Roda de Conversa

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC4.17 - Atenção Primária à Saúde (2)

49796 - CUIDADO EM SAÚDE NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA SOB A ÓPTICA DE USUÁRIOS DO CAMPO, FLORESTA E ÁGUAS DE TERRITÓRIOS CEARENSES
CARLOS ANDRÉ MOURA ARRUDA - UECE, KEILA FORMIGA CASTRO - SMS/CRATO, ERIVAN CAMELO DA SILVA - MAM, BRENO VERÍSSIMO DO NASCIMENTO - ASSAFAM, ROJANE ALVES DOS SANTOS - MMTR-NE, IAGO ALMEIDA DA PONTE - UECE, ANA CLÁUDIA DE ARAÚJO TEIXEIRA - FIOCRUZ-CE, ALISSAN KARINE LIMA MARTINS - URCA, FERNANDO FERREIRA CARNEIRO - FIOCRUZ-CE, VANIRA MATOS PESSOA - FIOCRUZ-CE


Apresentação/Introdução
A Estratégia Saúde da Família (ESF), por meio das equipes de saúde da família, permite que as pessoas tenham acesso ao primeiro contato com o cuidado em saúde e às políticas e programas prioritários voltados para a Atenção Primária à Saúde.
Desta forma, conhecer os territórios, os modos de vida e de produção, os contextos, desafios e potencialidades no que tange ao acesso e o cuidado à saúde das populações torna-se uma atividade prioritária para os Governos, Instituições de Ensino e Pesquisa e outras Organizações.
Destarte, como nos lembra Merhy (2002), o campo da saúde não tem ou não deveria ter como objeto único a cura ou a promoção e proteção da saúde, mas a produção do cuidado, isto é, o lugar de produção de atos, ações, procedimentos e cuidados com os quais pode se chegar à cura ou a um modo qualificado de se levar a vida.
Ao lado disso, Santos (2014) considera que uma prática de cuidado não pode se desenvolver isoladamente, mas somente de forma integrada ou simultânea a outras práticas.
Assim, consideramos que o cuidado em saúde pode reconstruir as práticas de saúde, agindo como uma categoria com “potencialidade reconciliadora entre as práticas assistenciais e a vida, ou seja, a possibilidade de um diálogo aberto e produtivo entre a tecnologia e a ciência e a construção livre e solidária de uma vida que se quer feliz” (Ayres, 2004).


Objetivos
Objetiva-se compreender as percepções de usuários acerca do cuidado em saúde na estratégia saúde da família em territórios cearenses do campo, floresta e águas.

Metodologia
Trata-se de uma pesquisa-ação com abordagem qualitativa realizada em quatro territórios do litoral, da Floresta Nacional do Araripe, e do campo/sertão de municípios no estado do Ceará.
A pesquisa-ação, é “[...] um tipo de pesquisa social [...] que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo [...]” (Thiollent, 2011, p. 20).
Foram desenvolvidas oficinas participativas e colaborativas que contaram com a participação de 54 usuários, residentes e atendidos por equipes de saúde da família em territórios do campo, da floresta e das águas.
As oficinas foram planejadas e desenvolvidas utilizando-se o referencial de Paulo Freire, contemplando e tendo como foco principal o envolvimento dos sujeitos, a participação, a colaboração mútua, o diálogo e a problematização que possibilitaram, por meio de rodas de conversas, produzir um conhecimento que fosse significativo para as pessoas.
Na busca de evidenciar os cuidados primários nos territórios rurais, todos os aspectos éticos relativos à pesquisa com seres humanos foram respeitados, conforme a Resolução nº 466/12 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).

Resultados e Discussão
O cuidado em saúde foi realizado pelos usuários em múltiplas dimensões. Destaca-se a importância para o consumo e produção de alimentos saudáveis que reflete na qualidade de vida com repercussões positivas para a saúde: “Consumo de alimentos saudáveis, melhoria da saúde e da qualidade de vida, boa resposta do corpo para esse tipo de alimento, diversidade na alimentação, cuidar do meio ambiente, cuidar da família e do próximo”.
Mais adiante, observa-se que o cuidado em saúde tem relação com o vínculo que se estabelece na Saúde da Família e a intersetorialidade: “Eu acho assim que o cuidar ele envolve na verdade vários setores, não só a questão da doença em si. Eu acho que engloba a questão de você olhar para o paciente, você criar um vínculo com ele” e “[...] no momento de a consulta a gente conseguir criar um laço com ele”.
Ter um olhar ampliado é, também, uma forma de cuidar: “[...] o trabalhador tem essa percepção, porque eles têm todo esse olhar ampliado de ter um cuidado centrado no usuário, nas famílias [...]”.
O engajamento e o envolvimento de uma profissional da equipe de saúde no tocante aos aspectos que envolvem a cultura e a relação dessa profissional com a comunidade, reforça, o cuidar em saúde: “[...] é mais engajada nessa parte da questão cultural, de valorizar o diferencial da nossa comunidade” e “valorizar saberes populares”.
É importante que se discuta o quanto o cuidado em saúde vai muito além de práticas tecnicistas, sejam estas de realização de procedimentos clínicos, diagnósticos e/ou terapêuticos. Pensar no cuidado, antes de tudo, é percebê-lo a partir do estabelecimento de uma relação intersubjetiva, de um vínculo entre as pessoas, sem o qual fica muito difícil produzir saúde.

Conclusões/Considerações finais
Tornando-se necessário repensar as exigências postas aos profissionais para o cumprimento de metas de atendimento individual em detrimento da oferta de grupos, que representam meios de escuta qualificada e melhor qualidade do cuidado.
Esse estudo possibilitou um resgate de hábitos alimentares e cultivo de um produto alimentício que contribui para o cuidado. Assim, os cuidados com alimentação vão desde a alimentação diversificada com preferência por alimentos de tradição familiar, sem agrotóxicos e sem transgênicos. A produção agroecológica para autossustentação consiste em uma prática de cuidado, uma ferramenta de sobrevivência das famílias no contexto em que vivem, fortalecendo suas tradições e costumes (Rückert et al., 2018).
No processo do cuidar é importante ampliar as relações dos sujeitos com outras formas de produzir saúde. Foi compartilhado, aqui, experiências de cuidados, articulando a arte e a ciência produzidas com as pessoas e não somente para elas.

Referências
AYRES, José Ricardo de Carvalho Mesquita. Cuidado e reconstrução das práticas de Saúde. Interface (Botucatu)., v.8, n.14, pp. 73-92, 2004.

RÜCKERT, B.; CUNHA, D. M.; MODENA, C. M. Saberes e práticas de cuidado em saúde da população do campo: revisão integrativa da literatura. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v. 22, n. 66, p. 903-914, 2018.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 18. ed. 7ª reimpressão. São Paulo: Cortez, 2011.

TRAVERSO-YÉPEZ, M.; MORAIS, N. A. de. Reivindicando a subjetividade dos usuários da rede básica de saúde: para uma humanização do atendimento. Cad. Saúde Pública, v. 20, n. 1, p. 80-88, 2004.

Fonte(s) de financiamento: Programa INOVA FIOCRUZ.


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