Roda de Conversa

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC4.17 - Atenção Primária à Saúde (2)

48781 - COORDENAÇÃO DO CUIDADO DE CRIANÇAS COM TEA NA ATENÇÃO BÁSICA: PESQUISA-AÇÃO SOBRE O PROTAGONISMO DOS ATORES ENVOLVIDOS EM BARÃO DE COCAIS/MG.
DAYANA HOMEZ RANGEL - UFOP, ELOISA HELENA DE LIMA - UFOP, CARLA RENATA DE OLIVEIRA - PMBC, TATIANA BARCIA TOLENTINO - PMBC


Apresentação/Introdução
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) acompanha o indivíduo por toda sua vida. Caracterizado por comprometimento na socialização (comunicação e linguagem), podendo apresentar interesses e atividades restritos ou repetitivos. Novos números estatísticos publicados em março de 2023, pelo Centro de Controle de Doenças e Prevenção, indicaram prevalência do TEA de 1 a cada 36 crianças em 2020. As pessoas com TEA precisam suporte multiprofissional durante grande parte das suas vidas, acionando todos os níveis de Atenção durante o percurso terapêutico. No Brasil a pesar da falta de estudos epidemiológicos é de entendimento coletivo o aumento do diagnóstico no pais e a necessidade de políticas públicas inclusivas e abrangentes para esta comunidade, incluindo os processos de cuidado da família como um todo (CDC, 2023; OPAS, 2023).
No município de Barão de Cocais/MG, após a realização de diagnóstico situacional por Estimativa Rápida Participativa (ERP), identificou-se a necessidade de intervenções que fomentem o protagonismo dos profissionais da Atenção Básica (AB) na coordenação do cuidado das crianças com (TEA). Desta forma, a pesquisa que aqui se propõe traz o desenho metodológico da pesquisa-ação em interface com a pesquisa qualitativa em saúde.


Objetivos
Geral: Estimular o protagonismo dos profissionais da AB na coordenação do cuidado das crianças com TEA através da Educação Permanente.
Específicos:
Identificar as percepções dos atores envolvidos na coordenação do cuidado de crianças com TEA.
Explorar os sentidos das famílias sobre o cuidado desde a AB.
Fortalecer o vínculo dos profissionais da AB com as famílias.
Incentivar a realização de ações de Educação Permanente abordagem das crianças com TEA junto aos profissionais da AB.


Metodologia
Utilizamos a abordagem da pesquisa qualitativa em saúde, descrita por Minayo (2008) em interfase com a pesquisa ação, descrita por Thiollent (1997) e seguiu as quatro fases descritas por ele: exploratória, principal, ação e avaliação. Para a coleta de dados usamos como instrumentos o grupo focal e a entrevista semiestruturada direcionado a médicos e enfermeiros das equipes de AB e familiares de crianças com TEA do município. A seleção dos sujeitos da pesquisa se deu através de inclusão progressiva e foi interrompida pelo critério de saturação. A pesquisa foi desenvolvida entre outubro de 2022 e março de 2024, na UBS Centro em Barão de Cocais/MG. A análise de dados foi feita através de análise conteúdo defendida por Bardin (2016). Os nomes dos participantes foram substituídos por pseudônimos, respeitando considerações éticas, ao mesmo tempo a pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética sob o parecer. No. 6.658.211.

Resultados e Discussão
Entrevistas identificaram dificuldade dos profissionais em conceitos medulares sobre o TEA o que favorece o diagnóstico tardio influenciado pela falta de conhecimentos, ausência de protocolos clínicos e matriciamento, levando a uma condução inadequada destes pacientes. Profissionais apontam suas condutas como falhas no acompanhamento longitudinal: não tem um acompanhamento assim programado pra esses pacientes. Inclusive a contrarreferência a gente não costuma receber, né? (PS2), resultados que coincidem com estudos nacionais. As famílias identificam os profissionais e a estrutura municipal como despreparados para suprir suas necessidades: Só que a gente não tem equipamento, não tem estrutura física pra atender uma pessoa com autismo dentro de UBS (MA4), o que gera procura de atendimento no setor privado e perda de vínculo com as equipes de saúde: Tinha vínculo às questões da vacina e pronto, eu não tinha esse acompanhamento, né?! (MA1), ao mesmo tempo que identificam desinteresse pelas equipes em compartilhar o cuidado: o posto nunca procurou, mesmo sabendo do diagnóstico e tudo, nunca foi atrás de saber (MA2). Segundo autores nacionais estas necessidades do usuário são imprescindíveis para realizar a coordenação do cuidado. Como possíveis soluções os participantes apontaram a necessidade de capacitações para profissionais de saúde, implementação de protocolos mais eficazes e fortalecimento da comunicação e apoio às famílias. Estas sugestões foram abordadas na pesquisa através de um plano de ação que incluiu identificação dos pacientes com TEA, mudanças nas agendas e sistemas de trabalho e o desenvolvimento de um Programa de Educação Permanente com participação ativa da população, assim como a confecção de um Guia Prático para os profissionais da AB.


Conclusões/Considerações finais
Existem desafios importantes no que se refere a profissionais, famílias e estrutura do sistema de saúde que atentam contra o protagonismo dos profissionais da AB na coordenação do cuidado das crianças com TEA na AB. As dificuldades em estabelecer relações efetivas de coordenação e cuidado reforça a necessidade de programas de Educação em Saúde e a implementação de políticas públicas abrangentes que contribuam com o papel de protagonismo e resolutividade que se espera da AB e que foge do alcance desta pesquisa. Ações desenvolvidas com poucos recursos financeiros voltadas para mudanças nos sistemas de trabalho das eSF com base na Educação e Promoção à Saúde não são soluções permanentes aos problemas identificados, mas contribuíram no destaque dos profissionais das eSF como coautores do cuidado e deram maior visibilidade ao paciente e sua família dentro do sistema. Ao mesmo tempo demostraram o potencial da pesquisa ação na construção coletiva de soluções.


Referências
BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016. ISBN: 9788562938.01-7.
CDC, Centers of Diseases Control and Preventions. Autism Among 4 year old and 8year old Children: An Easy-Read Summary. Disponível em: https://www.cdc.gov/ncbddd/autism/features/autism-among-4-year-old-8-year-old-children-an-easy-read-summary.html. Acesso em 10 de maio de 2023.
MINAYO, M. C de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 13. ed., São Paulo: Hucitec, 2008.
OPAS, Organização Pan-Americana da Saúde. Transtorno do espectro autista. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topicos/transtorno-do-espectro-autista#:~:text=O%20transtorno%20do%20espectro%20autista,e%20realizadas%20de%20forma%20repetitiva. Acesso em 12 de jun. 2023.
THIOLLENT, Michel. Pesquisa-Ação nas Organizações. São Paulo: Atlas, 1997.

Fonte(s) de financiamento: Sem financiamento institucional


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