54330 - ATUAÇÃO DO MÉDICO NO ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA DA COVID-19: DESAFIOS DO CONTEXTO DO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR MÓVEL CARLA CATHARINE CHAVES NASCIMENTO - FACULDADE ZARNS, AMANDA SALVADOR SOUZA - FACULDADE ZARNS, GUSTAVO MENEZES RIBEIRO - FACULDADE ZARNS, LUCCA RODRIGUES PASSOS - FACULDADE ZARNS, MARIANE TEIXEIRA DANTAS FARIAS - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Apresentação/Introdução A COVID-19, causada pelo vírus SARS-COV-2, teve seu primeiro caso confirmado em Wuhan, China, e rapidamente se espalhando pelo mundo, sendo declarada pandemia pela Organização Mundial de Saúde, em março de 20201. No Brasil, foram recomendados protocolos de higiene e distanciamento social. Nos serviços de saúde, adotaram-se as medidas de controle contra a exposição ao vírus, as quais incluíram controle de engenharia, controle administrativo e proteção individual2. O atendimento de urgência e emergência a pacientes com COVID-19 começou antes da chegada dos pacientes à unidade fixa, através da atuação do Serviço de Atendimento Pré-Hospitalar Móvel (APH) que realizava a transferência de casos graves. O APH móvel, operando em espaço físico limitado e não controlado, esteve mais exposto aos riscos de contaminação, especialmente durante procedimentos como intubação e aspiração das vias, que liberam aerossóis na atmosfera, tornando a transmissão da doença favorável.
Objetivos Considerando a complexidade do manejo clínico diante de uma crise sanitária com alta letalidade e a escassez de publicações relacionadas a temática, esta pesquisa teve como objetivo compreender os desafios enfrentados pelos médicos no enfrentamento da pandemia, no contexto do atendimento pré-hospitalar móvel, através do conhecimento das condições de trabalho, caracterização das atividades e identificação das estratégias utilizadas para lidar com as adversidades impostas pelo contexto de crise.
Metodologia Trata-se de uma pesquisa de campo, exploratória e descritiva com abordagem qualitativa, realizado em serviços de APH móvel na cidade de Salvador-BA, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFTC sob parecer nº 5.182.866/2021. Participaram desta pesquisa, 35 médicos que atuaram no APH móvel de Salvador-BA, na assistência direta ao paciente no contexto da pandemia do COVID-19. A coleta de dados foi realizada através do preenchimento do questionário online, durante o período de 09/02/2022 até 26/05/2022, cujo link de acesso foi enviado por e-mail e/ou Whatsapp particular desses profissionais, utilizando-se a estratégia “Bola de Neve”. A plataforma utilizada foi a Google Forms e o questionário teve o objetivo de coletar informações relacionadas ao perfil sociodemográfico e as condições de trabalho no contexto da pandemia da COVID-19. A interrupção da coleta de dados ocorreu mediante a saturação dos achados. Na etapa de análise e interpretação dos dados, o perfil sociodemográfico foi apresentado através de valores de proporcionalidade. Com relação aos aspectos relacionados ao ambiente de trabalho utilizou-se a Teoria de Bardin.3
Resultados e Discussão A análise da amostra revelou que entre os participantes, de maioria jovens brancos ou pardos (85,7%), não houve diferenças significativas quanto ao gênero. O tempo de formação variou de 7 meses a 39 anos, sendo que 51,4% não possuíam especialização. Entre os especializados, a área predominante foi clínica médica. Os aspectos das condições de trabalho foram categorizados em: (i) Condições contratuais e jurídicas; (ii) Ambiente sócio-gerencial; (iii) Condições físicas e materiais; (iv) Processos e características das atividades; (v) Aspectos sociais e de saúde. Quanto aos participantes, 85% afirmaram a existência de alterações organizacionais e estruturais no APH móvel, incluindo a aquisição de novas ambulâncias, Equipamentos de Proteção (EPI) e criação de novos protocolos de atendimento e paramentação. Contudo, 77% dos participantes apontaram problemas na disponibilização e qualidade dos EPIs, como desabastecimento, distribuição insuficiente e qualidade inferior ao preconizado em normas regulatórias. Referiram como estratégias de enfrentamento, a aquisição de EPIs com recursos próprios, reutilizar materiais, realizar higienização corporal entre os chamados e, por vezes, deixar de executar atendimentos por falta de proteção efetiva. A substituição por produtos de menor qualidade, a reutilização e o uso não recomendados pelos fabricantes foram registrados em diversos países devido à escassez. A reutilização de materiais foi associada a um maior risco de contaminação, especialmente durante a retirada e a colocação4. Quando questionados sobre o que poderia ser feito de diferente, sugeriram a aquisição de EPIs de melhor qualidade, melhor rastreamento de pacientes com Síndrome Respiratória Aguda, melhorias nas condições da base e locais de higienização das ambulâncias.
Conclusões/Considerações finais Importantes alterações no âmbito organizacional/estrutural foram implementadas pelo serviço de APH móvel de Salvador-BA no intuito de gerenciar os riscos ocupacionais e consequentemente, minimizar a exposição laboral no contexto da Pandemia do COVID-19. Entretanto, os desafios vivenciados como a escassez dos EPI's associada ao aumento da demanda de atendimentos levaram os profissionais a adotarem medidas individuais (recusa de atendimento e compra de EPI com recursos próprios) para tentar reduzir as chances de uma possível infecção. Além disso, foi possível compreender que houve sinais e sintomas de comprometimento tanto psíquico como nas relações interpessoais da grande maioria dos profissionais, predominando o cansaço físico e mental, o medo de contaminar os familiares e distúrbios do sono. Todavia, não dispuseram de qualquer programa de acompanhamento psicossocial até o período em que foi elaborada a pesquisa.
Referências 1. Pollard CA, Morran MP, Nestor-Kalinoski AL. The COVID-19 pandemic: a global health crisis. Physiol Genomics. 2020 Nov 1;52(11):549-557. Avaible from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32991251/
2. Secretária de vigilância em saúde. Recomendações de proteção aos trabalhadores dos serviços de saúde no atendimento de COVID-19 e outras síndromes gripais. Recomendações de proteção aos trabalhadores dos serviços de saúde no atendimento de COVID-19 e outras síndromes. Available from: https://www.saude.go.gov.br/files/banner_coronavirus/GuiaMS-Recomendacoesdeprotecaotrabalhadores-COVID-19.pdf
3. Bardin L. Análise de Conteúdo Traduzido por Luís Antero Reto, Augusto Pinheiro. São Paulo: Edições 70, 2011.
4. Franco RVB. Equipamentos de proteção individual utilizados por profissionais da saúde na pandemia da covid-19: revisão de escopo. REME - Rev Min Enferm [InternetAvailable from: https://cdn.publisher.gn1.link/reme.org.br/pdf/e1410.pdf
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