Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC4.18 - Atenção Primária à Saúde (3)

48735 - PERCEPÇÕES DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE SOBRE AS BARREIRAS DE ACESSO À ATENÇÃO PRIMÁRIA
PAULA DE CASTRO NUNES - CEE/FIOCRUZ, PALOMA PALMIERI - CEE/FIOCRUZ, OMARA MACHADO ARAUJO DE OLIVEIRA - CEE/FIOCRUZ, PATRÍCIA PASSOS SIMÕES - CEE/FIOCRUZ, PAULO VICTOR RODRIGUES DE CARVALHO - CEE/FIOCRUZ, ALESSANDRO JATOBÁ - CEE/FIOCRUZ


Introdução e Contextualização
Sob a perspectiva da Política Nacional de Atenção Básica, o ACS assume um papel essencial para a concretização do elo entre o serviço de saúde e a população, tendo como requisito ser morador da própria localidade, aspecto fundamental para a construção de vínculo com os moradores, que se sentem, dessa forma, mais à vontade em receber as visitas e os serviços. Este profissional possui a prerrogativa de desenvolver um perfil bastante diversificado, desde a conscientização e mobilização da comunidade, até a realização de atividades relacionadas ao cuidado. Sendo assim, o acesso aos serviços de saúde tem sido objeto de análise na literatura, demarcando a existência de barreiras aos usuários como filas para marcação de consulta e atendimento, bem como estratégias para sua superação. Visando a facilitação do acesso dos usuários aos serviços de saúde, os ACSs possuem atribuições referentes ao acesso aberto em relação à organização da marcação de consultas mais ágeis, buscando intervir na redução dos agendamentos em longo prazo e diminuindo o tempo de espera para consultas e procedimentos. Este sistema procura equilibrar a oferta em relação à demanda, adequando às práticas desenvolvidas na APS, além de planos de contingência para circunstâncias adversas que são apresentadas no cotidiano dos serviços de saúde, contribuindo para a resiliência dos sistemas de saúde.

Objetivo para confecção do produto
Identificar as percepções dos ACS sobre os principais aspectos que afetam a concretização de suas atribuições referentes à facilitação do acesso dos usuários aos serviços de saúde disponíveis.

Metodologia e processo de produção
Trata-se de um estudo de caso observacional de natureza quantitativa cujos procedimentos de coleta tiveram como fontes de informação um survey telefônico com ACSs do Município do Rio de Janeiro (RJ). As entrevistas foram assistidas por computador. Os entrevistadores foram submetidos a um treinamento conduzido pela equipe de pesquisa. Sendo assim, 759 entrevistas foram completadas, totalizando a amostra do estudo. Inicialmente, procedeu-se com as análises descritivas visuais, por meio da construção de gráficos a partir da biblioteca (Likert) via software estatístico R Studio, versão 2023.06.0. Após a realização destas análises introdutórias, foi criada uma variável resposta global da percepção dos ACSs, com base na proporção de contagens de respostas em cada uma das categorias no total de perguntas e, após a criação da variável, esta foi categorizada em três classes de escala Likert para que ficasse na mesma escala das demais variáveis do questionário. Dessa forma, resultaram as categorias: “Não Interfere” (com proporção de 0 a 15%), “Interfere Pouco” (com proporção de 15 a 35%) e “Interfere” (com proporção de 35 a 100%).

Resultados
Apenas as variáveis sexo, idade e tempo de trabalho contribuem para uma menor chance de o agente de saúde classificar como alta interferência no dia a dia do trabalho e no cadastro (OR<1). Dentre as questões que atrapalham o cadastro, o “não-encontro do morador que trabalha fora” e “muitas funções a realizar”, onde pode-se observar que ambas foram significativas no modelo, pelo teste T. Já na análise sobre o “grande número de atribuições a realizar”, as respostas “não-interfere” e “interfere pouco”, contribuíram com um aumento de 9,38 vezes a chance de estimação de uma alta interferência global no acesso aos serviços de saúde. Para as perguntas relacionadas às reclamações dos moradores, todas tiveram significância estatística para explicar a interferência no acesso aos serviços do ACS, já que a resposta do agente sobre a diferença entre os serviços anunciado pela prefeitura e o oferecido pela unidade interfere no seu trabalho teve significância estatística, o que aumenta proporcionalmente 2,26 vezes a chance de que haja interferência no acesso dos moradores à unidade de saúde. A exposição à violência no território, também foi significativa no modelo e, mesmo o ACS tendo informado que não interfere ou que interfere pouco, contribui para o incremento proporcional de mais de 4 vezes a chance de aumento da alta interferência na variável resposta final do modelo.

Análise crítica e impactos sociais do produto
A visita domiciliar é a principal atividade desenvolvida pelos ACS, que são realizadas nos domicílios para acompanhamento dos grupos prioritários, como doentes crônicos e para realizar o cadastramento familiar. Diante dos desafios do seu cotidiano laboral (como a violência nos territórios, atendimento a famílias em extrema vulnerabilidade social e infraestrutura precária) é gerada sobrecarga laboral para o cumprimento das suas atividades. Os resultados da pesquisa mostram que os ACS enfrentam dificuldades para realizar as visitas domiciliares, um dos principais instrumentos para conceber o acesso as populações dos territórios vulneráveis. Contudo, estes profissionais buscam formas diferenciadas de adaptações para realizar suas atividades, buscando superar as adversidades encontradas no território, o que causa impacto positivo no acesso aos serviços de saúde, principalmente, no que tange a atenção primária à saúde. O escopo de práticas dos ACS é complexo e abrangente, incluindo a articulação de outras políticas públicas no território, como as políticas de benefícios sociais, portanto, quando os ACS conseguem desempenhar suas atividades, principalmente as visitas domiciliares, constituem uma potencialidade para expansão do acesso aos serviços de saúde para os moradores das comunidades com vulnerabilidade social, assim como para o acompanhamento adequado dos doentes crônicos.

Referências
Bellas HC, Bulhões B, Arcuri R, Vidal MCR, de Carvalho PVR, Jatobá A. Community health workers’ non-technical skills for delivering primary healthcare in low-income areas. Work. 19 de maio de 2022;
Jatobá A, Bellas HC, Bulhões B, Koster I, Arcuri R, de Carvalho PVR. Assessing community health workers’ conditions for delivering care to patients in low-income communities. Applied Ergonomics. 1o de janeiro de 2020;82:102944.
Jatobá A, Bellas HC, Koster I, Arcuri R, Vidal MCR, de Carvalho PVR. Patient visits in poorly developed territories: a case study with community health workers. Cognition, Technology & Work. 2018;20(1):125–52.


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