Roda de Conversa

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC4.17 - Atenção Primária à Saúde (2)

51386 - CUIDADOS PALIATIVOS NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA: DESAFIOS E POTENCIALIDADES
CINDY NOGUEIRA MOURA - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE), LEVI NOGUEIRA MOURA - AFYA/FCM-PB


Contextualização
Os cuidados paliativos (CP), segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), caracterizam-se como uma abordagem de melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares em face de uma patologia ameaçadora à vida, através da identificação precoce, culminando com a prevenção e alívio do sofrimento, além da avaliação precisa, tratamento do quadro álgico e de outras problemáticas físicas, psicossociais ou espirituais.
Visto o progressivo envelhecimento da população mundial, a demanda por CP aumenta progressivamente. No Brasil, as modificações do novo perfil epidemiológico ocorreram de forma radical e acelerada, consequentemente, aumentando a probabilidade de enfermidades crônicas que se manifestam, geralmente, com o avançar da idade (SILVA et al, 2015).
Sendo assim, torna-se categórica a necessidade de estruturar os serviços e programas de saúde, nos diversos pontos das redes de atenção à saúde (RAS), com intuito de englobar o CP. Nesse sentido, a Atenção Primária em Saúde (APS) configura-se como o melhor nível de assistência à saúde para prestação de serviços de cuidados paliativos, além de que permite que o indivíduo permaneça em casa, de forma a evitar seu afastamento da família nos momentos finais de vida.

Descrição da Experiência
O primeiro contato com o caso se deu através da procura da filha, e principal cuidadora, à unidade de saúde para consulta médica. Durante a avaliação, trouxe consigo o relato do adoecimento de seu pai há seis meses, devido a um quadro de neoplasia maligna metastática de pulmão.
Afirma que o familiar apresenta um quadro de preocupação excessiva, labilidade emocional, insônia e medo da morte. Questionada se o paciente sabe sobre o atual quadro de saúde, ela afirma que o paciente desconhece sua atual alocação aos cuidados paliativos.
No dia seguinte, realizou-se a visita domiciliar do paciente em questão. Ele encontrava-se em fase avançada da doença, necessitando de oxigênio domiciliar sob cateter nasal. Na primeira avaliação clínica o paciente queixava-se de dispneia aos mínimos esforços, além de dorsalgia ocasionada pela persistência de posição em decúbito. Relatava os mesmos sintomas psiquiátricos outrora relatados pela filha, além de questionar frequentemente o motivo da piora progressiva de seus sintomas.
Visto o quadro compatível com transtorno de ansiedade generalizada, iniciamos o tratamento, junto de acompanhamento multidisciplinar. Ademais, alterei as medicações usadas, visando melhoria do quadro respiratório, analgesia e conforto. Orientamos sobre a importância da rede de apoio familiar, a integração com a UBS e a espiritualidade, para melhoria da qualidade de vida.

Objetivo e período de Realização
Objetiva-se relatar a experiência de uma médica da Estratégia de Saúde da Família na assistência a um paciente em cuidados paliativos no âmbito domiciliar, no município de Quixeramobim/CE.

Resultados
A APS tem o potencial de desenvolver um conjunto de intervenções que favorecem a qualidade de vida e continuidade dos CPs dentro e fora do domicílio, minimizando intercorrências clínicas e diminuindo riscos de infecções hospitalares em virtude de longos períodos de internação em ambiente hospitalar.
Apesar da importância da temática, observa-se uma fragilidade na abordagem sobre os CPs na formação acadêmica em saúde, dado o desafio da análise de aspectos relacionados à morte.
A decisão de privação de informações ao paciente, por solicitação dos familiares, pode coincidir com a opção do profissional, reforçando suas próprias dificuldades com a temática. Assim, torna-se necessária a implementação de um programa de educação para o assunto, propiciando uma visão crítica e contemplativa da realidade (MURRAY, 2015).
Além disso, a explanação do diagnóstico ao paciente deve ser pautada em uma escuta e comunicação efetiva. Compreender os anseios, angústias e expectativas do paciente e seus familiares constitui um pilar essencial na assistência, na criação de vínculo e tomada de decisões compartilhadas (MARQUES; BULGARELLI, 2020).


Aprendizado e Análise Crítica
O cuidado domiciliar, bem como a APS como um todo, possui o potencial de proporcionar melhor qualidade de vida e a longitudinalidade dos CPs. Por meio de intervenções como as apresentadas neste presente relato, é possível reduzir intercorrências e oferecer o suporte necessário para estes pacientes e seus familiares.
Todavia, apesar da constante evolução dessa modalidade de cuidado, ainda é notável a fragilidade no que tange a abordagem dos CPs durante a grade acadêmica do profissional de saúde, sobretudo na abordagem da morte como prognóstico e à comunicação efetiva do diagnóstico ao paciente, baseada em uma escuta verdadeiramente humana.
Dessa maneira, o estímulo à implementação de programas de saúde voltados à abordagem dos CPs é imperativo e espera-se que este relato, bem como a amplitude de outros trabalhos acadêmicos que abordam essa temática, propulsione o processo acadêmico ao seu potencial absoluto.

Referências
BARROS, L. N. Atenção domiciliar da Regional de Saúde de Sobradinho/DF: Perfil Clínico Epidemiológico de pacientes, análise de sobrevivência e fatores associados com doenças infecciosas e óbito, no período de 2003 a 2010. Dissertação (Mestrado em Medicina Tropical) – Universidade de Brasília, Brasília, 2012.
MARQUES, F. P.; BULGARELLI, A. F. Os sentidos da atenção domiciliar no cuidado ao idoso na finitude: a perspectiva humana do profissional do SUS. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, n. 6, 2020.
MURRAY, S. A. et al. Promoting palliative care in the community: production of the primary palliative care toolkit by the European Association of Palliative Care Taskforce in primary palliative care. Palliat Med, v. 29, n. 2, 2015.
SILVA, J. V. F. et al. A relação entre o envelhecimento populacional e as doenças crônicas não transmissíveis: sério desafio de saúde pública. Ciências Biológicas e da Saúde, 2015.


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