. Sugere-se o envolvimento da nova equipe NASF (E-multi), nessas reuniões, fortalecendo o cuidado. Outros desafios identificados dizem respeito à falta de clareza nos papéis e responsabilidades, resistência a mudanças e desinteresse, podendo impactar negativamente na qualidade da assistência prestada. Portanto, o matriciamento é crucial na saúde, especialmente na saúde mental, permitindo unir diferentes especialidades em equipe para proporcionar cuidados abrangentes e coordenados aos pacientes. Ele favorece a colaboração, otimizando o tratamento e garantindo uma abordagem mais completa e eficaz para as necessidades de saúde individuais de maneira interdisciplinar.
Referências
AMARANTE, Paulo Duarte de Carvalho et al. A constituição de novas práticas no campo da
Atenção Psicossocial: análise de dois projetos pioneiros na Reforma Psiquiátrica no Brasil.
Saúde em debate, v. 25, n. 58, p. 26-34, 2001.
BRASIL. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 9 abr. 2001. Seção 1, p. 3.
CAMPOS, G. W. S. Reflexões sobre Matriciamento e a Construção de Redes na Atenção Primária à Saúde. In: Pinheiro, R.Mattos, R. A. (Orgs.). Os Sentidos da Integralidade na Atenção e no Cuidado à Saúde. Rio de Janeiro: IMS/UERJ, 2001. p. 121-137.
CHIAVERINI, D. H. (Organizadora) et al. Guia prático de matriciamento em saúde mental. Brasília, DF: Ministério da Saúde: Centro de Estudo e Pesquisa em Saúde Coletiva, 2011. 236 p.; 13x18 cm.
Fonte(s) de financiamento: Financiamento próprio
|